30 abril, 2011

Acertos de quem Erra

querido blog:
como sabemos, mesmo quem erra cpratica seus acertos. a vida eivada de erros seria curta, breve, aquelas coisas hobbesianas. com acertos ela não deixa de ser, em termos absolutos, também breve, violenta, essa coisarada toda. que será que o dep. Raul pensará de "ooisarada", um neologismo retirado do russo? e de caña? pode ainda beber bebidas castelhanas? só matando (o copo, que sou pacifista...).

claro que foi um erro dos assessores do deputado deixá-lo cometer tal iniciativa. e dos demais 25 deputados que aprovaram a iniciativa. se bem que bem sei o que quer dizer "maioria no plenário". tinha neguinho até -presumo- em uso do telefone celular na hora H. e agora sobra ao governador Tarso Genro a glória de vetar estas descabelada iniciativa comunista. mas o governador, como sabemos, também terá lá suas idiossincrasias, a julgar pela polêmica em que inseriu a diplomacia mundial ao acatar a Rua Cesare Battisti como asilada política, algo assim.

pois bem. Zero Herra no Caderno Cultura tem um artigo falando sobre a realidade tangível do mundo digital. claro que isto rima, em boa medida, com o mundo da impressão em 3D, que nem vou linkar com o que já escrevi. o que de estranho lá pintou foi que uma pessoa envilvidíssima com o projeto e a reportagem chama-se Jane Gonigal. achei que seria um erro tratá-la como homem, como o faz o jornal nanico que sempre leio com proveito. mas, por falar em mulher, decidi buscar uma efígie com "Anita" e encontrei esta "Malfatti", tutti buona genti, como não se expressaria do dep. Raul Carrion.

e por que veio-me à cabeça o nome de Anita? muito simples. no mesmo Caderno Cultura, vemos uma entrevista com o diretor (professor?, PhD?) Michel Misse sobre o combate à corrupção policial. lembrei-me da profa. Anita Atseig (pron. "at-záig") da Freie Universität, que -como sabemos- nunca se queixou de ganhar mal, pois sabia que seu dever era trabalhar bem.

Zero Hora indagou ao professor:

Policiais civis e militares dizem que os baixos salários os levam ao crime. O senhor acredita nisto?

resposta iluminadíssima:

Claro que não! Fosse assim, os professores primários seriam os maiores criminosos...

amo quando vejo pessoas inteligentes tratando de problemas proeminentes.

aí voltei a pensar em meu antídoto para o crime: preço alto. e lembrei de Jeca Tatu, que não coçava o pé, pois -dizia- o esforço "não paga a pena". se os bandidos nacionais pagassem por suas penas, se esta incompetência institucional chamada de "poder judiciário" os julgassse com rapidez e exação, é certo que ninguém estaria reclamando em excesso dos baixos salários. mas eu seguiria reclamando dos altos, sô.
DdAB
p.s.: em homenagem ao dep. Raul Carrion e suas desastradas maneiras de pensar sobre a sociedade moderna, eu iria intitular esta postagem apenas como "Future's Furniture", mas não saberia explicar o porquê, ainda que pudéssemos associar à sra. Jane e à impressão em 3D.

29 abril, 2011

Mais Raul e a Proibição dos Estrangeirismos

querido blog:
teclado "QWERTY" na máquina de escrever? é americanismo e vai ser proibido! ainda não me conformo com a desastrada iniciativa do dep. Raul Carrion, do PCdoB, querendo proibir as pessoas do Rio Grande do Sul de falarem como bem lhes aprouver. fico a indagar-me o que fazem seus milhares de assessores (com milhares de $$$ cada) quando veem seu empregador propor disparates. é por isto que cargo público deveria ser aberto a todos e não aos "CC"s. aliás, CC devia era ser proibido.

que ele queira censurar o modo do povo expressar-se é algo divertido. hoje li no jornal que, no escândalo do Banrisul (afanaram R$ 5 milhões), tem um réu intitulado Geri Adriano. achei merecida homenagem ao cantor, ainda que não seja 100%. mas que ele queira impor comportamentos a seus conterrâneos é algo não mais odioso do que as tentativas dos governos militares, chegando à repressão do partido que acolhe tal tipo de mente criativa e iniciativa trôpega. preocupar-se com o fugaz é ridículo. preocupar-se com a fala do povo é querer reformar, de fora, a natureza. não bastaria que ele falasse (e, se fosse o caso, determinasse a seus CCs) como melhor lhe soassem as palavras. e deixasse os outros em paz?
DdAB
a imagem, com oom título da postagem, veio d(aqui). agradam-me os versos controversos, que eu traduziria, se não fosse proibido, como controversial verses. controverso mesmo é o PCdoB.

