19 março, 2017

Tolstoi, o Marginalismo e a Vida que a Gente Escolheu


Querido diário:

Poucos tempos atrás andei fazendo umas viajações sobre o livro Machado, de Silviano Santiago, espantosa peça de ficção, realidade, crítica social e tudo o mais que podemos esperar de um romance moderno. Por razões ligadas à vida e suas peculiaridades, também li recentemente:

TOLSTOI, Leon A morte de Ivan Ilitch. Porto Alegre: L&PM, 1997.

É um spoiler avant la lettre, pois tá na cara que o dr. Ivan vai dançar, o que se conforma já na primeira página da novela, quando se lê um aviso fúnebre da "passagem" do rapaz.

Lendo o livro, vi o trecho que segue, prova incontestável da relevância do conceito de mudança na margem. Este conceito, que aplicamos em nossa vida cotidiana muitas vezes ao dia, é também importante, fundamental, para a teoria da evolução. E, por sermos seres evolucionários que vivem um dia de cada vez cotidianamente, importante e fundamental também para a ciência econômica. Não lembro quem [acho que foi Peter Bernstein] que disse tratar-se da maior contribuição da profissão de economista para a humanidade:

Página 50
O progresso de sua doença [isto é, de Ivan] era tão mínimo que, ao comparar um dia com o outro, seria capaz de enganar-se, tão sutil era a diferença.

Retomo a palavra: a chave da evolução é uma sequência longa de "mudanças incrementais e sucessivas". É isto.

Página 95-6
Ocorreu-lhe, pela primeira vez, o que lhe tinha parecido totalmente impossível antes - que ele não teria vivido como deveria.

Retomo: há muitos anos, uns 40, muito ouvi um dos dois discos do trio Sá, Rodrix e Garabira, em que cantam a "Primeira Canção da Estrada" e, a certa altura, dizem que desejam voltar a casa, "pra descansar um pouco da vida que a gente escolheu". E, desde então, esforço-me precisamente para viver a vida que escolhi. Volta e meia tive revezes, mas -em linhas gerais- já aposentado há quase dez anos e cheio de realizações, costumo dizer que vivi (e vivo) a vida que escolhi. Claro que gostaria de ter feito mais, mas não gostaria de ter mudado o rumo substancial: economista, professor, corredor de rua, essas coisas.

DdAB
P. S. A propósito da imagem que veio daqui: eu escolhi morar por lá, mas não vai dar pedal...

P.S.S. O site "Brasil 247" diz: Florestan aponta interesse dos EUA na destruição do Brasil http://bit.ly/2mDz08X "Três concorrentes brasileiros incomodavam os EUA: Petróleo, Empreiteiras e industria de Embutidos (salsichas, presuntos, linguiças etc)", diz o jornalista Florestan Fernandes Júnior.

Eu escrevi:
Então imagino que a CIA enrustiu espiões nas administrações de grandes empresas destes três setores, pois não é concebível que se queira alcançar liderança mundial na base da falsificação de produtos.

Não quero dizer que isto não seja feito, volta e meia, também pelas empresas dos países capitalistas avançados. Vejamos, por exemplo, a Volkswagen e a adulteração dos exames de controle de gases poluidores. Com isso, ela incidiu em enormes prejuízos e uma devassa na diretoria. 

O que não pode ser admissível é pensarmos no desenvolvimento brasileiro, especialmente se for apoiado com dinheiro público -cujo custo de oportunidade, como sabemos, pode ser medido em gasto nas escolas, saneamento, saúde.

Um carinha escreveu:
vai devagar... não se sabe nada sobre o que ocorreu de fato. Até agora só o vazado pelos interessados em claramente destruir outro setor nacional...

E respondi a ele:
Vamos devagar, então, Jonas. Como poderíamos saber que há conspiração para destruir os interesses nacionais? A busca de cobertura para as informações que a gente incorpora é fundamental, nos dias que correm. Olhei o que pude, chequei o que pude e concluí haver irregularidades.

Acho até que há outras questões envolvidas, no caso, a ausência de fiscalização decente em toda a indústria de alimentos. Aqui no RGS não há nada de mais vergonhoso que as costumeiras fraudes de adulteração do leite e derivados. Até na produção de cachaça os jornais de alguns anos atrás apontaram fraudes. 

Um governante falou que faltam 1.500 fiscais em todo o Brasil. Eu já vou dizendo que não faria nenhum mal para a sociedade brasileira se fossem 1.500.000 fiscais. Empresa produzindo alimentos é que não falta. As padarias também volta e meia são acusadas de meter produtos químicos nocivos à saúde humana e animal. E por aí vai...

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