07 janeiro, 2014

Mais de 1.000%

Querido diário:
Temos aquela - creio - piadinha de Marx lá naquele "Manuscritos Econômicos e Filosóficos", em que ele diz algo como "nem que os preços caiam 1.000%". Obviamente, ele sabia que os preços têm queda máxima permitida de 100%. Era, digamos R$ 5,00, como R$ 5,00 é 100% de R$ 5,00, quando cai R$ 5,00 está caindo 100%, não é isto?

E que diz a página 17 de Zero Hora de hoje? Na coluna de Maria Isabel Hammes (Informe Econômico), temos a notícia:

No embalo da Copa
   Enquanto o Brasil avançou apenas 1% nas suas exportações no ano passado, a vinícola Lídio Carraro, de Bento Gonçalves [sic], andou em uma situação totalmente inversa. A receita dos negócios com o Exterior teve crescimento de 236%.
   Quase seis meses após o lançamento, na Copa das Confederações, o vinho Faces já é vendido na Europa, Ásia e América do Norte.
   Aliás, a bebida escolhida como o vinho oficial da Copa do Mundo da Fifa, foi responsável por 70% da expansão da vinícola, com alta de 185% na receita no ano passado, três vezes mais do que em 2012.

Eu pensei: "questo è il miracolo del totocalcio", pois bastou a Fifa começou a beber daqueles vinhos, o mundo começou a amar precisamente aquele vinhozinho, em detrimento dos demais drinks produzidos pela turma do sr. Lídio Carraro. E quanto teriam crescido as bebidinhas alheias à Copa do Mundo? Simplesmente mais, muito mais: 355%.

E como cheguei a estes 355? Usei a fórmula:
0,236 = 0,7 * 185 + 0,3 * R,
onde os números são os números (hehehe) e aquele R é o restante da produção de nossa vinícola hexacampeã. Então a equação se resolve para R como os afamados 355%. Pode? Os preços podem cair 100%, mas as taxas de crescimento podem ser infinitas, não é mesmo? Mas então a farra não estará declarada para o vinho da copa, mas para os demais bebíveis. Sucesso econômico, fracasso aritmético, ou o que seja.

DdAB
Imagem: aqui. Ali na imagem vemos um Vino Corvo, cujos preços não terão caído 100%, pois ainda está no mercado a preços positivos. E aqueles 355% poderiam ser rebaixados para 258%, caso trocássemos o 0,7 pelo 0,3 na equação de primeiro grau de uma incógnita acima. Ainda o resto cresce mais que o principal. Erro, meu chapa!

6 comentários:

Anônimo disse...

Mestre, como vai?

Estou fazendo uma pesquisa, mas tenho até vergonha de dizer...

Minhas noções de contabilidade social são aquelas da velha contabilidade, o livro que o sr. me enviou está ajudando muito.

Gostaria de saber se conhece fontes que tratam da matriz insumo produto de forma acadêmica, todos os textos que encontro é sobre sua utilização prática.

Se puder me ajudar, agradeço!

Abs

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Aí, Daniel!
No outro dia, andei achando que teu blog estava um tanto desatualizado. Vou para lá em seguida ver as novidades.

O ano começou bem? Espero que sim, para ti e os demais leitores do Planeta 23, inclusive -por suposto- seu autor, hehehe.

Matriz de insumo-produto: lá no livro "Mesoeconomia", fala-se no precursor: Leontief, com um artigo de 1936. Mas lá mesmo, ele está fazendo aplicações para a economia americana e se atém à modelagem da economia fechada (isto é, com a demanda final também sendo endógena naquela função dos aij/xj). Ainda a "Mesoeconomia" exibe nas seções 4.4, 4.5 e 4.6 uma exposição razoavelmente teórica (ainda que com exemplos numéricos fictícios, a fim de facilitar a exposição e a compreensão).

Creio que não encontrarás um texto longo que seja absolutamente "teórico" sobre a MIP,pois a parada quer mesmo é aplicação empírica. Para isto é que -talvez- Leontief superou as formulações de Marx e Walras.

Por fim, parece-me que o maior de todos os livros teóricos que se detém no tema da MIP é o livro de Pasinetti de 1977 (também citado lá na bibliografia da "Mesoeconomia").

Um abração do
DdAB

Anônimo disse...

Desatualizado ainda que essa informação seja passada nas universidades federais como atuais fosse, hahahaha

Na época, eu havia entendido a sua colocação, mas somente depois de ter muito foliado seu livro é que percebi o problema desse buraco no conhecimento.

Repito, esse desconhecimento não é só meu. Por isso, gostaria de aprender essa parte que me foi subtraída. Ainda, que o destino não tenha permitido que possa exercer qualquer exercício que me honre o diploma, rsrs

Sou um mero aluno, de todo o modo, quero aprender o que puder. Vou dar uma olhada nos textos usados como referência, mas confesso que ainda não consegui formular uma ideia resumida do tema.

De todo modo, grato pela ajuda e pelo tempo cedido.

Ah, o ano não começou bem por uma série de problemas, mas ainda existem muitos dias até que o mesmo chegue ao fim, quem sabe até lá.

Abs

Anônimo disse...

Ainda outra colocação, é a velha contabilidade social que é ainda cobrada nos concursos para economistas.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Oi, Daniel:
Fico feliz com os comentários adicionais, ainda que tenha havido um mal-entendido quanto ao uso que dei ao termo "desatualizado". Eu não quis dizer que trates, com enfoque desatualizado, dos temas que escolhes. Ao contrário: sempre que leio tuas postagens tenho coisas importantes para pensar e também para repensar conceitos que às vezes penso dominar e não é bem assim...

O que eu quis dizer é que ficaste alguns dias sem postar e andei por lá, digamos, duas ou três vezes (e até mais...) e não via matérias novas. Peço desculpas pelo uso "desengonçado" do termo "desatualizado".

abçs do
DdAB

Anônimo disse...

Que isso mestre, aceito as criticas como uma ferramenta de pessoas que se importam.

Do mais, é difícil postar estando no meu da Amazônia, sem internet e sem luz, muitas vezes.

Sem leitura fica difícil escrever algo útil. Espero voltar a civilização em breve.

Forte abraço.