28 abril, 2011

Comunistas Mandam Falar Direito: não obedeçamos!

querido diário:
quando, há anos, comecei a ler na literatura de "sistemas econômicos comparados" a expressão "comunismo" referindo-se ao sistema soviético e seus satélites (descontado o Sputinik), choquei-me, pois pensava que o comunismo ainda não chegara ao planeta. mais estupefato ainda fiquei ao ler que Joseph Stalin declarara, ainda antes da II Guerra Mundial, que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas alcançara esta etapa, em que cada um recebe de acordo com suas necessidades e produz de acordo com suas capacides.

estupefato. estupefação. Stalin portava uma camada de erros de fazer inveja aos mais festejados dias do Inferno. seja como for, a proposta de "socialismo em um único país" ajudou a moldar a tragédia comunista, de final melancólico no dia 9/nov/1989, com a queda do Muro de Berlim. só mesmo a negadinha stalinista para pensar que daria certo dividir uma cidade com um muro, como se a Idade Mèdia pudesse ser recuperada com proveito.

seja como for, o Brasil teve lá sua cisma comunista, rolando dois partidos:

.a. o Partido Comunista Brasileiro - PCB
.b. o Partido Comunista do Brasil - PCdoB.

a propósito desta cisma, que teria aparecido como tragédia, rapidamente rolou a comédia: fundaram o PTdoB. é casca. no PCdoB despontaram os deputados Aldo Rebello (federal) e Raul Carrion (estadual) que rezam -rezam!- pela mesma cartilha: vamo acabá com os estrangeirismos, tovarich! claro que, como Américo Pisca-Pisca, afamado reformador da natureza lá da ficção de Monteiro Lobato, os dois comunistas são mesmo é empedernidos deslocados no tempo. reagem contra o povo, reagem contra a fala, querem determinar como o falante deve expressar-se, controlar-lhe o vocabulário, forçá-lo a reduzir seu universo mental para um conjunto vocabular herdado das gerações anteriores. não pode falar "tovarich", não pode chamar a filha de "Daiane", não pode fazer cópia xerox de livros, não pode viver, respirar, não pode!

hoje em dia, bem entendo, batiza-se um filho como Maicon ou Cristófer e a garota como Daiane ou Elisabete Regina, na busca de afirmação social. mas não são apenas as classes portadoras de poucas letras, mas boa dose de tolerância. a rapaziada do business sector também prefere falar em "link", ao invés de "ligação", "budget", ao invés de "orçameanto", e por aí vai. ela o faz de sorte a sinalizar qualidade e idade. claro que uma Daiane vale mais do que uma Josefina, para fins matrimoniais. e uma pizzaria que lida com um budget terá administração e contabilidade mais científicas do que aquela regida por um guarda-livros. e claro que isto é apenas um jeito de falar que, talvez, não tenha repercussões positivas sobre a rentabilidade do matrimônio da garota ou do patrimônio das massas aqueijoladas. mas talvez tenha repercussão. positiva. o que de negativo aparece nesta história é que um carinha com os ganhos de um deputado federal e os dois terços legais pagos ao estadual pense que pode estar representando algo progressista querendo impedir a mãe da Daiane sonhar em vê-la casada com algum Anderson ou Alex Sandro.

os "garotos [que] inventam um novo inglês" deixam claro que quem não os acompanha é porque ou não é do business ou é muito velho. sinalizações! em sendo velhos, o que eles fizeram foi deixar uma "pampa pobre". uma pampa cuja produtividade do trabalho é oito vezes menor do que a americana. e, em minha modesta opinião, seria isto o que deveria preocupar essa macacada que ganha R$ 30 mil mensais. nesta linha, o cargo do Aldo escaparia, pois sou a favor da manutenção da Câmara dos Deputados. já não diria o mesmo para o Raul, que considero tanto a Assembléia Legislativa como o Senado Federal apenas cabides de emprego completamente inúteis. e nocivos socialmente, pois ajudam a manter a desigualdade na distribuição da renda nacional.
DdAB
a imagem veio daqui.

