07 fevereiro, 2012

Conluios: não apenas na economia

querido diário:
sabemos que a vida econômica societária se divide em três partes: comunidade, estado e mercado. talvez com seus "proto-ancestrais" surgidas precisamente nesta ordem. uma horda em que um macacão assume o comando pela força ou eleições e que começa a dividir alimentos com estranhos, incentivar a exogamia e, por fim, a troca de mercadorias. por fim? por fim, claro, o banco central!

agora, isto é história econômica. e o que é que isto tem a ver com a teoria econômica? primeiro, este recorte "mercado estado comunidade". não pode haver mercado sem comunidade, nem estado. nem estado sem mercado, nem mercado sem estado.

ante-ontem e especialmente aqui falei na importância do entendimento da ciência econômica para usarmos como lente que nos permite retirar alguma ordem do funcionamento aparentememte fragmentado do mundo real. o fato de se negar a lei da oferta e procura é uma baixaria. até esqueci de dizer em um dos comentários que fiz recentemente: claro que o mercado não resolve o problema de bens públicos, mas não era disto que se falava: sacos de supermercado e folhas de papel enrolando maconha esmurrugada.

pois bem, ontem Zero Hora, na mesma página 21 de que falarei em seguida, valeu-se do levantamento de preços dos postos de gasolina em Porto Alegre, deu-lhes a manchete de que poderia estar havendo um conluio. o fato é que 66 dos 90 postos pesquisados usam o preço de R$ 2,699. um preço milenar, uma casa além dos centavos, como passou a fazer parte da rotina da indústria dos distribuidores.

hoje a p.21 promete que as autoridades vão investigar os preços idênticos. é o jornal fazendo a agenda das autoridades ou parece que este caso é mais ameno? as autoridades falaram algo que Zero Hora achou que poderia dar manchete. e aí é que começou a reverberação. vejamos se amanhã ainda haverá ponto sem nó.

há 20 anos, a "teoria dos mercados contestáveis perfeitos" tomou minhas preferências e a de muitos outros (not to speak dos autores), mas depois caiu da moda. seja como for, mais velha do que ela é a tradicional divisão dos mercados microeconômicos em quatro:
.a. concorrência pura (o produtor tem que aceitar o preço de mercado)
.b. concorrência monopolístiva (o produtor é fraco como um concorrente puro e forte como um monopolista)
.c. oligopólio (das teorias tradicionais, a dos mercados contestáveis perfeitos é a mais bela, mas hoje dá-se mais atenção aos insights carreados pela teoria dos jogos)
.d. monopólio.

no caso, tenho quatro postos de gasolina que são meus xodós:
.a. posto 1 que tem frentistas com belos sorrisos
.b. posto 2 que se notabiliza por cobrar o menor preço do bairro
.c. posto 3 que cobra um pouquinho a mais do que o primeiro, mas dá lavagem grátis a quem abastece 20 litros
.d. posto que cobra um preço "não estou nem aí" e atende mal.

eles são, a sua maneira, monopolistas. mas também são concorrentes. concorrência monopolística. se estou com pressa, pelo o mais perto de casa. se estou para sorrisos, procuro as garotas, se é meu dia de briga, vou no dos rapazes que não estão nem aí e volta e meia pode-se trocar desaforos com eles.

e que o governo tem a ver com esta espécie de estratosférica coincidência de que todo mundo cobra o mesmo preço? não existe nada mais natural. a disciplina da indústria que tem um fator comum da maior importância: o próprio preço do insumo principal: os combustíveis. como tá tudo pertinho, dentro da cidade de Porto Alegre, por que haveria enormes diferenças de custos? claro que há outros custos, os aluguéis, os sorrisos das frentistas (ganham mais?), e por aí vai.

parece que vemos não é uma "manobra monopolística", mas a "força cega da oferta e procura", ou seja, um bem-serviço que está equiparado a bens ou serviços transacionados em mercados de concorrência pura. a homogeneidade do produto não permite grandes variações em torno dos sorrisos das frentistas.
DdAB
p.s. peguei uma amostra de três frentistas: abcz.

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