23 dezembro, 2015

Mais Diferenças na Esquerda


Querido diário:

Como sabemos, a esquerda se divide em Esquerda Um e Esquerda A. A direita está mal na foto, querendo a volta dos militares, a "cura gay", pena de morte, estado nacional, eugenia (acrescentei depois de ler a postagem do site que gerou a imagem), essas coisas de arrepiar o carpim (como dizíamos em Jaguary). A Esquerda Um gosta de reindustrialização, cobrar impostos indiretos sobre o que mais puder, explosão demográfica, e coisas (inventei agora) de enrijecer cadarços. Sei lá. Em particular, no que tange ao pagamento de impostos, indago-me se aquela turma que odeia os livros de teoria da escolha pública sabe a diferença entre impostos diretos e indiretos. Em sabendo a diferença:

.a. impostos indiretos: o consumidor paga e o produtor recolhe e
.b. impostos diretos: o agente paga diretamente ao governo.

Hoje no jornal ainda vi uma notinha sugerindo que o governo deve cobrar impostos sobre os bens de luxo. No outro dia, falávamos sobre meu curso de introdução à economia (elogiando-o) e referi a lista de "teoria elementar do preço" que fui criando, a partir de outras (sempre lembro o prof. Achyles, o velho Steinbruch e o livro de microeconomia de Levenson e Solon). Naquela lista, havia 100 problemas (na verdade, para brincar com o número redondo, inseri várias perguntas sob o mesmo número, por exemplo, a questão 32 teria sete perguntas diretas. O último ultimésimo deles era sobre incidência de impostos indiretos. Além de terem aprendido a definição perfunctória que acabo de dar, aprenderam que, num mundo de curvas de demanda negativamente inclinadas, o imposto indireto é pago parcialmente pelo consumidor.

E a elasticidade renda da procura não divide a negadinha em pobres e ricos. Sabemos que, no Brasil, à medida que aumenta a renda, o consumo de perfumes e cosméticos aumenta mesmo na classe baixa. Mas eu prefiro chamar estas mercadorias de bens normais e não de bens de luxo.

Deste modo, meter imposto sobre "bens de luxo" é algo arbitrário e, na maior parte dos casos, resulta de preconceito. Sempre revelei-me a favor de cobrar imposto sobre bens de demérito. Se uma lancha a motor, um iate, uma garrafa de cachaça de R$ 5.000,00 forem considerados bens de demérito, ok, imposto neles. Mas lancha a motor? E se é uma expansão do Uber, é neguinho querendo ganhar dinheirinho no transporte entre o Arpoador e Paquetá?

Sobranceira, a Esquerda A concede que a Esquerda Um, ainda que mais desastrada (e por que a Esquerda A não teria sua componente de equívocos e revisões conceituais e políticas?), tem em comum a defesa do igualitarismo.

Precisamente: o que diferencia esquerda de direita é precisamente o igualitarismo, é a intervenção na sociedade via cobrança de lucros extraordinários das empresas (ineficiência produtiva, alocativa e distributiva), é o gasto governamental regressivo (beneficiando mais os mais pobres) e o imposto de renda progressivo (prejudicando mais os mais ricos). Os impostos indiretos incidem exclusivamente sobre bens de demérito, no sentido de reduzir-lhes o consumo via elevação de seu preço. A Esquerda A considera questão de vida-ou-morte a renda básica da cidadania (e o serviço municipal), a redução do tempo de exposição do trabalhador ao mercado de trabalho (entrada tardia, saída precoce, semana de três dias, férias de 90 dias, essas coisas).

DdAB
Aqui fui direcionado ao site de onde recolhi a imagem e vi o artigo que ela ilustra. E fui atrás da listagem classificatória, descobrindo que ela já se encontra em português aqui. Pede-se asserções de: .a. discordo plenamente, .b. discordo, .c. concordo e .d. concordo plenamente. A figura acima resulta de meu próprio teste.
Aqui vai uma ideia de situações embaraçosas:
Pergunta: As mães podem ter carreiras profissionais, mas seu principal dever é o de ser donas de casa.
Resposta: concordo.
Nem vou explicar, inclusive por não ser mãe.
E tem mais: quem não sabe, e o autor do teste e mesmo o articulista da imagem, o que é teorema do eleitor mediano pode reportar-se a minhas milhares de postagens falando no tema.
Moral da história: sou de esquerda e sou pela liberdade, na verdade, coloco a liberdade em primeiro lugar. Mas, obviamente, minha posição pessoal não obedece apenas a estes dois eixos.

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