20 novembro, 2011

Carneiros Gregos. só gregos?

querido diário:

meu jornal de hoje, feito ontem, mostra dados preocupantes sobre o futuro das gentes. ao invés de quererem que as pessoas trabalhem menos e ganhem mais, o que vemos é que todos desejam que, sim, as pessoas trabalhem menos (encolhimento do mercado de trabalho) e ganhem menos (encolhimento do PIB). a p.2 do caderno "Dinheiro" de Zero Hora dominical permite montarmos uma série estonteante sobre o bem-estar da carneirada, ou melhor, do povo grego, o povo que inventou a contagem de carneirinhos para dormirmos, o povo que enrustiu Ulisses e sua turma nas barbas (barbas?) de carneiros, esgueirando-se de Polifemo. era isto?

a tabela que montei com base naqueles dados é a seguinte:

Períodos IPR
2007 100,0
2008 99,8
2009 96,5
2010 93,1
2011 88,0
2012 85,5

temos uma seriezinha de seis aninhos com o índice do produto real da economia grega.dados realizados e outros planejados. a inexorabilidade desta queda de 14,5% no PIB dos helenos é algo estonteante. como é que sabem que é mesmo 14,5 e não, digamos, 14,45? e por que diabos tem que cair?

naquele tempo, falava-se que a ciência econômica tinha um misto de ciência e técnica, ciência e arte. fico sempre que vejo estes receituários massacrantes, pensando no que aprendi de errado naquelas aulas todas a que assisti e que ministrei, naqueles livros todos que li, nas políticas de estabilização. estabilização para cima e não para baixo. claro que tem estabilização para baixo, cujo récord é acabar de vez com o PIB.

além disto, no Brasil, volta-se a falar em cancelar benefícios dos aposentados que gozam da condição de funcionários públicos, a fim de equipará-los com os aposentados que não têm esta gloriosa cobertura. sempre me indago: o PIB vai cair? estamos no limiar de uma crise de proporções helênicas? por que não fazer o contrário, retirando gente de produtividade baixa do mercado de trabalho, subornando-a a ficar em casa, sem incomodar as máquinas e rolamentos do PIB e pagar-lhes precisamente o que ganhariam se fossem funcionários públicos?

no caso da Grécia, é fácil de argumentar. quem não compraria um hotel que já faturou 100, pagando a pechincha de 85,5? eu não, pois não tenho dinheiro, mas o governo grego bem que poderia fazê-lo. alguém deveria apostar no negócio. a escolha coletiva, os governantes, a nacionalidade, a humanidade, essas coisas. parece que pode ter chegado a hora de nova virada, botando abaixo o neo-liberalismo, essa aliança espúria entre políticas públicas concentracionistas, que acham que o equilíbrio só reaparece à base da queda do produto.
DdAB
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