31 março, 2016

Zoravia Bettiol e o Tempo Novo


Querido blog:

Olha que coisa mais linda!

Oi pessoal,
Criei [eu, Zoravia Bettiol] o cartaz [... ali em cima]. Se quiserem podem usa-lo nas manifestações e também posta-lo nas suas redes sociais.
Um grande abraço.
No meu post abaixo deste, o assunto é para provocar uma reflexão.
(Tipo 16h00 de hoje)

Oi pessoal,
É inadmissível que o político Eduardo Cunha, com uma trajetória marcada pela corrupção, por vingança e para se livrar de ser cassado, esta conduzindo o pedido de impeachment da presidente Dilma. É oportuno lembrar que as sequelas dos 20 anos de chumbo ainda se fazem sentir no Brasil. É fundamental que seja respeitado o estado de direito e da democracia.
A imagem abaixo é de um outdoor que realizei em 1984 e fez parte de um projeto da jornalista, crítica de arte e curadora Angelica de Moraes

Há um forte movimento de intelectuais, artistas e trabalhadores da cultura que se posicionam a favor da continuidade do mandado da presidente Dilma e a favor da democracia e eu faço parte desse movimento.
Vamos nos encontrar amanhã, dia 31 de março, na Esquina Democrática, a partir das 17h.
Um grande abraço a todos.

(Tipo 18h00 de ontem)

DdAB
P.S.: tudo veio do Facebook.
P.S.S.: Dia do Novo Mundo: capa do mural de Zoravia Bettiol:

Hoje é Dia de Combate à Desigualdade


Querido diário:

Hoje é o dia da manifestação:
ESQUINA DEMOCRÁTICA
DE PORTO ALEGRE
(Confluência da Av. Borges com Rua da Praia)
17 horas
Traga sua Bandeira
Pinte a sua Cara
Traga suas Origens

Minha bandeira, minha cara e minhas origens prendem-se à luta pela desigualdade, pois esta parece-me ser a causa de todos os males. Quer falar de corrupção? Basta tornar o sistema judiciário (policiais, MP e juízes) mais eficiente. Roubo de merendas, o mesmo. Roubo de bolsa de moça? Mais repressão para o réprobo e mais educação, para dar-lhe a opção de não escolher o caminho do crime como profissão. E que a turma faria com seus rendimentos? O desempregado que passa a ganhar uma fração do imposto de renda descontado do desembargados passará a custear o curso de violino de sua talentosa filha. O lixeiro que teve seu emprego público (serviços industriais de utilidade pública) formalizado pela prefeitura de sua cidade) voltará a usar os serviços de educação e saúde, contratará serviços de uma astróloga que enviará o filho a passear em Brasília por uma agência de viagens em que a operadora voltará a frequentar um instituto de beleza, cuja dona vai fazer um livro de poesias cuja gráfica tem um dono que trocará de carro, empregando um metalúrgico que... chegará à presidência da república.

Em compensação, escrevi isto no Facebook de Maria Lúcia Sampaio (a Rua Sofia Veloso, em 'L', é uma homenagem ao nome dela):

.1. O nível de desigualdade na distribuição da renda no Brasil é escandaloso. .2. O imposto de renda progressivo sobre a pessoa física é o instrumento (passivo, o ativo é o gasto público regressivo) adequado a minimizar a desigualdade. .3. Não existe 'bitributação', ou seja, o imposto de renda arrecadado no estado não se transfere à união. .4. Mas nunca vi nenhum governador falando nesta forma de minimizar as escandalosas diferenças de remunerações entre os três poderes (ou apenas dois contra um, pois judiciários e legislativos têm desabotinadas benesses).

