21 fevereiro, 2012

Lange: o objeto da economia política - I Parte

queridas/os blogueiras/os:
ontem fiz uma retrospectiva de quanto aprendi com o autor polonês Oskar Lange. inclusive transcrevi um apêndice ao capítulo que hoje começo a comentar em que ele faz um retrospecto da criação do termo "economia política", que é a definição profissional que escolhi para mim. nesta linha, tenho-me declarado "neo-evolucionário", por ter bebido nas fontes neo-clássicas e marxistas. Lange, certamente, ajudou-me a formar uma visão crítica da economia marxista. até cheguei a fazer-lhe um reparo sugerindo que o "economics" de Marshall já se encontrava em outros livros ingleses, na forma de "economicks", ou algo assim. ver aqui. então vejamos, com minhas palavras, este esquema feito em 1984:

Capítulo 1: O objeto da economia política; noções preliminares. p.13-15 de LANGE, Oskar (1967) Moderna Economia Política; problemas gerais. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura Econômica.

As necessidades humanas e os meios de Satisfazê-las
Natureza -> homem -> sociedade -> necessidade -> desenvolvimento histórico
Necessidades:
.a. biológicas e sociais
.b. individuais e coletivas
Ambas são satisfeitas com objetos materiais (bens e serviços) obtidos da natureza por (p.14): "extração, transformação, modificação dos caracteres físicos, químicos ou biológicos, deslocação no espaço ou conservação no tempo."

Natureza - Economia Política

Satisfação das necessidades com objetos materiais fornecidos diretamente ou não pela natureza:
.a. bens (bens livres): objetos materiais
.b. produto: é o resultado da ataividade da produção humana

A produção e o trabalho
Produção: é a atividade humana intenconal e consciente que consiste em adaptar os recursos e as forças da natureza com o fim de criar bens [e serviços]. Nesta linha é que "produto" difere de "bem ou serviço".
Trabalho: é a atividade humana consciente e intencional pela qual o homem atua sobre a natureza, transformando-a de acordo com suas necessidades.
Ao mesmo tempo que o homem atua sobre a Natureza com seu trabalho e a transforma, ele transforma sua própria natureza e desenvolve as faculdades que nela se encontram em estado latente.

Notate bene: nunca pude identificar o local em que se encontra esta frase atribuída por Lange a Marx. (ver p.s.s.s.s.s.s.s.)

Os meios de produção e os meios de consumo
Meios de produção: são objetos materiais dos quais o homem se srve para realizar seu trabalho (de atuar sobre a natureza, a fim de transformá-la de acordo com suas necessidades e, ao fazer isto, transformar-se a si próprio), mas que não atendem diretamente a suas necessidades.
Objetos de trabalho: são meios de produão transformados durante o processo de trabalho: riquezas naturais, tais como a terra, a fauna e flora, carvão entro das minhas, assim como as matérias-primas (e.g., algodão) e os produtos semi-acabados (e.g., casaco sem botões).
Meios de trabalho: são meios de produção que servem para modificar os objetos de trabalho.
Instrumentos de trabalho: são meios de trabalho, ou melhor, objetos de trabalho, especialmente adaptados à execução de uma dada atividade, como os machados, as serras, as máquinas, a aparelhagem de um laboratório, as locomotivas. Também se consideram instrumentos de trabalho os edifícios, depósitos, portos, estratas e a terra (que é instrumento e objeto).
Bens de produção: são meios de produção que só servem indiretamente à satisfação das necessidades humanas (por isto são chamados de bens indiretos).
Bens de consumo (ou bens diretos): são bens que atendem diretamente as necessidades humanas.
Consumo: é o próprio ato de satisfazer as necessidades humanas.
Consumo produtivo (ou desgaste produtivo): é o desgaste experimentado pelos meios de produção em virtude de terem sido usados.

(Continua...)
DdAB
imagem: só posso dizer que era casca bem grossa ser homem primitivo. tu viu que lá no fundo (tercil superior) à direita, tem uma leoa correndo, a fim de auxiliar o homem na luta contra aquele leão desagradável?
p.s.: a frase "ao transformar a natureza, o homem transforma sua própria natureza", acabo de achar nesta mesma terça-feira gorda, aqui. trata-se da tese de doutorado de Cláudio Stieltjes, cujo título é "A IRONIA EM A UTOPIA DE THOMAS MORE; IDEOLOGIA E HISTÓRIA", submetida à USP em 2005. o interessante é que andei procurando a fonte da citação. não lembrava de tê-la escrito nas notas retiradas de Lange e menos ainda que seria da "Contribuição à Crítica da Economia Política", o que não pude conferir hoje, pois meu exemplar desta obra encontra-se longe de mim.
p.s.s.: diz Stieltjes que, na Grécia, "trabalho" é designado com uma palavra tipo "sacrifício" e nós, economistas, sabemos que o próprio substantivo "trabalho" evoca um relho de três ramos.
p.s.s.s.: olhei meu dicionário etimológico, meu e de Antônio Geraldo da Cunha (ele escreveu e eu comprei, hehehe). no verbo "trabalhar", ele diz: "ocupar-se em algum mister, exercer o seu ofício [século] XIII. Do lat. vulg. tripaliare 'torturar', devivado de tripalium 'instrumento de tortura composto de três paus; da ideia inicial de 'sofrer', passou-se à de 'esforçar-se, lutar, pugnar e, por fim, trabalhar.
p.s.s.s.s.: tá na cara que, quanto mais cedo conseguirmos transferir a robôs (os gregos tê-lo-iam feito aos escravos) todo o trabalho, neste sentido de "sacrifício", melhor.
p.s.s.s.s.s.: o homem é o único animal que, ao transformar a natureza, transforma sua própria natureza.

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