15 setembro, 2014

Ulysses: novidades sobre o cruzamento


Querido diário:

No dia do equinócio de primavera de 2012, ainda antes de adquirir a tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro da obra comentadíssima de James Joyce, nomeadamente, o Ulysses, li (ambas as citas que seguem estão na página 27, precisamente o início do capítulo 1 que a tradutora não nomeia, mas que alguns cognominaram de "Telêmaco", inserido na primeira parte "Telemaquia"):

.a. Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barbear.

.b. Buck Mulligan espreitou por um instante por baixo do espelho e depois cobriu a tigela rapidamente.

Paragrafinho de uma única frase. Recortei estes dois trechos cuidadosamente com uma navalha chinesa (R$ 0,98). Com esta precaução pueril, lancei a perder os trechos da página 28:

.a. Ele apontou com o dedo num gesto amigável e se  encaminhou para o parapeito rindo consigo mesmo. Stephen Dedalus se

.b. -Meu Deus, ele não é horrível? - disse francamente. -Um saxão enfadonho. Ele não acha que você seja um cavalheiro. Meu

Mandei enquadrar na Vidraçaria Arfin, da Avenida Getúlio Vargas, 1680, os dois trechos da página 27, não sem antes fazer um xerox na Akicópias, do prédio 5 da PUCRS e compulsivamente recolocar (recolar) os trechos no livro que meus detratores disseram ter sido avariado e os amigos consideraram personalizado, valorizado, enriquecido.

Por que tantos e todos estes cuidados? Enquadrei os trechos originais para atestar a autenticidade do que publico neste momento. E principalmente para corrigir aquele "espelho" da primeira sentença por "pincel" no xerox acoplado ao livro. Desfaz-se o mistério, desfazem-se os mistérios! Um cambono de minha confiança revelou que o espírito de James Joyce, recebido pelo médium Sevenor Ferenczi Rezende, em uma terreira da Rua 17 de Junho deste mesmíssimo bairro Menino Deus, teria avalizado meu reparo a seu -disse o cambono- lapsus linguae.

Parece-me que assim tudo fica perfeitamente ajeitado, pois aquele "cruzados" estava mesmo mal-colocado. Parece óbvio que uma navalha não pode cruzar um espelho, a menos que seja longitudinalmente, caso em que o espelho teria um furo em alguma altura e não apenas estaria rachado, como se vê adiante no capítulo. Neste caso, temos:

Majestoso. o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados sob um espelho, um pincel e uma navalha de barbear.

Bem melhor, não é mesmo? Em certo futuro, vou tentar obter a opinião de James Joyce prolatada por outros médiuns, de sorte a montar uma grande amostra e, com ela, ter estimadores de máxima verossimilhança da verdadeira intenção da obra magna do século XX.

DdAB
Imagem: aqui.

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