E, para concluir o dia de glória, tenho um trecho do blog de Michael Roberts, em publicação de 14/maio/2014 (aqui), defendendo a sociedade igualitária:

Now he is telling us that an ‘economy’ needs some inequality to work.  Really? Do we need ‘inequality’ to provide ‘incentives’ for people to ‘work hard and innovate? Reich is talking about inequality of income here, I suppose. But think of this.
A doctor in the US or the UK earns probably at least five or six times the income of a garbage collector. Most garbage collectors do a sterling and steady job clearing our rubbish in the early mornings and street collectors all day long without screaming that they need a salary like a doctor before they would do it. They would like one, I’m sure, but if garbage collectors got the same income as a doctor, would that mean doctors would stop doctoring? Maybe some would switch to garbage collection and get up at 5am and work in mucky conditions in all weathers until early afternoon rather and look at people’s bodies, check scans, do operations and work night shifts in hospitals. But most would not. Doctors become doctors because on the whole they want to do it and think they are doing something useful. Of course, not all people do it for that reason. But I doubt that the inequality of income between doctors and garbage collectors is necessary for either to do their jobs.
But what about the incentive to innovate? Surely, without the prospect of making huge gains or profits from an invention or a new piece of technology or a new drug, these things would not be discovered or developed? Well, the evidence is the opposite. Most great inventions did not benefit the direct inventor, but only the capitalist company that developed the invention. And most great advances in technology, social welfare, productivity and health were found and developed by state funding. Take the worldwide web or the internet: the products of state funding of ‘defence’ and the space race.
But what about Apple, Microsoft etc and the great entrepreneurs of the recent hi-tech revolution? Surely, Bill Gates, Steve Jobs etc would not have applied their unique skills without the ‘incentive’ of eventually making billions? Well, a recent study by Mariana Mazzucato shows it has been the state that has sparked all that ‘innovation’. She comments “the real story behind Silicon Valley (at the centre of my new book The Entrepreneurial State: debunking private vs. public sector myths ) is not the story of the state getting out of the way so that risk-taking venture capitalists – and garage tinkerers – could do their thing. From the internet to nanotech, most of the fundamental advances – in both basic research but also downstream commercialisation – were funded by government, with businesses moving into the game only once the returns were in clear sight. All the radical technologies behind the iPhone were government-funded: the internet, GPS, touchscreen display, and even the voice-activated Siri personal assistant.”
She goes on: “Apple initially received $500,000 from the Small Business Investment Corporation, a public financing arm of the government. Likewise, Compaq and Intel received early-stage grants, not from venture capital, but via public capital through the Small Business Innovation Research program (SBIR). As venture capital has become increasingly short-termist, SBIR loans and grants have had to increase their role in early-stage seed financing the US Department of Health and the Department of Energy. Indeed, it turns out that 75 per cent of the most innovative drugs owe their funding not to pharmaceutical giants or to venture capital but to that of the National Institutes of Health (NIH). The NIH has, over the past decade, invested $600 billion in the biotech-pharma knowledge base; $32 billion in 2012 alone. Although venture capital entered the biotech industry in the late 1980s and early 1990s, all the heavy investments in this sector occurred in the 1950s through to the 1970s.

DdAB
P.S. Se quiseres que eu traduza, sinaliza nos comentários do blog e então eu o farei.

30 março, 2016

Salvação Nacional: começa por meus Links Amados


Querido diário:

Não bastasse a carranca daquele velho que reproduzi na postagem imediatamente anterior a esta, vários dias atrás, não sei que íncubo assoreou meus pensamentos que deletei meus 'Links Amados'. Em compensação, hoje de manhã, um anjo desassoreou-a e, límpida, fui inspirado a reconstituí-lo.

E o nome do anjo? Fábio Cristiano Pereira. E o nome do blog? Guia Definitivo para usuários de 1 Salário Mínimo! - Fabio Cristiano. E o link? Aqui e obviamente na aba da direita, aliás, modelo que o próprio "Guia Definitivo" usa. E quem é Fábio Cristiano? Meu ex-aluno da PUCRS e inspiradíssimo blogueiro.

DdAB
P.S.: a lição de casa é melhorá-lo (claro que o professor não precisa estar presente).

