10 março, 2017

Repercussões da Revista Cláudia

Querido diário:
Instigantes repercussões de minha postagem de ontem no blog, falando da angelical revista "Cláudia", destacando o comentário de

Josevaldo Duarte Gueiros (que, se não gostar disto aqui, removo instantaneamente):

Duilio, excelente e instigante análise. Você mostrou como ler revistas do tipo "Cláudia" de forma crítica e bem humorada. Li cada palavra.

Duilio De Avila Berni:
Obrigado, querido. Meu teste em tira algo de útil do fútil é feito diariamente quando leio o jornal que chamo de Zero Herra, um dos nanicos de Porto Alegre.

E mais:

Josevaldo Duarte Gueiros:
Duas indagações que coloco. Não sei se as perguntas são adequadas, mas seguem: 1) o que é teoria da escolha pública? e 2) qual a vantagem de um governo mundial e de um sistema parlamentarista

Inspirei-me, comecei a responder lá, comecei a alongar-me e decidi transferir para cá:

... Por outro lado, hehehe, tenho recebido de você cada pergunta mais difícil de responder. Primeiro, mais fácil, cito 'par coeur'. A teoria da escolha pública é um ramo de interseção entre a ciência econômica e a ciência política. Em boa medida, aplica à análise da política o instrumental desenvolvido pela ciência econômica, ou parte dele. Difere do marxismo, pois não dá lugar central à luta de classes. Seu suposto fundamental é que os políticos têm objetivo similar às empresas, ambicionando maximizar seu número de votos, ou -o que é assemelhado- manterem-se no poder. Muita gente de esquerda a despreza, pois ela partiu de uma simetrização das conhecidas e catalogadas falhas de mercado, sugerindo que a substituição deste pelo governo também hão de enfrentar as falhas de governo. Entre estas, vemos a formação de lobbies, a troca de votos, o nepotismo, o tráfico de influência, e mais meia dúzia de outros vícios. Vendo o mundo sob uma perspectiva de esquerda, costumo dizer que precisamos estudar a 'escolha pública' para dar a verdadeira dimensão às atividades de mercado e também às do governo. Fui convencido de que o melhor que o governo pode fazer é a provisão de bens públicos (segurança, diplomacia) e de mérito (educação, saúde) e não necessariamente (ao contrário) produzi-los.

Adendo um: aprendi que a sociedade tem três instâncias principais de agregar suas preferências - o mercado, o estado e a comunidade (esta, sempre lembro, talvez personifique o que Marx chamava de 'produtores independentes livremente associados'). E quanto mais for delegado para o mercado ou a comunidade, melhor para a sanidade da vida social, até o ponto em que 'o governo dos homens será substituído pela administração das coisas'.

Adendo 2: nada do que foi dito até aqui nega a importância da luta de classes, ao contrário, até permite colocarmos o governo/estado como seu algoz.

Sobre o governo mundial: hoje vivemos num mundo muito mais integrado do que aquele que testemunhou o surgimento do estado nacional. Dizem que o desastre atômico de Chernobyl foi determinante para entendermos a interdependência. Muitos dizem que o processo acelerou-se com o navio a vapor, mas ainda antes disso temos o saboroso livro "1491", ou seja, um ano antes da chegada de Colombo, que faz um balanço do avanço da Europa sobre a América em termos de ecologia, política e economia. Hoje em dia, parece óbvio que a lavagem de dinheiro, o tráfico de armas, de drogas e de pessoas clamam por uma autoridade central que impeça a ação desses caroneiros (outro conceito técnico).

Sobre o parlamentarismo: tem muita literatura sobre o assunto e que até foge um pouco de minha área de leituras. Ainda assim, falo com brevidade, dado que não sou analfabeto, de qualquer jeito, e também já vivi crises institucionais que me levaram a entender que as instituições muito se beneficiariam da ausência de golpe contra João Goulart em 1964, contra o impeachment de Collor em 1992 e o de Dilma em 2016. Trocar primeiro ministro é muito menos custoso do que qualquer desses três abalos institucionais.

DdAB

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