22 fevereiro, 2018

A Ideia de Injustiça e a Renda Básica


Querido diário:

Todos sabemos que sou um Doctor of Philosophy, ostentando enorme orgulho em declarar-me especialista em Introdução à Filosofia. E faço minhas incursões pela filosofia econômica e pela filosofia política. E tenho pedigree, pois -sabemos- a universidade que expediu meu diploma de doutor oferece como curso de graduação um programa conhecido pela sigla PPE, que vem a ser "philosophy and political economy". Em outras palavras, sinto-me tri à vontade para filosofar sobre o futuro da humanidade, ou seja, sem futuro basta seguir a tendẽncia atual e, com futuro, deve implantar a renda básica da cidadania.

Então na definição de David Harvey para sociedade justa, há uma lista de requisitos:

1. Desigualdade intrínseca: todos têm direito ao resultado do esforço produtivo, independentemente da contribuição
2. Critério de avaliação dos bens e serviços: valorização em termos de oferta e demanda
3. Necessidade: todos têm direito a igual benefício
4. Direitos herdados: reivindicações relativas à propriedade herdada devem ser relativizadas, pois, por exemplo, o nascimento em uma família abastada pode ser atribuído apenas à sorte
5. Mérito: a remuneração associa‑se ao mérito; por exemplo, estivador e cirurgião querem maior recompensa do que ascensorista e açougueiro
6. Contribuição ao bem comum: quem mais beneficia aos outros pode clamar por mais recompensa
7. Contribuição produtiva efetiva: quem gera mais resultado ganha mais do que quem gera menos
8. Esforços e sacrifícios: quanto maior o esforço, maior a recompensa. 

Eu quero falar apenas no primeiro. Todos têm direito a alguma fração do excedente, mesmo não tendo participado de sua produção. Já justifiquei a validade desta assertiva corrigindo-a. Ou seja, calculei

VA = f(Pop)

isto é o valor adicionado é função da população (ver detalhes aqui) e vi tratar-se de uma relação perfeitamente aceitável: maior população gera mais valor adicionado. Em outras palavras, há uma relação direta entre o tamanho da sociedade e seu nível de vida. Segue-se que, mesmo quem não participa do processo produtivo segue partícipe da sociedade e, como tal, todos têm direito a uma fração do excedente, independentemente de ter contribuído para sua produção. Tal excedente, de outro modo, nem mesmo existiria e assim deve ser dividido entre todos.

Pois falando mais em filosofia política, chego a Amartya Sen e seu livro "The Idea of Justice", em que desde o comecinho, ao citar Charles Dickens, deixa claro ser mais fácil identificarmos situações de injustiça que aqueles em que vigora a justiça. Meus exemplos são a escravatura, a discriminação da mulher, a pedofilia, sabe-se lá que outras mazelas mais. Nada do que é humano me é estranho, mas tem cada uma de corar frade de pedra.

Por que a renda básica é o mecanismo ideal para lidar com este importante requisito da sociedade justa? É flagrante caso de injustiça que se deixe morrer de fomes bebês, velhinhos, crianças, doentes, desempregados, uma vez que eles -mesmo não tendo participado do processo produtivo- são membros natos da sociedade em que vivem.

Defender a implantação da renda básica da cidadania torna-se, deste modo, não apenas um traço distintivo das chapas da verdadeira esquerda como também mostra o aggiornamento do bom-coração da gente que não pensa apenas com os interesses materiais imediatos, mas projeta-se de alguma forma ao futuro, pensa nas gerações futuras.

DdAB

18 fevereiro, 2018

Temer: o vampiro de capa de gibi

Botei estas duas charges no Facebook:

Primeiramente, fora Temer!
Em segundo lugar, reciclaram a faixa:

14 fevereiro, 2018

Erros e Burros: em Porto Alegre


Querido diário:
Acabaram-se as férias. Também pudera, 20 horas de hotel é para cansar qualquer 1. De volta a Porto Alegre, banho, malas, aquelas coisas, dormir, acordar e defrontar-me sobre o capacho do apartamento com um exemplar dela, a Zero Hora, Zero Herra e Zero Burra. É muito jornal para um ex-turista.