25 março, 2016

Pedro Correa, Augusto Nardes, Mesadas e Lugares Comuns.


Querido diário:

Devemos lembrar que o ministro do tribunal de contas da união, senhor Augusto Nardes, assinou um parecer rejeitando as contas do governo Dilma de 2014. Diz ele ter havido absoluto consenso entre os técnicos do referido tribunal sobre ilegalidades irremovíveis. Antigamente, as contas eram aprovadas 'com ressalvas'. Esse parecer, que deu o que falar por muita gente que o aceitou como verdade absoluta, inclinando-se a decretar o impeachment da presidenta Dilma, teve uma acolhida cética da parte do deputado que examinou-o na câmara dos deputados. Nunca mais ouvi falar sobre o parecer do deputado que desejava aprovar as contas de 2014 'com ressalvas'.

O noticiário a que tenho acesso está tão contaminado pela campanha do impeachment que já nem consigo seguir o dia-a-dia de vários temas. O viés pelo impeachment deixa-me louco, pois uma coisa é ser contra o governo e outra bem diferente é usar pretextos pueris para encerrar o que chamam de "governo do PT".

Em compensação, Pedro Correa é ex-deputado que acaba de fazer delação premiada. Por alguma razão, o insuspeito (de ser enviesado) jornal Folha de São Paulo revelou que lá na delação premiada dele há uma denúncia contra o ex-deputado e atual ministro do tribunal etc. etc., Augusto Nardes. Pedro e Augusto são ou foram sócios do PP, partido exemplar. E Augusto teria recebido uma mesada, mesada, meu, o mesmo que eu recebia com intermietência de papai e mamãe até tipo meus 20 anos de idade, um pouco antes, to be true.

Boto minha mão no fogo pelo ministro. O fato de que ele tem-se manifestado contra o governo, contra a presidenta, contra tudo o que há de progressista, exceto o nome de sua agremiação, nada tem a ver com essas suspeitas de recebimento de mesadas. Tê-la-á recebido? "Teria recebido", disse ZH e talvez a própria FSP. O lugar comum que me assola é o do "durma-se com um barulho destes."

DdAB

17 março, 2016

Revolução dos Bichos


Querido diário:

Cabral e Orwell têm algo em comum: criaram mundos caracterizados pela violência. O primeiro fez seu projeto de forma que esta fosse cíclica, sendo eu testemunha das mudanças em meu horizonte de vida: fechamento do partido comunista em 1948, revoltas de Jacareaganca em 1955 e a de Aragarças em 1959, movimento militar em 1964, impeachment de Collor em 1992 e agora o que temos visto. Para Orwell, o mundo acaba com o maringaense Napoleão e seus partners, no que o autor britânico enganou-se, pois -no final- o próprio Stálin faleceu, um dia simplesmente faleceu. Dou mais razão à terra descoberta por Cabral, pois -como sabemos- não há mal que sempre dure, nem bem que senão se acabe.

Para fazer tudo muito mais absurdo, ontem -ao chegar em casa, alquebrado pelas extenuantes atividades a que o mundo moderno submete um aposentado- vi estampado em todas as ruas por onde passei um abaixo-assinado por todos os animais de estimação da cidade:

Queremos autonomia administrativa, funcional e financeira.

Fiquei pensando em que será de meu orçamento se, realmente, meus dois peixinhos começaram a determinar não apenas o tipo de ração que lhes administro, mas o tamanho do aquário, a marca do baralho de pôquer, os sapatos, os automóveis, iates, e tudo o mais que se disponham a comprar. E promoções, promoções galore. Todo mundo será, no devido tempo, delegado. Depois, surgirão os delegados nível I, nível II, até o final dos números romanos. Depois, teremos a classe dos delegados I, II, III, ... sufixo A. Outra greve fará surgir o sufixo B. Incorporar-se-á o modelo Excel, com delegados de letras A, B, C até XFG e de número I, II, III, até 1.048.579 (em romano, claro), como sabemos, um número divisível por 7, também por 163 e ainda outros.