27 abril, 2011

Salário não é renda...

querido diário:
claro que salário é renda. claro que depende do conceito de renda. claro que "renda da terra" como sinônimo de"renda" está parcialmente certo, pois renda da terra (ou seja, aluguel e aliás até aluguel de máquinas e carros etc.) também é renda. e quem mais é renda, além da renda da terra? pela conceituação do manual de contabilidade social da ONU, temos:

.a. salários (remuneração paga pelos produtores aos serviços prestados pelo fator trabalhador pelos trabalhadores selecionados pelas famílias para dirigirem-se ao mercado de trabalho; naturalmente, os que não se dirigiram, ficaram no bar bebendo não ganham renda, nem -mais tragicamente- os que se dirigiram mas não garraram emprego)

.b. lucros (remuneração que os produtores recolhem, depois de terem pago seus compromissos com os trabalhadores e com o governo. nesta condição, eles são os chamados de "residual claimants")

.c. impostos indiretos líquidos de subsídios (remuneração do governo, um imposto desagradável que incide sobre os produtores -qua produtores- e gera distorções dentro do mais profundo âmago aprofundado do sistema produtivo).

falei "remuneração" dos trabalhadores, dos capitalistas e do governo? claro que falei, pois usei o termo no sentido de "pagamento por parte dos produtores". no chamado (por mim e outros iluminados) modelo completo do fluxo circular da renda:

.a. os produtores percebem que haverá demanda para algum/ns que eles estão dispostos e aptos a produzir

.b. ato contínuo, deslocam-se ao mercado de fatores de produção, contratando os serviços dos fatores (trabalho e capital) que são propriedade das famílias. e já sabem que terão que molhar a mão do governo, que -caso contrário- não os declararia produtores legais.

.c. os pagamentos pelos usos dos fatores contratados pelos produtores são, naturalmente, creditados a estes, que os transferem às famílias que detêm sua propriedade. posse e uso: posse pelas famílias e uso pelos produtores.

.d. as famílias pegam este dinheirinho que receberam dos produtores (salários e lucros), associam-nos a outras receitas (e.g., ganho da loto, ganho da pensão do filho milionário) e despesas (e.g., pagamento da pensão para o pai perdulário e impostos diretos) e gastam tudo em bens e serviços e o que sobra chamam de poupança.

.e. e o dinheirinho que os produtores pagaram ao governo são também transferidos à instituição governo que o gastará como lhe aprouver (e, enquanto a lei do orçamento não for mais sagrada do que a lei da cachaça, não haverá usos decentes, com muita corrupção e gastos beneficnando mais que proporcionalmente os mais bem aquinhoados from scratch).

ou seja, diferentemente do título (um tanto enganador) desta postagem, salário é renda, como o é o lucro e o imposto indireto. ok, falemos dos impostos. de acordo com Teeteto, quando pensamos nos impostos, devemos dividi-los em diretos e indiretos, abarcando todos os impostos concebíveis. não foi ele?

agora: os impostos indiretos, como sugeri acima, baseado em um modelo, ou seja, não me baseei na realidade (o modelo de preços de Leontief), são absolutamente distorcivos sob o ponto de vista da alocação dos recursos produtivos da sociedade. no mesmo instante em que pensei nestes "agora", também pensei que os impostos diretos não incidem sobre os produtores, nem os pagos pelas empresas, pois estes são pagos ao governo não no processo de "geração" do valor adicionado, mas no de sua "apropriação". ou seja, são pagamentos que os residual claimants fizeram aos proprietários de suas habilidades empresariais e estas sim é que recolherão partes deles aos governantes (veja só que penso sempre em governantes e não em governo, pois os primeiros aparelharam-se no segundo, em busca de vantagens pessoais e familiares, o afamado patrimonialismo).

ou seja, nunca haverá imposto de renda incidindo sobre o produto, mas apenas sobre a renda, em suas diferentes formas: salário, lucro e impostos indiretos.

pois bem. a Zero Hora de hoje fala, aqui e ali, em temas que me levaram a refletir as -por isto mesmo- reflexões acima. dificuldades de caixa na previdência estadual, agonia do partido DEM, que a CartaCapital praticamente sempre chamava -carinhosamente?- de ex-PFL e a maldição que pesa sobre o imposto de renda no Brasil.

já faz milhares de anos que sugiro que uma solução para o odioso problema dos altos salários...

