21 setembro, 2017

Zero Hora e o Igualitarismo


Querido diário:

Todos sabem que, desde que Américo Pisca-Pisca reformou a natureza, tenho o maior respeito pelos jornais em papel, destacando Zero Hora, que leio diariamente com galhardia. Pois numa notável prova de mudança em sua linha editorial, na página 4 do exemplar de hoje lemos uma nota de extraordinário conteúdo igualitarista.

Pra bom leitor, meia palavra basta. E para leitores outstanding traços coloridinhos sobre o papel também bastam. É precisamente este o caso a que devo agora recorrer: meu nome tá escritinho no final do cabeçalho em que mal-lemos o "Entre Leitores". Meu nome, o impecável diretor do Planeta 23. Pois então. Lá vai o início do assunto.

Na edição dos dias 17 e 18 do mês em que a primavera começa a correr (e nós para o inexorável fim-de-ano), a mesma seção (nomeadamente, "Leitor") de ZH publicou um comentário:

CAMELÔS
   Seguidamente, leio aqui no espaço do leitor críticas sobre a atuação dos camelôs nas ruas de Porto Alegre. Acho que as ruas devem permanecer livres para os pedestres, mas temos que levar em conta que os camelôs são seres humanos e que necessitam de dinheiro para viver. Não seria pior se eles estivessem assaltando os pedestres ou invadindo as nossas residências?
JORGE G. COUTO
Professor aposentado - Porto Alegre

No domingo que nos foge, aproveitei a emoção que tomou conta de meu coração e garrei de escrever para essa mesma seção:

ENTRE LEITORES
   Humanitário e criterioso o comentário do prof. Jorge G. Couto na ZH de 16 e 17/set sobre "a atuação de camelôs" em Porto Alegre. Dada a absoluta incapacidade do mercado em trabalho de absorver esses excedentes populacionais, a solução advirá da criação da oferta de uma colocação que lhes propicie renda e condições tão atraentes que as retirem da informalidade. O único agente capaz de resolver este problema é o governo, designado na literatura igualitarista como empregador de última instância. Bem ao contrário do que vemos recitado pelas cartilhas da atualidade.

DUILIO DE AVILA BERNI
Professor aposentado - Porto Alegre 

Baseando-me nas lições do "Ulysses", de James Joyce (ver dezenas de postagens com o tema), para quem já há escritas mais de dois milhões e meia de vezes mais conteúdo que a publicação original de 1922, meu texto é um tanto maior que o comentário do colega professor Jorge.

Costumo referir-me com frequência a este jornal, que escolhi para demarcar minha agenda d'"O que vai pelo mundo" (título de um jornal cinematográfico de minha adolescência). O mundo, desde que o acompanho, vai de mal-a-pior. E, no imediato pós-adolescência, caiu-me a ficha da causa das mazelas que me afligiam: a desigualdade. Talvez a religiosidade da família, a precípua doutrinação que recebi de um primo, minha própria observação de meu estilo de vida comparado com o de amigos mais pobres, de meu estilo de vida comparado com o dos mais ricos (com quem sempre tive contato superficial, não por falta de vontade, mas por falta de roupas adequadas, hehehe), talvez por tudo isto e sua mistura e sua inequação é que me tornei um jovem igualitarista.

Ao convencer o jornal Zero Hora de que este é o caminho da redenção mundial, espero que ela comece a alardear, asap, a implantação gradativa do governo mundial para lidar com:

.a a deterioração ambiental
.b o tráfico de armas
.c o tráfico de drogas
.d o tráfico de pessoas
.e o tráfico de dinheiro

Nem falo na explosão demográfica que me parece há de fenecer precisamente ao se implantarem os projetos de renda básica (incondicional) e renda de atração ao serviço municipal, quando novos contingentes de trabalhadores recusados terminantemente pelo mercado de trabalho poderão associar-se à geleia geral do trabalho social e acabar com a folga dos deterioradores do meio-ambiente e dos traficantes de armas, drogas, pessoas e dinheiro.

DdAB

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