Para deixar claro que o marcador que uso como "Economia Política" não tem nada a ver com estas considerações. Em especial até coloco uma consideração de caráter pessoal, a saber, sempre que um número não é divisível por 3 já vou pensando logo que é primo. Mas nunca fizera exercícios com um número tão grande. E, se aquele 1.048.579 do Excel de c.2013 não é primo, imagino que ele terá não apenas os dois números que indiquei, mas infinitos outros. Não é mesmo?

P.S. o segmento de foto que nos ilumina é conhecimento comum: a Xuxa.
P.S.S. Eu, que sou bom na tabuada de multiplicar até 12 ou 13, titubeio nas divisões de números grandes, digamos, 1.048.579 divididos por 1.964. E, em romanos, não sei dividir nem, por exemplo, IV/II. Vejamos: iniciaria simplificando, V/I, mas não sei...
P.S.S.S. Claro que a idade, mais que o estudo da matemática, ensinou-me que essa suposição sobre o número 3 dividir todos os demais números maiores que ele pode dar galho, pois tem gente que é divisível por 7, outros por 11, 13, 17, sei lá.

15 março, 2016

O Correio do Povo, a Passeata de sua Fração mais Rica e o Assassino Juvenil


Querido diário:

Perco-me entre ti e o Facebook das 11h desta manhã. Hoje postei por lá tantas catilinárias contra o status quo e adjacências que... nem sei. Mas quero falar de algo novo aqui. Um guri matou seu avô e, segundo o delegado que o atendeu, o butim foi de R$ 190 e um celular. Só bebendo!

Então, lá no Fb, falei sobre a passeata e sua fração mais rica. O Correio do Povo, que comecei a ler sistematicamente a partir de ontem (e o farei por cerca de seis meses) fala no assassino juvenil. Há um bom tempo, aqui, e em outros locais, tão chocado estou até hoje) falei em algo parecido: uma garota de 13 anos que matou sua avó,  a fim de recolher um dinheirinho para comprar drogas. Ou seja, o Correio do Povo já está servindo de minha sentinela para entender as patologias sociais peculiares às sociedades de elevado grau de desigualdade econômica, educacional, nutricional, ética, e por aí vai.

Na página 17 do citado jornal, lemos:

SOLEDADE [progressista município do planalto médio do RGS]
Neto suspeito de matar avó
   Uma idosa de 77 anos foi morta com uma facada no pescoço na tarde de ontem em sua residência no bairro Farroupilha no município de Soledade, na região Norte do Estado. Segundo a Polícia Civil, um neto da vítima, de 17 anos, teria sido o autor do crime.
   O assassinato ocorreu por volta das 11h30min. De acordo com a Polícia, uma vizinha encontrou o corpo da idosa caído no banheiro. A BM apreendeu o rapaz no bairro Missões. Segundo o delegado Marino Franceschi, o adolescente admitiu ter pego R$ 190 e o telefone celular da avó.

Digo novamente: se a máquina do tempo pudesse indagar quanto eu pagaria pela vida desse senhora, eu diria: R$ 191 e dois celulares, pelo menos.

DdAB
P.S. a imagem é soit-disant.
P.S.S. Lá no Fb, fiz referência à estupefaciente postagem do "Guia Definitivo" a que chegamos ao clicar aqui. De que se trata? Lá mesmo no Fb, resumi:

Agora querem criar um imposto sobre o NetFlix. Essa mania de meter impostos regressivos sobre tudo é que ajuda o Brasil a ter tanta deficiência.