(salários? eu disse salários, estou misturando a negadinha que ganha R$ 30mil mensais com a que arrebanha R$ 545?, mais ainda, eu disse "salários", quando também estamos falando no "talo" dado às burras estaduais pelos funcionários de R$ 30.000 e mais e até menos, todos, pelo pagamento de aposentadorias e pensões? claro que não, estes são transferências, não fazem parte do valor adicionado!, ainda que façam parte -evidente- da receita do neguinho e de sua família).

... pagos pela administração estadual poderiam ser resolvidos com a retenção como imposto de renda que obedecesse a alíquotas decentes. todos são iguais perante a lei, logo os receptadores de salários e de lucros devem obedecer à mesma alíquota. agora, fazer neguinho cuja renda familiar é de, digamos, R$ 4 mil chegar rapidinho à mesma alíquota do desembraguilhador dos R$ 45mil é tão aviltante quanto outros rapazes meterem a mão na merenda da petizada de Sapiranga. quem ganha menos de R$ 5.000 deveria ser isento. quem ganha mais deveria obedecer a uma decente tabela de alíquotas progressivas, até, digamos, 99,999999999999999999999999999%. isto significa que os apaniguados sempre seguirão ganhando mais que seus inferiores hierárquicos. ou seja, quem abocanha mais engole mais!

então deslocamo-nos, à la Teeteto, para as razões que impedem o próprio governo estadual e sua influência na montagem das leis federais (digamos, as afinidades ideológicas entre as necessidades do tesoureiro do governo e as bandeiras democráticas defendidas pelo deputado federal seu amigo dileto) de terem sucesso. por que ninguém jamais pensa seriamente em reforma tributária no Brasil? hoje o mesmo jornal diz que a "base governista" federal é de 90%, dada a débacle do ex-PFL e do próprio PSDB, esconjurado pela conjura de três lideranças: Aécio Neves, sobrinho de Tancredo, José Serra, economista, e Geraldo Alkmim, parente afastado do ramo amineirado da família). se a base governista tem 90% dos votos, ela não faz a reforma adequada porque não quer, ou melhor, o que ela considera ser uma reforma adequada não é mais que uma reforma inadequada, ou seja, nada. ou seja, manutenção do status quo tributário, com aquelas vergonhosas transferências de impostos indiretos precisamente para as camadas mais carentes da população. isto porque (lá volto com a equação de preços de Leontief) estes impostos são integralmente repassados aos consumidores. logo, quanto mais pobre for o consumidor, maior será o peso dos impostos sobre suas despesas. isto é regressivo, isto é distorcivo, isto é odioso. isto é oficial no Brasil e não serão os míseros 90% de maioria parlamentar que modificarão.

tento agora dar meu pitaco sobre a grande crise que se tornou patente na "oposição" brasileira, nomeadamente, o PSDB e o ex-PFL. a manifestação visível foi a criação do PSD, ou relançamento do partido cuja sigla foi cassada pelo primeiro governo militar. o segredo está no SD de ambos. no primeiro, SD quer dizer social-democracia, que -por lapso datilográfico- chamei de sócio-demografia... eo segundo SD é "social democrata", ou seja, a mesma coisa. por que o PSD não enturmou -termo na moda no RS, por causa da reabertura de escolas de acampamentos, assentamentos de famílias despidas de propriedade, mas que querem o direito de ficar, de ter onde morar- no PSDB? e por que FL -frente liberal- não colou no Brasil? por que a social-democracia do PT, tão social quanto podemos ver pelas grandes reformas propostas (conjunto vazio), tornou-se vencedora?