Por condicionantes neurológicas (ou coisa pior), recolho-a da prateleira mais adequada (o capacho, hahaha) e abro-a, vejo as manchetes da capa, normalmente o principal para este nanico dos gaúchos é o futebol. Fala-se numa decisão na América. Pensei: "América, USA?" Não era, era o Geromel, jogador do Grêmio, incumbido da "missão de parar o time campeão da Sul-Americana". A Sul-Americana não é, por supuesto, uma estrada de ferro ligando Ushuaia a El Paso, nada disto. Pelo contexto presumo tratar-se de futebol.

Na parte da Política e Diversão, ainda na capa lemos "AINDA SEM SOLUÇÃO. Malas de Geddel podem ter ligação com desvios na Caixa. Créditos de R$ 5,8 bilhões para empresas como JBS estariam na origem dos R$ 51 milhões achados em apartamento do político." Pensei: "Divirto-me (e sofro ainda mais) ao lembrar dos amigos e parentes que saudaram a indignação de Aécio Neves com os resultados da eleição do final de 2014, que o afastaram do cargo a que considerava estar celestialmente aquinhoado: a presidência da república. E que culminaram com o impeachment e as gravações comprometedoras". E continuaram saudando, durante algum tempo, talvez por estupefação com a turma dos "malfeitos" denunciados pela presidenta Dilma, assim que recebeu o cargo do presidente Luis Inácio Lula da Silva em 2010. Até que nem sei bem o que dizem hoje, parece-me não ver nenhuma saída decente: um mea culpa, uma declaração de burrice, uma declaração de patriotismo e confissão de ingenuidade ao acreditar em contos da Carochinha em plena posse de sua maioridade penal.

Pois tem mais assuntos na capa que não vou comentar, mas ainda faltam dois. O primeiro fala no Rio Grande do Sul, além do Geromel. Agora lemos: "Piratini conta com extinção de fundações até metade de abril. Governo quer encerrar atividades de oito instituições como parte de seu plano de redução de despesas. Servidores amparados por liminar reivindicam estabilidade e seguem trabalhando em outras funções." Claro que já dá pra ver que é uma mensagem abobada, aburrada, pois o pessoal da FEE, de quem mais entendo, está trabalhando nas mesmíssimas funções: fazer o número falar sobre a sociedade gaúcha. Que pensei? "Esses caras só podem estar exercitando mesmo é uma vingança pessoal. Ou atendendo a interesses pecuniários que lhes foram evidenciados por criteriosas análises de custo-benefício sobre o enriquecimento patrimonial do estado gaúcho e de seus -atrevo-me a acrescentar- mais diletos servidores, o trio Carlos Búrigo, Cleber Benvegnú e Márcio Biolchi, com suas polpudas pecúnias de funções gratificadas ou cargos comissionados."

Lembra? Estava recolhendo o jornal do capacho, também seguindo hábito milenar, passei a olhar a quarta-capa. Nem sempre vou ao dropszinho

A única certeza do brasileiro é o Carnaval no próximo ano." 
Graciliano Ramos, escritor brasileiro (1892-1953).

Achei super-pertinente. E vou falar sobre o futuro do país em breve, pois ferve-me o sangue um artigo da Carta Capital (que também por motivo ódio designo por Capital dos Carta) fazendo comparações entre as estruturas das economias da Austrália, do Canadá e do Brasil. Vou selecionar algumas afirmações e dissecá-las à luz da teoria do modelo de insumo-produto e do marco analítico mais amplo que compus nestes 55 anos de estudo da economia, valendo-me de outras estatísticas relevantes da Wikipedia. Vou citar apenas uma que olharei agora mesmo: índices de Gini da distribuição da renda: Austrália: 0,336; Canadá: 0,316; Brasilzão: 0,513. Claro que precisaria qualificar mais um e outro, mas ainda assim é diferença vergonhosa. Li o artigo, não li o trabalho dos economistas da UFMG. Mas li:

SOUZA, Jessé (2015) A tolice da inteligência brasileira; ou como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo: LeYa.

