09 julho, 2014

7 x 1: parece ideia fixa - é mesmo o igualitarismo


Querido diário:

Quem lê um jornal para pautar-lhe "o que vai pelo mundo" tem o risco de, usando olhos e ouvidos de terceiros, saber apenas o que lhes vai pelo mundo. Leio Zero Hora, um jornal de direita, leio-a ciente do fato e da tragédia que não há realmente outro jornal melhor em Porto Alegre ou mesmo no resto do Brasil. Pois bem, na capa de Zero Hora de hoje, lemos:

Brasil de Felipão leva inacreditáveis 7 a 1 da Alemanha, envergonha torcedores para sempre, produz um elenco de jogadores marcados pelo fracasso e, humilhado, sepulta o sonho de conquistar o Hexa em casa.

De minha parte, lá pela altura do 3 x 0, tirei meu time, se a imagem não é lugar comum. Sempre sofrendo, mas já sem esperança. Consciente de que nada havia a aprender com aquela fenomenal derrota: o futebol é um ninho de ladrões, há décadas deixou de ser esporte e o Brasil, com sua fenomenal desigualdade, há muito virou um farsante.

A propósito, uma das cartas mais sucintas da página 2 do carimbadíssimo jornal, assinada por Frederica e Maria Luíza diz:

Esta derrota é a cara do nosso Brasil. A competência alemã superou a farsa brasileira.

Como deixar de concordar? Um poder judiciário que joga menos que Fred, um executivo e outro legislativo eivados de ladrões, a impunidade generalizada, o voto obrigatório, todas as mazelas que todos os pensadores brasileiros sabem de cor.

De outra parte, na p. 16, o editorial do jornal fala (de futebol!) em algo que ouvi rapidamente ontem, durante o jogo, originando-se ou de um co-espectador ou de algum jornalista:

[...] Foi a derrota de 2002 para o próprio Brasil, que fez a Alemanha se conscientizar de que somente com um planejamento cuidadoso poderia melhorar sua performance nas próximas competições. A partir de então, a Federação Alemã de Futebol (DFB) e a Liga Nacional -  responsável pela Bundesliga, o campeonato local-, adotaram medidas para mudar o futebol nacional. A Liga condicionou a licença da primeira divisão aos clubes que montassem academias formadoras de jovens. Depois, estendeu esta medida à segunda divisão. Paralelamente, a DFB criou centros de treinamentos para crianças abaixo de 14 anos, em integração com escolas. Ao mesmo tempo, os alemães mandaram técnicos para o exterior, para formatação em países considerados referência em treinamento de jovens.
   Claro que isso tudo só foi possível com muito investimento de recursos, mas os resultados logo se fizeram notar. Os clubes alemães passaram a se destacar e a disputar os principais títulos europeus. E a seleção que vai para a final da Copa no Brasil é a consequência direta desse trabalho. Nada ocorre por acaso.

Ontem comparei o índice de Gini de 0,27 da Alemanha com os 0,51 do Brasil. A Alemanha, por este cânone, é mais igualitária. E, com este trecho do editorial de ZH, vê-se o que quer dizer isto: clubes montando academias formadoras de jovens e não contentes com isto os governantes (que, anos atrás, decidiram invadir a Polônia, aquelas coisas de 1939 a 1945...) integraram os centros de treinamento com as escolas. Escola com treinamento? No futebol e duvido que não tenha alguém aproveitado para treinar no tênis, no hockey, no vôlei, no atletismo. E também juro que há treinamento para violoncelos, saxofones, pianos, e por aí vai. Que tem o igualitarismo a ver com isto? Empregos, empregos de professores, cozinheiros, jardineiros, mantenedores de quadras, piscinas, etc.

E o poder judiciário alemão? Disto não sei muito, mas bem sei o que diz a página 12 deste já exageradamente carimbado jornal. Sob o título de "Economia. TRF condena ex-dirigentes do Banco Econômico", fala-se na condenação "por evasão de divisas e fraude contra o sistema financeiro nacional." Quem são os rapazes? Ângelo Calmon de Sá e José Roberto Davi de Azevedo. E diz mais:

Calmon de Sá deverá cumprir pela de sete anos de reclusão, inicialmente em regime semiaberto, além de pagar multa. Azevedo foi condenado a oito anos e dois meses em regime fechado e também deverá pagar multa. Cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça.

Claro que isto não é cultura da impunidade, pois os rapazes tiveram o nome divulgado no jornal e no blog Planeta 23. Isto se não fui enganado por mais um daqueles erros judiciários. Agora, cá entre nós, não falei que tudo começou "em julho de 2002 na Justiça Federal da Bahia." Eu disse 2002? Disse, aritmeticamente 12 anos atrás, julho com julho. Claro que isto é a mais escrachada cultura da impunidade. E quem é Ângelo Calmon de Sá? Veja você mesmo aqui. E, se o link falhar, respondo eu: ministro da indústria e comércio do governo Ernesto Geisel. E quando foi condenado? Condenaram-no a 13 anos e 4 meses de prisão em regime fechado em 3/out/2007. E a mais 12 "após a intervenção", seja lá o que isto queira dizer.

Resumo da ópera: temos lições a tirar dos 7x1? Não temos, nenhuma. Já sabíamos tudo. E também já sabemos que nada mudará, nada cambiará com as eleições de outubro. Constituinte já!

DdAB
Não juro que esta imagem daqui seja de um "menino de baixa renda", como pedi ao Google Images, mas juro que não parecem muito ricos os rapazes. Seremos levados a pensar que os dois rapazes fronteiros também estudam violoncelo, além de vôlei e futebol? E a turminha lá atrás deles, contemplando o descortinar-se do futuro? Professor/a, psicólogo/a e cozinheiro/a?

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