22 novembro, 2017

Segurança: repressão é prevenção...


Querido diário:

Meu grande medo é levar a que se pense que sou homem da repressão, enquanto que sou mesmo é devotado a fazer os elogios da prevenção. Mas não posso negar que anos atrás, quando Olívio Dutra foi candidato do PT a governador do Rio Grande do Sul, perdendo a eleição para Antonio Brito, sugeri a alguém de respeito que a plataforma de governo de Olívio oferecesse um milhão de empregos na Brigada Militar, a força pública do Rio Grande do Sul. Não lhe falaram, não ofereceu, não se elegeu. Quando, depois se elegeu, não lhe falaram, não criou empregos, não se reelegeu (teve a candidatura roubada por um oportunista, que não criou o milhão de empregos e não se elegeu).

Então vejamos o texto:

À noite passei montanhas de roupa até que acabassem os programas do rádio, o aparelho continuou a assobiar, o guarda passou rindo mela minha janela aberta e disse já é tarde Rahel.

Muita coisa a comentar. Primeiro: de onde vem esta sentença. Segundo, Rahel passava roupa. Terceiro, era de noite, era tempo em que se ouvia rádio transmitindo durante parte da noite, tempo em que rádios assobiavam quando nada havia de sinal para sobrepor-se à estática e seus ruídos entrópicos. Havia um guarda circulando entre as janelas. O guarda ria, talvez dos assobios do rádio sem programação, talvez do fato de que Rahel ainda estava de janela aberta, ou passando roupa, ou acordada. Rahel? Pois é, Rahel, sim.

Pois então. Se havia um guarda noturno, é certo que havia pelo menos um emprego de guarda noturno, um passo igualitário na vida do kibutz. Se por conjunturas sinuosas, contingentes, devidas ao aprêmio em que se vive no terceiro planeta de sol, um quibutsin andasse acolherando-se com amigos do alheio, ele teria duas possibilidades: segue roubando, ingressa no serviço noturno de vigilância. Seu emprego seria resolvido e ele passaria a ajudar a reprimir as investidas sobre o patrimônio alheio, inclusive sobre os que poderiam provocar algum sobressalto na vida noturna da irmã de Ilana.

O livro é "A Caixa-Preta", de Amós Oz, minha primeira leitura lá dele. Lerei mais, um intelectual judeu de respeito. Eu respeito intelectuais de vários matizes, mas um judeu de esquerda vivendo a vida contemporânea de Israel é algo que me interessa. Página 182, Companhia de Bolso. Preço conveniente para quem está acostumado aos preços relativos brasileiros, preços condenatórios de uma distribuição de renda escalafobética.

Esta internet! Olha aqui o que Rahel tem a ver. Eu bem que adivinhava: Raquel. E olha aqui mesmo Duilio.

DdAB
P.S. traço bibliográfico: escrevi aquele "aprêmio" ali em cima e o Google disse estar errado. Fui aos dicionários eletrônicos e também nada havia de registro. Então encarei o Aurelião de papel e tem algo como "premir", ou seja, minhas lembranças fizeram-me aludir aos apertos que vivem quem por aqui orbita.


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