E tirei uma conclusão que nem precisava ter lido: ele -Jessé- diz que a tolice é pensar o Brasil de tudo que é jeito, de cima pra baixo, de baixo pra cima de um lado pro outro, do outro para um terceiro, da justiça ao crime com qualquer tipo de categorização que não a desigualdade. A bronca por aqui é dois terços mais desigual que os cândidos países exportadores de produtos primários, nomeadamente, a Austrália e o Canadá, países -como sabemos- de grande extensão territorial. Países, como sabemos, com terras comprometidas para o uso agrícola pela presença de muito gelo ou muita areia. Mas até de areia, nóis pode falar comhttp://turismo.guiamais.com.br/cidades/porto-alegrehttp://turismo.guiamais.com.br/cidades/porto-alegre exação, pois também temo nossos deserto no Alegrete, né, sô?

Ok, ok. Dei mais umas olhada na quarta capa e destacou-se: "CAROLINA BAHIA. O governo Micher Temer volta do Carnaval com a imagem ainda mais desgastada. Página 21." Claro que marquei na paleta. Parece-me que a Carolina faz parte daquela troupe que achava que, com o impeachment da presidenta Dila a linha sucessória apontava para o Papa Francisco.

Segui altaneiro. Página 2, Túlio MIlman, um senhor que às vezes diverte-me, às vezes incomoda e que não hesito em classificar como intrinsecamente reacionário, até no inconsciente: tá aqui uma propaganda subliminar, de seus sonhos a sua digitação: "CAINDO DE MADURO. Uma investigação séria e profunda no mundo dos livros escolares no Brasil seria um serviço à nação." Maduro? O rapaz é contra o bolivarianismo, por razões de direita, digo eu, que sou crítico feroz, olhando o espetáculo pela esquerda. Em minha opinião, o Brasil precisa de investigações sérias e profundas em tantas dimensões da vida comunitária que nem sei bem onde começar. Atrevo-me a propor o fechamento dos estados, assembleias, senado e poder judiciário. E fazer esta investigação já aos cuidados da empresa júnior vinculada a alguma universidade europeia, que tomaria como medida inicial (logo, seria a minha segunda) a implantação da renda básica, evitando o roubo.

E o resto do Túlio da página 2? Em outro box, ele diz: "TROLAGEM. A máquina de destruição de reputações montada no Brasil acaba afastando potenciais bons candidatos da política." Precisa comentar? Luciano Hulk, Pelé, Sílvio Santos, Amarildo (que jogou 1962 no Chile), Zagalo? E não seria função da imprensa precisamente investigar a vida social de neguinhos como os que citei, mais Bolsonaro, e por aí vai?

Pois bem, aí pulei para a página 10, ou melhor, fui lendo e achando tudo muito como direi... Na página 10, tem o que pode ser uma boa notícia ou péssima, vai saber. Fala-se em "NOTÍCIAS. ECONOMIA. Após quatro anos, vendas de carros mais baratos voltam a aumentar." Tomara. E pulei para a página 12. Aí a baixaria segue muito além de Zero Herra. Fala-se do gol-a-gol do supremo tribunal em matéria de questões controversas. Agora estamos vendo o auê dessa corte com aquela decisão de 2016 que me pareceu puro casuísmo: condenado em segunda instância não pode concorrer a eleições e pode ir para a cadeia. Era ou http://turismo.guiamais.com.br/cidades/porto-alegrenão era destinada a meter Lula no xilindró? E agora? Há, segundo o jornal, cinco ministros que consideram oportuno manter o casuísmo, pois chegou a hora H: meter Lula na cadeia. São eles: Alexandre Moraes, Carmem Lúcia, Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux. Votam com compreensão contrária: Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski. Deu 5x5. Falta o voto de "ditadora esclarecida" de que nos fala Kenneth Arrow para a sra. Rosa Weber. A boa notícia para a candidatura de Lula é que, lá naquele 2016, ela votou contra esse negócio de condenar sem ter passado em julgado a última possibilidade de defesa do réu. Diz o jornal, e o Planeta 23 tá com ele, a Zero Hora, que ela tem dado sinais de que vai mudar de opinião. Ou seja, casuísmo dentro do casuísmo.

Na página 16, não sei se me alegro ou choro de tristeza pela bola fora do repórter interino da seção Campo Aberto. Eis a manchete principal: "ONDE FAZ SECA, CHUVA VAI SER ESCASSA". Pensei: "e, provavelmente, onde faz chuva a seca é que se faz escassa." Parei por aí. Mas fui dar uma olhada, claro, no restante do jornal e deparei-me com a coluna a que já referi, mas agora li, de Carolina Bahia. Vou citar apenas um trechinho responsável pela queda de todos os butiás que eu armazenava nos bolsos: "Aliados do presidente ainda sustentam que,http://turismo.guiamais.com.br/cidades/porto-alegrehttp://turismo.guiamais.com.br/cidades/porto-alegre se a economia reagir até abril, Temer poderá se candidatar à Presidência da República." Pensei, dispensei, tornei a pensar e caí na gargalhada.