12 março, 2016

Desfiliação da Direita


Querido diário:

Postagem cruzada entre "Economia Política" e "Vida Pessoal". Irritado com a ostensiva opção pela direita nesta crise em que o Brasil se encontra envolto desde a divulgação dos resultados das eleições de 2014 assumida pelo jornal Zero Hora (a quem, e nem é por isto, intitulo de Zero Herra, colocando-me como analista de economia política), decidi encerrar minha assinatura (analista de minha vida pessoal) e retirá-la do encargo de ajudar-me a fazer a agenda sobre teatro e dança, por um lado e, por outro, economia e política. E cruzam-se os dois marcadores de meu blog com outros assuntos nem de economia, nem de política nem de vida pessoal.

Pois bem. Liguei para o número 51+3218.8200 (Atendimento ao Assinante). Fui atendido por uma máquina que me deu uma lista de números a digitar, dependendo do tipo de atendimento que eu, assinante, desejava. O número 2, por exemplo, é para acusar falha na entrega do jornal, o que não foi meu caso. O 3, sei lá, até que o 8 era o que eu queria: cancelar assinatura. Pois mal: voz de máquina anunciou que o horário de expediente não contempla o sábado de manhã. Coube-me retornar a ligação na próxima segunda-feira, o que farei, sem falta.

Pois então. Voltei a ligar para o 8200. Pedi o número 2, fui rapidamente atendido pela máquina, pedindo-me para digitar meu CPF. Não o fiz, pois -como referi- o jornal me fora entregue nos alvores do sábado. Agora vou repetir a operação e ver o que ocorre. Agora, agorinha, digitei 9 "para outros serviços". Fui atendido por voz humana. Desliguei. O telefone. De resto, desligar-me-ei na segunda-feira.

DdAB
A imagem é daqui. Já me expliquei: não sou de direita, mas o jornal que marcava minha agenda é e estou desfiliando-me dele. Bem sei que será apenas por algum tempo. Não há imprensa decente no Brasil, ler é difícil em qualquer jornal.

10 março, 2016

Racionalidade: positivo ou normativo


Querido diário:

Estava, distraidamente, coçando a cabeça com o garfo (e quem o faria deliberadamente?), quando assaltou-me uma questão de que falarei e que, penso agora, extrapola defesas da teoria dos jogos a ataques ímpios. No caso dos defensores ardentes da teoria dos jogos, diz-se que um jogo que tem "melhor maneira de jogar" (e qual não teria?) passa a transferir o caráter normativo ao positivo. Explico-me: se existe melhor maneira de jogar, mesmo que permeada por milhares de suposições sobre o comportamento dos agentes, dos pacientes, dos enfermeiros e do pessoal da portaria, além de outros, que não citarei, de sorte a não tornar esta sentença infindável e, o que seria ainda pior, ininteligível, então segue-se logicamente que essa trilha alcançada por meio da já referida "melhor maneira de jogar", alcançada por meio de lucubrações positivas, transforma-se em ditame normativo: quem não joga assim é porque é abobado (e não posso deixar de inserir neste parágrafo enorme elogio a mim próprio, a Campos de Carvalho e James Joyce, que usamos duas vezes os dois pontos na mesma sentença).

Em outras palavras, frase mais curta, também temos a relação simétrica: alguma proposição visivelmente normativa, como as regras de trânsito, passam a ter o caráter positivo: se a lei manda que eu ultrapasse pela esquerda, posso prever que a maioria estrondosa da turma também o fará. Notará o sábio linguista que, no final, esta frase ficou com a recomendação de menos de quatro linhas, ainda que com 46 palavras, o que transcende um volume razoável de informação a ser absorvido de uma só vez.

Ok, ok, evado-me, admito. Feliz. Parece óbvio: o conceito de racionalidade, alcançando o status de regra normativa, passa também a ser usado para fazer previsões de comportamentos de gente que lhe segue os ditames.

Quer mais resumo? o preceito normativo que é incorporado à ação cotidiana passa a valer como positivo. As pessoas procuram ater-se às regras. Trânsito, claro. Boas maneiras, evidente. Ser honesto na política, agora encrencou...

