02 março, 2012

Teoria dos Jogos e Críticas ao Postulado da Racionalidade

querido blog:
em 2008, foi lançado no Brasil o livro

MATTHEWS, Robert. 25 Grandes Ideias; como a ciência está transformando nosso mundo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

na época, "ideia" se escrevia "idéia", quando a odiosa mudança cosmética que nos obrigou a jogar fora todos os livros "velhos" ainda não tivera lugar. eu, claro, tive a grande ideia de não jogar fora este livro com outras 25 Grandes Idéias. e já o li há muito tempo, se é que muito tempo se passou desde 2008 (a academia brasileira de letras diria que passou-se tempo suficiente para mudar a grafia da língua novamente, pois 1973 já ia mais longe ainda).

então reli na p.234 a nota 2 ao capítulo 2 Teoria dos Jogos, este encontrando-se nas p.29-36 do livro. agora vou reproduzi-la, para fins de destreza digitatória e linká-la a um comentário (n.b.: agora que as letras k, w e y voltaram, os estrangeirismos como os deste link podem escrever-se com k, não é? lá vai:

Nota 2. A crítica à teoria dos jogos muitas vezes se concentra na suposição de que os jogadores sempre atuam de maneira racional. Nigel Howard ilustrou os perigos da suposição de racionalidade com a história real de dois economistas que pegaram um táxi para ir para [o] hotel em [que] estavam hospedados em Jerusalém. Preocupados em não serem extorquidos, decidiram não discutir o preço até chegarem ao hotel, quando sua posição de barganha seria mais forte. Mas a estragégia deles, inteiramente racional, não funcionou. Entendendo que havia sido acuado em um canto por dois caras espertos, o motorista do táxi trancou as portas, levou-os de volta para onde haviam começado - e os jogou na rua.

da primeira vez que li esta nota, apenas assinalei que há uma crítica quanto ao postulado da racionalidade (ver minha postagem sobre este postulado no texto de Oskar Lange aqui). o resto passou-me batido, por se tratar de crítica pueril, baseada em incidente infeliz, talvez mentiroso, ou pelo menos que não deu toda a informação relevante. admitamos que um incidente com os principais contornos da nota 2 sejam mesmo verdadeiros. aliás, admitamos que esta é uma peça de ficção, como a luta entre duas naves espaciais extra-terráqueas, dois alces ou dois dinossauros na Disneylândia, sei lá.

obviamente os economistas sabiam que não sabiam o tipo de jogador com que estavam-se defrontando. por exemplo, ele poderia ser um tipo brigão (falcão, na linguagem de um afamado jogo). ou ele poderia ser um tipo calmo, mas irracional. ou ainda haveria algumas dezenas de hipóteses para descrever o tipo do jogador "motorista". na hipótese de que o motorista era perfeitamente racional e gastou duas vezes o preço da corrida para "vingar-se" do jogador "economistas", como salvar a teoria da escolha racional? simples: basta dizermos que ele não queria maximizar lucros, seu objetivo, por exemplo, era o de tumultuar o máximo a vida dos economistas egípcios, ou fazer barbeiragens acompanhado de passageiros na frente da Loja McDonalds onde trabalha sua namorada palestina, sei lá. se ele -jogador motorista- age irracionalmente, o jogador economistas sabia que também deveria agir irracionalmente. não sabemos, aliás, se eles não o fizeram. pode ser que, antes de serem "jogados na rua", eles teriam quebrado a cara do motorista, que os teria levado novamente, com toda a cautela, ao hotel. [n.b.: não estou fazendo apologia da violência para se tratar com indivíduos que agem irracionalmente, por exemplo, as crianças e os loucos. sou Da Paz!].

passemos ao caso "falcão". o proverbial, como disse, jogo falcão x pombo sugere que a melhor estratégia para um falcão quando encontra pombo é arrombar. o falcão ganha a recompensa e o pombo recolhe-se humilhado, ou seja, sem o milho que estava em disputa. se o falcão se defronta com outro falcão, ele entra em pugilato e fere e sai ferido, reduzindo seu nível de bem-estar. se um pombo encontra outro pombo, divide-se o farnel 50%-50% (ou barganha-se). se o pombo encontra o falcão, o pombo entrega os ponbos, digo, os pontos, nada ganha, o falcão tudo ganha, mas o pombo sai feliz, em busca de outro pacote de pipoca (era milho?).

parece que a nota não foi capaz de motivar-me a fazer justiça à anedota. torno-me suscetível, quando posto com o marcador TER Equilíbrio, a ataques pueris ao postulado da racionalidade. creio que o principal ponto a ser discutido diz respeito ao aparato institucional que define as regras que regem o negócio de táxis em Jerusalém. então eles não usam taximetro? ou os economistas queriam burlar a cifra determinada pelo motorista? ou o motorista, no afã de destruir qualquer prosélito da teoria da escolha racional, criminosamente, recusou-se a ligar o taximetro?

se não fores olhar o Lange que sugeri acima, olha aqui a parte mais relevante:

"Embora sendo um atalho destinado a economizar investigação empírica elaborada, o postulado da racionalidade é, apesar de tudo, apenas uma suposição empírica. É uma hipótese que, em cada caso, deve ser verificada confrontando-se as deduções lógicas do postulado com as observações da experiência. [...] Isso precisa ser enfatizado porque alguns economistas acreditam que o postulado da racionalidade pode ser usado como princípio 'a priori', não sujeito à observação empírica. Em tal caso, contudo, as conclusões derivadas do postulado não poderiam ter, também, nenhuma relevância empírica. [...]".

DdAB
imagem: alces sabidos.

3 comentários:

Anaximandros disse...

a história do táxi está melhor contada no livro do dixit e nalebuf(?) "pensando estrategicamente" e é ligeiramente diferente o que derruba a crítica a racionalidade e barganha: acontece que os dois economistas fizeram a pergunta sobre o preço da viagem ainda sentados dentro no banco de trás, houvessem entendido o jogo de barganha, teriam descido primeiro e, só então, começado a barganhar...mal entendidos em relação a game theory são impiedosos, mas quase sempre, equivocados. abraço, do s.

Anaximandros disse...

não reli o comentário, então, por favor, releve os atentados contra o bom português, se bem que, os linguistas sustentam que o importante é a comunicação e não a língua ou norma culta. Mesmo assim, peço desculpas. abraço, s.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, .s. de Anaximandros:
naum hai pobrlema. o importante é o esclarecimento e a remessa a dois bons divulgadores, Dixit & Nalebuff.
DdAB