Depois, na página 36, lemos a PIADA DO DIA: Por que o decorador foi ao médico? Para resolver um problema 'de coração'!

DdAB
A imagem saiu daqui. É Porto Alegre, é nóis.

12 fevereiro, 2018

Bixos e Bichas (ensaio filosófico)


Querido diário:
Lisboa tem o rio Tejo. O Tejo tem Almada, a cidade "do outro lado do rio". No outro lado do rio, há um restaurante com o atrativo nome de Atira-te ao Rio. A comida é "de dar urros", conforme andei ouvindo aqui mesmo há 40 anos. E lá fui há quatro. E, no devido tempo, voltarei. Vejamos o que é "devido" nestes casos. Depois informo.

Falando em eventos de "tempos atrás", lembrei que, nos meus tempos, isto é, nos tempos em que eu era pré-adolescente, falava-se no Brasil que eu tateava em "entrar na bicha", algo assim, significando "entrar na fila". Anos depois, já abandonando a adolescência, no vestibular, fui saudado como "bixo". Vim a saber -ou inferir- que bixo era o cara que passava no vestibular e não sabia nem escrever, na verdade, os veteranos consideravam todos nesta categoria. Pois então: bicha pra lá e bixo pra cá.

Em compensação, há muito tempo venho-me declarando especialista em introdução à filosofia, apesar de carregar o título de doctor of philosophy, um exagero na titulação que me foi dada por trabalhar com bichas, quero dizer, com filas, ou melhor, com linhas e colunas das matrizes de insumo-produto da economia brasileira. Nesta linha de especialista, aqui em Lisboa (que deixarei amanhã) comprei o livro

ALMEIDA, Aires e MURCHO, Desidério (2014) Janelas para a filosofia. Lisboa: Gradiva. (Coleção Filosofia Aberta, 26).

E li-lhe (lilhe, porca pipa?), em plena página 47 -precisamente meu ano de nascimento-  algo filosófico:

   Imagine-se que a Daniela defende que as mulheres devem ter privilégios especiais. Por exemplo, quando estamos na bicha para comprar bilhetes para o cinema, as mulheres devem entrar primeiro.

Strange days indeed!

Primeiro, considero que as mulheres devem ter tratamento especial, por exemplo, por parte dos arquitetos e das arquitetas ao desenharem banheiros de locais de grande afluxo de gente de ambos os sexos. É inquietante a desproporção e as consequentes filas que se avolumam nas portas dos banheiros femininos, contempladas por meia dúzia de gatos pingados masculinos que estão ali na também (mas bem menos) desagradável função de esperar suas caras-metade. Minha filosofia a respeito do assunto é: se não conseguimos arrumar equilíbrio no tempo de uso dos banheiros, que dizer de montarmos uma eficiente indústria (serviço industrial de utilidade pública) provendo água e esgoto a todos os brasileiros. É que tem, responde meu pragmatismo, o fetichismo industrial: a negadinha acha que esse negócio de desindustrialização precisa ser corrigido com nova industrialização. Eu sempre, investido de meu sorrisinho de mofa, fico imaginando que, se industrializarem novamente, então é que vai melhorar a estrambótica distribuição da renda e da riqueza. Acho que mais sensato é começarmos mesmo com os banheiros das mulheres e esgotos para todos.

Segundo, como sabe quem me acompanha, costumo ficar, durante as férias, 20 horas diárias dentro do hotel. Pra tanto tempo, precisa de tanta diversão. Então tenho visto, no inverno português, incontáveis filmes legendados com vários James Bonds: tantas palavras diferentes no português das legendas que volta e meia preciso é do contrário: ouvir o original em inglês para ter uma ideia da próxima façanha de nosso eterno herói.