DdAB

08 março, 2016

8 de Março: festa feminina


Querido diário:

Mulher é, em média, a classe dominante, enfrentando uma variância desgranida. No peso, na altura, na idade e nos rendimentos. E em outras variáveis que um professor de economia de meu porte não consegue enumerar, ok, ok, educação, número de livros lidos, número de filhos paridos, número de filhos adotados, número do sapato, número de sapatos no armário, bolsas, óculos, e por aí vai. Número de viagens, número de minutos gasto lavando a calcinha durante o banho, e por aí vai.

Um dos assuntos em que a variabilidade em torno da média da mulher é desgramada é a posição em relação ao aborto provocado. De minha parte, costumo dizer -associado a outros homens igualmente sensíveis e portadores de desconfiômetro- que "aborto é assunto de comadres". E por isso mesmo é que decidi pedir a palavra. Meu referencial, o interlocutor que pauta boa medida dos temas que trago a público, é, como quase sempre, o jornal Zero Herra (com quem vivo atualmente uma fase de desamor que pode culminar com o cancelamento da assinatura Tão à direita que até usei para ela uma frase lapidar que ouvi endereçada ao cachorro Tupy em Jaguari: "Vai te deitar!").

Pois bem. No dia 5/sábado (edição conjunta para sábado e domingo), já foi disponibilizado o tradicional e até então dominical caderno "Donna", que é como a "nona" designava "senhora", não é isto? Talvez no dia 13, associando-se ao movimento "Não vai ter golpe!", o jornal fale mais sobre mulheres, seu dia e... o aborto provocado, um problema escandaloso dos países pobres e, especialmente, "esta terra descoberta por Cabral'.

Pois bem melhor. Li com a atenção que pude editorial, colunistas, artigos sem assinatura e não percebi nem sequer uma única e curta palavra sobre o tema. Digamos que havia e que eu não a percebi. Mas, se era, então era tão curta que minha visão já enviesada como o prova meu designativo de "Zero Herra". E fiquei pensando: não leem meu Facebook. Não assistiram a minhas aulas, não têm jornalistas mulheres e alguns nomes que parecem femininos (Ana, Brena, Cláudia, Duilia, e similares) não têm opinião sobre o aborto enquanto problema que assassina milhões de congêneres por ano. Variância escandalosa para a pergunta: "já fez aborto provocado"? E esta "É a favor da descriminalização o aborto provocado?" E mais esta: "Acha legítimo que uma sociedade patriarcal sinta-se no direito de legislar sobre o corpo feminino?" E finalmente: "Qual sua opinião sobre a política e o político brasileiros?" E, post mortem: "Você já foi vítima de um aborto provocado ilegalmente que a levou à morte?"

No outro dia, andei relembrando um dístico de relativo sucesso que andei lançando nas eleições municipais, talvez do ano bissexto de 2004: "Abrace a política. Sufoque o vereador". E um pouco depois: "Política no Brasil? Não vote. Ou, se tiver que votar, anule o voto."

DdAB

07 março, 2016

Lula Lá (em 2018)


Querido diário:

Não que esta fosse minha palavra de ordem há 72 horas, mas achei intolerável e agora entendo mesmo ter sido arbitrária a "condução" de Lula. Já exagerei dizendo que ele é nada mais nada menos que São Luiz e Santo Inácio. E lembro que uma vez vi o cantor Tunai, na reitoria da UFRGS, falando que "enfezado" seria a senhora do intestino irritável, hehehe. Segue-se logicamente que esta charge do Armandinho é genial!

DdAB

04 março, 2016

Lula e o Sistema Judiciário Brasileiro


Querido diário:

Apenas às 10h00 da manhã de hoje, vim a saber da 'condução forçada' de Lula pela polícia. Isto me deixa estupefato e já vi uma boa meia-dúzia de manifestações sobre o tema. No Fb, a primeira que vi foi de Carlos Paiva. Lá escrevi o que segue:

Sou de opinião que uma pessoa do porte de Lula não deveria "ser conduzido", mas receber em sua casa um delegado -que seja- e um escrivão para colher-lhe o depoimento. Uma vez que vivemos em um país sem sistema judiciário decente, não há -da parte dos cidadãos 'encarregados'- sistemáticas ações voltadas a 'promover a justiça'.

