08 abril, 2011

Fervilhando: tem história criminosa (THC)

querido blog:
todos sabemos que sou profundamente otimista quanto ao futuro e altamente pessimista quanto ao presente. para mim, na verdade, o presente não é tão mau. ou melhor, o presente não foi tão mau, pois aquilo que chamei de presente (pelo primeiro teorema da idada, que assevera que nunca fui tão velho quanto hoje) já virou passado. e agora novamente. para muito mais gente, vale o viver mal e para outros não tantos vale o viver bem, viver ótimo, viver otimamente.

que quer dizer fervilhar? notícias. notícias fervilhantes. o país está fervilhando em notícias. lamento dizer que nem todas vêm do lado do bem. bad news are good news, diz-se. à propos, lembro de uma das piadas da Mafalda, em que Suzanita, muito feliz, respondeu a uma indagação de Mafalda. esta quis saber se tanta felicidade estampada no rosto da amiga significava o fim das mazelas do mundo. Suzanita disse não saber se iria para o noticiário internacional, até achava que não, mas tinha certeza de que a inauguração de seu par de sapatos novos era o acontecimento do dia.

ontem falei dos R$ 30.000 dos juízes e das professorinhas muito do mal pagas. ontem mesmo o mundo carioca fervilhou. um rapaz, com cara de malvado, agora já morto, malvado, pobre e de baixo nível educacional, assaltou uma escola em que se graduou no primeiro grau (gradua-se em até que grau?), de 23 anos, e assassinou pilhas de crianças, com claro viés contra as garotas, apenas ferindo (apenas? que digo?) os meninos.

ontem, Zero Hora (página 12) publicou um trecho de uma fala do governador Tarso Genro, ao dar a aula magna da UFRGS, universidade que me graduou em economia e que, em continuação, deixou-me ser professor da disciplina, para encantamento de meus familiares, inclusive myself. disse o doutor Tarso:

Na minha época, a gente não fumava (tetra-hidro-canabinol) não porque não tivesse vontade. Era porque as condições que a gente vivia, traqbalhando na clandestinidade, não permitiam adicionar mais uma questão de segurançã. Apenas por isso. Mas dizem que é muito saboroso.

hoje o mesmo jornal (p.19) publica um artigo assinado pelo dotouro Sérgio de Paula Ramos, intitulado "psiquiatra, psicanalista, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas". claro que é uma resposta do exemplar nanico dos gaúchos, os dois nanicos, penso, ao governador do estado, o doutor Tarso, de muitas declarações desastradas. mas esta parece refletir suas -se não redundo- suas reflexões e de seus servidores mais próximos sobre o mal que comércio ilegal de drogas provocou na sociedade brasileira. ele, o tráfico, colheu milhões de vidas, entre civis e militares. destruiu milhares de famílias, dos mais variados matizes. e acabou com o sistema carcerário nacional. acabou praticamente com a vida comunitária. acabou com as escolas, viciou a juventude, corrompeu até os papeleiros, que se fingem de cordeiro, ou de burro, cavalo, esses semoventes que movem carroças no meio urbano.

pois o doutor Paula Ramos citou "A prestigiosa revista British Medical Journal" e um artigo de acompanhamento longitudinal de usuários de maconha. eu tremi. se é longitudinal não é meta-análise. então o que li em continuação reflete a ideologia contra a maconha do psiquiatra e psicanalista. eu, na condição de doutor em medicina, epa, epa, doutor em economia, achei que ele não mencionou o problema econômico. a regulamentação pública só pode acontecer em mercados legais (ou melhor, no gigante adormecido, sabe-se lá). ele fala que "Mecanismos eficazes de controle estão bem delineados." parece-me que o nobre colega nunca ouviu falar em lei da oferta e procura que, sabemos, é mais insinuante do que a lei da gravidade. e, como tal, hierarquicamente superior às leis da biologia. papo moluscular.

depois ainda dá outro carteiraço. cita a OMS que, sabemos, é um fracasso neste tipo de palpite. já postei a respeito. a Carta Capital tem mais de uma matéria acachapante, mostrando quem é que se beneficia deste tipo de posição da OMS. não contente com isto, coloca-se à disposição (consultoria?; de minha parte, claro que eu venderia meus serviços de economista, se quisessem comprar para o programa de 20 anos de legalização, privilegiando o conceito de droga recreativa) para (bem, leia você mesmo):

Como os profissionais da saúde que lidam com a questão encontram-se bem preparados para colaborar na elaboração destes programas, colocamo-nos à disposição.

para concluir de encerrar o dia de hoje, a capa de Zero Hora estampa em boxezinho pequeninho:

Depoimento: O dilema de mãe assaltada em casa. Em texto, advogada reflete sobre a pergunta do filho: 'o nosso bandido era bonzinho?'

cara, bicho, gente, indivíduo, cidadão, meu teu seu! ou seja, cada um de nós já tem um ou mais (um team) bandido a seus serviços. claro que os bons bandidos oferecem "goods" e os maus oferecem "bads", não é isto? num país em que o convênio com o centro acadêmico suíço para permitir a sua empresa júnior administrar a justiça está demorando mais que educação pública de qualidade... é claro que o guri do Rio de Janeiro poderia estar absolutamente isento de qualquer ligação com a maconha na condição de ofertante ou demandante. mas ele certamente leva no peito - além das balas da polícia - a marca do tráfico de drogas, que destruiu a justiça e, mais que isto, toda a sociedade brasileira. a sociedade foi destruída e está tentando recompor-se do melhor jeito que pode. a mãe do guri que não sabia se seu assaltante era benévolo citou Delfim Netto (foi ele?; ela disse que foi): a saída é no aeroporto. eu fora, ou melhor, eu dentro: eu fico aqui. resistirei até o fim. o fim deles, by the way, porque parece que macaco gordo é que quebra galho. com R$ 30.000 -praticamente com a mesma alíquota do imposto de renda de uma família de faxineira e motorista - não há silhueta que não se torne sinuosa!
DdAB
foto do aeroporto do Galeão: aqui.

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