Terceiro, apenas nesta viagem é que me dei conta de que "descer" aqui pronuncia-se "desxer" ou apenas "dexer", sei lá, que meus ouvidos, no inverno, passam frio. Esta constatação fez-me voltar a odiar os dromedários linguísticos que pensam em "unificação linguística". Eles, esses bandidos, que estragaram meu livro "O Pequeno Príncipe", de pré-adolescente. E de pós-adolescente o "Morte e Vida Severina (e outros poemas em voz alta)" de João Cabral de Mello Neto.

Que faço? Volto ao Brasil para voltar a incomodar-me com as coisas d'além mar?

DdAB

05 fevereiro, 2018

Lula lá e sem robá


Querido diário:

Lisboa tá na boa. A gente, hoje em dia, tá mais por dentro das coisas do Brasil que quando está por lá mesmo. Aqui, com 20 horas de hotel e apenas quatro de rua, dá para olhar tudo que é jornal em papel e milhares de sites de notícias da internet. Pois foi do Facebook que retirei a seguinte lista, encaminhada de um terceiro que não identifiquei por Maria Lúcia Sampaio e endossada por Elisabete Otero e Sonia Blauth Slavutzky.

O texto não é meu, mas assino junto: "Um amigo me perguntou.
Por que tanto fanatismo com Lula, por que tanta gente no seu julgamento em porto Alegre?
Eu respondi o seguinte: eu acho que é pelos programas lançados em seu governo quando era Presidente da República. O amigo então perguntou: Qual programa por exemplo ?
Perguntei se ele estava com tempo pra que eu falasse de alguns desses programas, ele disse que era domingo e tava liberado.
Então vamos lá meu amigo.

01) Fies
02) Pronatec
03) Prouni
04) Ciência sem Fronteiras
05) Mais Médicos
06) Farmácia Popular
07) Minha Casa, Minha Vida
08) Bolsa Família
09) Cisternas no sertão
10) Luz para Todos
11) Transposição do Rio São Francisco
12) Reativação do Transporte Ferroviário
13) Ferrovia Norte-Sul
14) Ferrovia Transnordestina
15) Aumento do salário mínimo acima da inflação
16) Água para Todos
17) Brasil Sorridente
18) Pronaf
19) FAT
20) Programa Brasil Sem Miséria
21) Bolsa Atleta
22) Bolsa Estiagem
23) Bolsa Verde
24) Bolsa-escola
25) Brasil Carinhoso
26) Pontos de Cultura
27) Programa Biodiesel
28) SUS
29) SAMU/UPAS
30  Saúde da Família
31) FGEDUC (Seguro do FIES)
32) Casa da Mulher Brasileira
33) Aprendiz na Micro e Pequena Empresa
34) MEI Microempreendedores Individuais
35) Pagamento da Dívida Externa ao FMI
36) Empréstimo ao FMI
37) BRICS
38) Retirada pela ONU do Brasil do Mapa da Fome
39) Reequipagem, Valorização e Autonomia da Polícia Federal
40) Liberdade para a PGR
41) Liberdade para o MP
42) Escolha para os órgãos da Justiça dos primeiros das listas das corporações
43) Jogos Pan-americanos
44) Copa do Mundo
45) Olimpíadas
46) 98 conferências nacionais de 43 áreas, como educação, juventude, saúde, cidades, mulheres, comunicação, direitos LGBT, entre outras.
47) Orçamento para a Cultura cresceu de R$ 276,4 milhões em 2002 para R$ 3,27 bilhões em 2014
48) Vale-cultura
49) Programa Cultura Viva
50) Programa Mais Cultura nas Escolas
51) PND - Política Nacional de Defesa - Investimentos em defesa cresceram dez vezes: de R$ 900 milhões em 2003 para R$ 8,9 bilhões em 2013
52) Participação das FFAA em 11 missões militares de paz da ONU
53) Projeto Submarino Nuclear
54) Modernização da frota de aeronaves da FAB com transferência da tecnologia
55) Pré-sal
56) Redução de 79% do desmatamento da Amazônia brasileira
57) Aumento em mais de 50% da extensão total de área florestal protegida.
58) Liderança mundial em redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Entre 2010 e 2013, o Brasil deixou de lançar na atmosfera uma média de 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
59) Valorização do polo naval
60) Refinaria Abreu e Lima
61) Novas usinas hidrelétricas: Teles Pires, Belo Monte, São Manoel, Santo Antônio, Jirau, São Luiz do Tapajós
62) Conferência Mundial Rio+20
63) PPP
64) PAC
65) Aumento exponencial do parque eólico brasileiro
66) Polos de desenvolvimento NE: Suape PE, Pecém CE e Camaçari BA: Investimentos somam cerca de R$ 100 bilhões.
O Governo tinha dinheiro para todos estes programas e projetos e ainda deixou um caixa mais de US$ 371 bilhões.