Depois vi outra manifestação muito interessante de Christian Velloso Kuhn.. E acrescento: nunca houve justiça, mas hoje vemos uma completa falta de senso comum e atentado ao princípio da gradação das penas, se é que delas estamos falando. Para constar, deixo bem claro que, desde a bolsa família, passei a considerar Lula o maior político do Brasil, em todos seus malditos tempos

DdAB
P.S. Se o tema é árido, meu tirocínio não é obnubilado por ele. Então lá mesmo no Fb escrevi: Consegues ler a legenda que fiz para esta foto? "Duilio de Avila Berni rindo de quem acha que o Brasil tem um sistema judiciário decente."

P.S.S. Então achei por bem meter minha lata mesmo lá encima. Como se diz: estou dando minha cara a tapa, pois é um momento de apoiar um ídolo nacional sem mediações, sem concessões.

03 março, 2016

Caetano: keynesiano e crítico?


Querido diário:

Primeiro: Caetano Veloso reapareceu em minha vida all of a sudden, como diria Melody Gardot, de quem falei anteontem no Facebook. Diz que ela, entre milhares de influências do jazz ao baião (?), contou com a inspiração de Caetano Veloso. O fato é que ela canta em português, como milhares de outros/as estrangeiros, alheios ao mundo da herança linguística ibérica.

Segundo: em compensação, vi-o, ao Caetano, citado por Antonio Delfim Netto na Carta Capital de 4/fev/2016, página 35, cuja leitura ficou pendente em virtude de meus compromissos diplomáticos no exterior (férias na Espanha, hehehe). Em ainda mais sinuosas compensações, não era bem Caetano Veloso, mas Alvin Hansen (aqui), consagrado divulgador da teoria keynesiana nos EUA, sentenciou: "Vivemos num mundo perigoso. É perigoso agir e é perigoso não agir." Achei esta tirada divina, maravilhosa, claro. Atenção, tudo é perigoso, tudo é divino, maravilhoso!

Terceiro: Delfim Neto é meu conhecido por uma posição às vezes defensora dos bons ritos da teoria econômica e em tantas outras é seu crítico mordaz. Diz ele:

Em nenhum [país, as autoridades monetárias internacionais] sabem muito bem o que estão fazendo. Ou alguém acredita que [elas... sabem] para onde estão nos levando neste mar revolto que ajudaram a construir? Foi obra lenta, apoiada na imaginária 'ciência dos mercados perfeitos'. Com ela, colonizaram e submeteram à sua vontade os pobres nativos que, sem imaginação, se limitaram à produção de bens e serviços.

E acrescenta:

[...] o excerto de um depoimento no Congresso dos Estados Unidos, de 16 de maio de1939, do [citado Alvin Hansen], onde revelou a sua grandeza e as limitações de seu enorme conhecimento:

   Eu gostaria de prefaciar meu depoimento sobre a análise econômica e suas conclusões. Estou seguro de que aqui trataremos de matérias que não são sujeitas a demonstrações matemáticas inequívocas ou a resultados possíveis nos laboratórios das ciências naturais. Os dados com os quais trabalhamos são sujeitos a erros com margens ivariáveis. Os métidos com os quais os analisamos são imperfeitos. Logo, as conclusões a que chegamos são inevitavelmente tentativas. O papel do economista no seu esforço para interpretar as tendências econômicas será, se ele for honesto, muito modesto. Vivemos num mundo perigoso. É preciso agir e perigoso não agir. É perigoso dar conselhos e seria mais fácil tentar escapar dessa responsabilidadse recusando-se a fazê-lo... Eu gostaria de pedir-lhes que tenham em mente desde o início que todas as pesquisas nesta área devem ser feitas com muita humildade. Dizer-lhes que há lugar para outras competentes e honestas opiniões, tanto com relação às tendências econômicas atuais quanto para a adequação da solução de nossos problemas.

