30 outubro, 2013

Providências para a Previdência

Querido diário:
Meu título beira o lugar comum, tanto quanto há bobeira na cabeça de uma boa parte da malta. Os acionistas do Planeta 23 sabem que odeio a ideologia de que o mundo entrará em caos em resposta ao envelhecimento da população. Descontados os palpites neo-malthusianos de uma turma que não consegue conceber o projeto humano como dando certo e, nesta linha, de estagnação tecnológica, expansão do estrago ambiental, tem ainda uma turma que acha que o primeiro teorema do PIB é bafo ("o PIB abarca 100% do PIB"). Que o problema distributivo não tem saída, pois as frações em que o PIB se distribui são mais eternas do que os prótons de hidrogênio.

Segue-se logicamente que no dia 17/out/2013, li -em um consultório médico- trechos de uma entrevista que Herr Walter Laqueur, "historiador alemão naturalizado americano", deu naquelas páginas amarelas de um exemplar do início de 2012. Na p.18, arranquei os cabelos ao ler que "[a]s pessoas vivem mais e a parcela da população economicamente ativa diminui, o que explica em parte o fato de o sistema de bem-estar social ser cada vez menos viável."

Obviamente empinei um copo (cheio até à borda) de cachaça. Supondo que o PIB siga crescendo e sempre representando 100% de si mesmo, que o PIB per capita siga crescendo mais do que a população, não vejo como mantermos o atual sistema de financiamento do estado de bem-estar social. O que vejo é o contrário: muita desigualdade gera desconforto social e até guerra civil. A menos que as regras da distribuição do PIB sejam modificadas.

E digo agora a mais estonteante de todas as verdades (hipóteses) que já apresentei neste Planeta 23. Ou já disse? O fato é que já faz muito tempo que penso nisto. Tendo em mente os cinco quadrantes de uma matriz de contabilidade social, tal como expressa no afamado livro "Mesoeconomia; lições de contabilidade social" (aqui), observamos (no caso compacto) cinco cifras:

.a. o montante de transações intersetoriais (produtores e produtores),
.b., .c. e .d. o valor adicionado mensurado por meio de suas três óticas: produto, renda e despesa e
.e. o montante de transações interinstitucionais (famílias e governo, famílias e famílias)

E o que digo é que a marcha civilizatória ocorre no sentido de hiearquizar estas três cifras da seguinte maneira:

.a. < .b., .c., .d. < .e.

ou seja, cada vez usam-se menos insumos para gerar qualquer unidade de produto, e cada vez as transações interinstitucionais tornam-se mais substantivas, até maiores do que o afamado PIB.

E, de birra, ainda temos por aí um libelo contra o endeusamento do setor industrial: o bom mesmo é produzir sem insumos, logo a encrenca vai aos serviços (e que o próprio valor adicionado dá lugar a transferências e impostos diretos). Muito técnico? Leia o livro!

DdAB
A imagem veio daqui.

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