Que mais? Em 19/jan/2020, acrescentei o Portal da Transparência.

Digo eu: Lula lá! E sem robá!!!

DdAB
Realizações do lulismo. Lista também compartilhada por Santa Irene Lopes de Araújo.

04 fevereiro, 2018

Despois Nóis Pega os Pexe com a Acinatura do Mindingo que Caminhou Cunós

Querido diário:

E-MAIL DE DdAB
Tempos atrás, quando recebi a revista da FAPESP, "Pesquisa". Constatei nas páginas 30-35 uma longa entrevista com o prof. Ataliba Teixeira de Castilho, linguista com passagem pelas grandes universidades paulistas. Título: "O Linguista Libertário" (Setembro de 2017. Ano 18 n. 259). Por esse tempo, escrevi o seguinte e-mail ao prof. Conrado de Abreu Chagas:

Sabes, Conrado, que foi contigo (menos que com a Suzzie) que comecei a entender que língua brasileira é mais real que a portuguesa e, se me atenho/ative à segunda, devo/devia a meu conservadorismo. Por exemplo, eu escrevia: "tenho-me ocupado..." A Editora Saraiva, de meu livro de Teoria dos Jogos (na co-autoria com Brena Fernandez), tirou essa -palavra que também aprendi contigo- cliticização. E fui vendo outras mudanças, como o início de frase com pronome átono. Nesta brasilização eu não caí, pois tinha criado o movimento "Me Faz Próclise, Te Chamo de Castelhano", o MeFaz. Mas tenho tentado reduzir a rigidez, sei lá.

Pois então, na página 33, lemos:
"[...] Um linguista norte-americano, Daniel Everett, veio para a Unicamp nos anos 1970 e depois estudou a língua da comunidade pirahã no Amazonas. Ele entrou em conflito com o linguista norte-americano Noam Chomsky, que dizia que o que chamamos de recursão era universal. Recursão é a possibilidade de aplicar uma regra repetidas vezes na construção das frases. Em português, toda vez que quero colocar um plural, coloco um sNo entanto, Everett não encontrou recursividade na língua dos pirahã, que também não tem palavras para números e cores. Chomsky teve de admitir a exceção à regra que ele imaginava ser geral."

​Claro que fiquei apuzzilado (gostou?, kkk) com este negócio anti-Chomsky. Pois bem, o registro fi-lo (hehehe) agora. E então passo a meu primeiro assunto.

Misturo-os, para iniciar. O bom velhinho fala na língua culta e parece que é um dos criadores daquele NURC onde a Suzzie trabalhou em tenra infância. E eu sempre tive presente essa encrenca de que a língua culta é falada pelos ricos e os pobres invejam os ricos...

Um animal que afrontou-a foi o juiz Sérgio Moro, que escreveu na sentença do Lula: "considerou-se muitas razões". Condenou um inocente, claro... Eu também tinha uma citação do ladrão Ruy Barbosa com esse "erro" de concordância verbal, sei lá.

Pois eu reconheço que novas línguas surgem, quase sempre baseadas em línguas anteriormente existentes. E fico a indagar-me qual é o momento em que podemos falar na inauguração. Lembro que Stephen Pinker falou na língua de sinais de surdo-mudos que as crianças nicaraguenses estavam criando rapidamente quando foram colocadas em contato, assim que a revolução começou a agir.

Mas entendo que expressões como "nóis pega os pexe", "despois", "ansim", "eu trúxi", "caminhou cunós", "mindingo", "nóis vai", "ele cabeu", "rúbrica", "a marida".

