13 março, 2015

Zero Hora, as Drogas e a Teoria do Valor


Querido diário:

Parece que foi ontem e até acho mesmo que foi... Li em Zero Hora algo que me intrigou. Mais ou menos: diz-se que o PIB do Rio Grande do Sul caiu ou cairá em virtude de dois fatores: preços menores para a produção agrícola e custos maiores na atividade. Sempre que alguma notícia fere meus dois sentidos (sentido do sim e sentido do não), penso que foi mesmo a proverbial Zero Herra.

Por falar em Zero Hora, omitindo a Zero Herra, não registrei com fanfarras a mudança de posição do jornal no que diz respeito à legalização da maconha. Na condição de intrinsecamente reacionário, é claro que o jornal era intrinsecamente contrário à medida. Mudar para a posição a favor é um progresso. Claro que há muita coisa, muitos consideranda, que permite ao leitor atento entender que eles são mesmo é o jornal conservador que leio por teimoso.

Os leitores do Planeta 23 sabem que há anos defendo:

.a. discriminação a consumidores suspeitos de serem crianças, criminosos ou loucos,

.b. definição de bens públicos, de mérito e de demérito (e, claro, bens regulares),

.c. considerar a maconha, o cigarro, a cachaça, etc., como bens de demérito simples, o que permitiria a alguém vendê-los, com restrições à publicidade persuasiva (a informativa até que é boa), arrecadando impostos e impondo a eles o mesmo tipo de política que hoje norteia o combate ao tabaco,

.d. por fim, drogas pesadas como a venda de órgãos humanos, o crack, etc., devem ser sumariamente proscritos. Quem precisar de transplante, de uma fumada, etc., deve recorrer ao SUS, que fará a provisão gratuita. O SUS, se não for bobo, requererá contrapartidas. Por exemplo, do rapaz requerendo transplante, que fique disciplinadamente esperando sua vez, no caso de haver fila (só loucos recorrem à justiça, a fim de burlar a fila e apenas advogados anti-sociais -como seria o caso do juiz Alexandre, ops. não era Alexandre...- é que tentam os embargos infringentes, aquele palavrório, para furar a fila. O rapaz querendo um "tapa" deve sujeitar-se a fumadas limpas, ou seja, de banho tomado, quem sabe até de barriga cheia, essas coisas que caracterizam o indivíduo como não-criminoso, não-criança e não-louco.

.e. esclarecendo: considero do mais alto interesse da segurança nacional que as drogas pesadas, que comprometem a saúde física e mental da população de modo agressivo, devem ser distribuídas gratuitamente, sob a supervisão das enfermeiras.

E a teoria do valor? Diz ela em todas as correntes econômicas que, quanto maior a produtividade do trabalho, menor será o preço. Então pensei na relação entre a queda do preço dos produtos agrícolas gaúchos e os óbvios ganhos de produtividade. Mas também pensei no conceito mais mundano de valor, em especial, valor adicionado:

V = P*Q - p*q,
onde V é o valor adicionado, P é o preço do produto agregado, Q é sua quantidade, p é o preço dos insumos agregados e q é sua quantidade. A pergunta é: que acontece com V quando P cai e quando p*q sobe.

A primeira parte é mais fácil de responder: se a demanda pelo agregado dos produtos (agrícolas) gaúchos é elástica (e deve ser, não deve?), então queda no preço provoca queda na receita total (com um aumento contrarrevolucionário em Q), ergo, queda no valor adicionado. Ponto para Zero Hora, no caso em que a demanda é mesmo elástica. Se for inelástica, tudo vale ao contrário e temos Zero Herra... O mesmo raciocínio vale para p*q. A demanda por insumos só pode ser elástica ou inelástica. Se p*q aumenta e os preços dos insumos são crescentes, então concluímos que a demanda é inelástica, mas aí as quantidades é que serão decrescentes.

Ou tudo isto é ficção, uma vez que bem sabemos que a demanda de qualquer bem y é função de x1, x2, x3 e xis etc. Como simplificamos o mundo com y e x1 apenas, então Zero Hora conta com outro tipo de informação que não compartilhou com seus leitores mais diligentes.

DdAB
Imagem daqui. Alcancei-a como a segunda imagem oferecida ao digitar no Google Images "drogas pesadésimas". Um tanto estranho, não é mesmo?

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