Quarto: pois bem, pois mal, pois então, pois é, pois sim, pois não! Preciso prefaciar meu comentário dizendo que há umas reticências e outras aspas que andei retirando, pois acho que houve erro de edição nas citas do velho Hansen. Depois deste caveat, faço alguns comentários:

.1. estou seguro de que há dezenas de temas econômicos que se sujeitam tanto a demonstrações matemáticas precisas, a estimativas econométricas confiáveis e, principalmente, a experimentos de laboratório. Não eram naquele tempo, mas agora são! E não havia nada de errado com a modéstia invocada por Hansen, mas há problemas de preconceito de Delfim Neto, quando ele diz: "Pois bem, 77 anos depois desse depoimento, a situação não é muito diferente." Segue o ex-ministro discutindo a política monetária (ergo, Banco Central) do Brasil. E eu o abandono aqui.

.2. e passo a meu segundo ponto no exame do discurso de Alvin Hansen. Quando ele diz que, uma vez que os dados usados pelos economistas são sujeitos a erros e os métodos são imperfeitos, as conclusões são tentativas. Eu acrescento, na linha de Terence Hutchison (é ele? ele está aqui, mas nem li), quando os economistas passarem a lidar com dados não-sujeitos a erros e métodos perfeitos, ainda assim, suas conclusões serão tentativas. O salto indutivo é proibido! Nunca de núncaras neste mundo empírico das quatro dimensões e da realidade do concreto tangível, a indução oferecerá garantias de levar-nos à verdade. Aliás, verdade é um conceito não muito afeito à verificação empírica na linha do "se... então": se sobem os juros, cai a inflação. Aliás, by the way, to stick to my selected anglicisms, entendo, baseado em Marx e milhares de outros, que o verdadeiro inimigo da inflação é a falta de crescimento na produtividade do trabalho. Pimba: este é o milagre brasileiro: como é que uma sociedade dual pode viver há longos anos, talvez mais de 77, sem desintegrar-se? Resposta: parece que já se desintegrou mesmo e segue o exemplo do Império Romano: a turma estava tão distraída que foi notar apenas uns três ou quatro séculos depois da queda.

.3. Mas não me conformo com a possibilidade da existência de gente que professa a "ciência dos mercados perfeitos". Em outras palavras, qualquer leitor da teoria da escolha pública há de defender a ideia de que precisamos de sistemas de tributação com tais ou quais características, por saberem que o mercado não resolve todos os problemas da vida social. E que o governo ele mesmo ou por delegação à comunidade precisa de recursos para prover bens públicos e bens de mérito.

Por estas alturas, lemos no início aquela encrenca que "viver não é preciso", digo, viver é perigoso, é impreciso e... bom pra xuxu. Mas não posso deixar de aclamar como alerta ao Brasil contemporâneo seu finalzinho olímpico. Agora refiro-me àquela ode ao clamor de Ana Maria Bianchi: "muitos métodos é que é o método". E desejar que sejamos capazes de diferenciar as proposições positivas das normativas é que nos leva a dar aquele passo que nos leva do sublime ao ridículo (a internet tem milhares de citações, dando a autoria desta frase a Napoleão Bonaparte. Minha 'primeira vez' foi ouvi-la de Pedro Malan, em conferência pela FCE/UFRGS, talvez até trazido pelo DAECA).

DdAB
Peguei a imagem de uma página que não se deixou referenciar este sublime cãozinho que nos mostra que o ridículo será facilmente vencido, in due time.

p.s. dei umas mexidas pelo texto, acrescentando o .3. às 13h56min de hoje mesmo.