RESPOSTA DO PROF. CONRADO DE ABREU CHAGAS

Bom, o negócio com o Chomsky é simples. Ao longo de seu desenvolvimento, a chamada Teoria Gerativa passou por várias fases. A razão se deverá ao grau de generalização, à elegância do modelo, etc. O primeiro trabalho de Chomsky sobre Linguística remonta a 1955, ano em que escreveu sua tese de doutorado sob a orientação de Harris. Ninguém sabia muito bem o que fazer com aquilo que ali vinha exposto. Não parecia pertencer ao campo até então conhecido como Linguística. Em 1957, ele publica como que um resumo da tese num livrinho chamado Syntactic Structures, recentemente retraduzido para o português, com notas e tudo mais, por aquele que será possivelmente nosso melhor sintaticista brasileiro, o Prof. Sérgio de Moura Menuzzi, atual diretor da Faculdade de Letras da UFRGS. Nesse livro, Chomsky, de modo bastante elegante, resolve um dos problemas mais curiosos da gramática inglesa, que é o uso do auxiliar DO. Para ele, em lugar de uma frase (uma "sentence") em inglês conter tão somente sujeito e predicado, isto é, um SN (sintagma nominal) e SV (sintagma verbal), haveria também uma categoria intermediária, que ele denomina AUX, a qual abriga, basicamente, os verbos "auxiliares" DO, BE e HAVE. Sabemos que o inglês é uma língua que, nas negativas, traz o elemento negativo na posição pós-verbal, assim como o alemão e o francês contemporâneo falado, por exemplo. Vejamos:

1. Ich verstehe NICHT
2. Je comprends PAS
3. *I understand NOT
4. I do NOT understand
5. She does NOT understand
6. She understands
7. Does she understand?

A frase em (3) é hoje bastante restrita em inglês, havendo mesmo quem a considere agramatical (daí o asterisco). Foi ela, porém, a norma até os séculos XV e XVI. Mas em 1957 Chomsky não considera esses aspectos históricos. Apenas constata que, no inglês, em lugar de (3), a norma é (4). O verbo DO ocuparia assim a posição AUX. Além disso, comparando (5) com (6), propõe que o advérbio negativo NOT é o que impede que a desinência -s possa mover-se até o verbo principal, o mesmo ocorrendo com o pronome SHE em (7). Seu entendimento é o de que, para que a desinência -s possa mover-se até o verbo principal, AUX e V devem estar "adjacentes", ou seja, não deve haver nada in between. Quando essa adjacência não se verifica, existe uma regra de inserção de DO, o qual funcionaria como um "suporte" para a desinência.

Essa teoria acerca do DO, com a criação de uma categoria abstrata AUX, dá início à distinção que Chomsky aprofundará em 1965, em seu livro Aspects of the Theory of Syntax, entre "estrutura profunda" e "estrutura superficial". Sua ideia então é buscar entender a gramática com a qual nascemos e a qual nos permite aprender não importa que língua em tão curto espaço de tempo quando somos crianças. Porém, formalmente, isso só poderá ser feito a partir das pesquisas realizadas ao longo dos anos 70 (realizadas por ele e por seus já então numerosos colaboradores), as quais apresenta numa séria de "palestras", num livro que se chamará Lectures on Government and Binding (1981). Chegamos aqui no que veio a ser conhecido como a Teoria dos Princípios e Parâmetros, uma teoria de muita elegância e que teve descobertas deveras importantes. Parei de acompanhá-lo quando teve início o que veio a ser conhecido como Teoria Minimalista, pois me pareceu demasiado abstrata e em todo caso não dava conta, até onde eu podia ver, das questões específicas com as quais eu então lidava.

Mas a questão do método científico ao longo da Teoria Gerativa foi sempre aquele de inspiração popperiana, isto é, o "dedutivo". Isso quer dizer que as ideias são lançadas, delas fazendo-se generalizações, para a seguir, caso encontremos algum "cisne negro", dar volta atrás e rearranjar a teoria, e assim vai a valsa.

Muitos criticam Chomsky por ater-se à língua inglesa, no sentido de suas ideias sempre partirem dessa língua. E mais: de um, digamos, "dialeto" dessa língua, que é aquele usado por pessoas altamente educadas do nordeste dos Estados Unidos. Isso parece correto. Mas sempre será necessário observar que houve e ainda há pesquisadores "gerativos" em todos os cantos do globo, trabalhando com as línguas as mais variadas, inclusive as linguagens dos surdos.


Por tudo isto, pela enorme erudição do cara é que tenho um marcador de postagens só para ele!

DdAB
A imagem lá de cima é de Conrado Abreu Chagas e recolhi-a do mural do Facebook de Moca dos Santos.