é muito assunto. mas quero falar mais sobre a alternativa a ela, a social-democracia petista. tenho a impressão que o PT considera que seu dever foi cumprido ao institucionalizar, de maneira irreversível (é?), a "bolsa família", filhota bastarda da "renda básica", mas que é o que a sociedade vestida de enorme véu de ignorância (não estou-me referindo a John Rawls) rejeita. não pode dar dinheiro para pobre! nem educação. nem nada que habilite o pobre a abdicar de sua condição econômica e tornar-se um remediado.

pois bem, o PT ficou no rema-rema. e a oposição? esta, então, ficou ainda pior, ficou na marré de ré, ou de si... esta não responde pelo título de social-democracia. esta tem-se tornado cada vez mais "frente liberal". esta tem defendido a "meritocracia" mais que a "igualdade". como seria medíocre falar em "meritocracia", muito se fala em "mobilidade". mas a mobilidade é algo que não ocorre na sociedade desigual. no Brasil, filho de pobre apenas entra na universidade portador de enormes lacunas na formação básica.

a oposição, que brandia uma palavra de ordem social-democrata adequada aos primeiros embates da vida pós-ditatura militar, perdeu a primazia para o PT. e não conseguiu radicalizar no igualitarismo, ir mais à frente do que o próprio PT, ou seja, por exemplo, lutar pela lei do orçamento que defenda um gasto público regressivo e uma tributação progressiva. se fizesse isto, estou certo de que até eu iria eleger-me deputado (e defender meus R$ 30mil...). mas por que não o fará? por que o PT tampouco o fará? parece que, por hoje esgotei minha cota de perguntas. mesmo porque parece que o assunto se encaminha para a discussão das marcas de chiclé balão, de estrangeirismos, como o de mascar chiclé, e não sobre como deletar uma classe política absolutamente representativa de seus próprios interesses e de suas dignas (?) famílias. (como tornar digna uma família herdeira de patrimônio roubado ao poder público? resposta: imposto sobre heranças, que também é imposto direto! queres mais perguntas? tê-las-ás em breve...)
DdAB
a foto veio de um site pouco afinado com meus ideais sócio-político-demográficos-etc.: aqui.

26 abril, 2011

Daiane, Maicon e Raul

querido blog:
Heureusement, a proposta de lei (contra estrangeirismos) do dep. Raul Carrion não proíbe que sigamos chamando de Maicon ao Maicon, de Daiane à Daiane, nem de Davids, Paolos, Siegfrieds e Yúris a outros tantos. Mas impediu que deletemos a xenofobia. Quer, talvez, que entendamos o poliglotismo como maldição bíblica, e não como simples inclinação humana. Para azar deste tipo de argumentação, coabita o artigo da p.17 da Zero Hora de hoje a notícia de que um dos cultores da palavra escrita de pedigree, ou melhor, de estirpe, não tenha o mesmo zelo com a fala... O senador Roberto Requião acaba de arrancar (p.14) um gravador das mãos de um otherwise entrevistador... 

Esta nova tentativa de impedir o povo de falar como le gusta é algo mais preocupante numa terra de fronteira. A Parrilla del Sur será enquadarada... 

As inovações linguísticas representam respostas sistêmicas a necessidades percebidas por determinados grupos, na tentativa – sugere a teoria – de reduzir o custo da comunicação. A língua é um contrato, uma rede societária criada muito antes da existência do estado, que volta a querer dominá-la. Um exemplo cândido da capacidade humana de criar línguas alheias ao oficialismo origina-se de crianças surdo-mudas da Nicarágua pós-sandinista que, iniciando a receber tratamento decente, reunidas em bandos escolares, em pouco tempo criaram seu próprio dialeto de sinais!

Será que a Assembléia Legislativa tem o selo da qualidade adequada para impor novas formas de comunicação popular? Por que será que ela não incentiva a posse de milhares de dicionários per capita? Tá faltando bebida lá?
DdAB

24 abril, 2011

Fradiques, Fraques, Politiquês

querido diário:
domingo de páscoa. andei fora de combate por razões pascais. fora de combate, em termos civilizados, pois combati alguns capítulos do livro em que presentemente trabalho, trabalho de escravo, mas trabalho. e combati outros capítulos, mais plenos de verve, do 18o. volume (desgarrado) das Obras Completas de Eça de Queiróz, patrono da imagem de hoje, pascalina, pascalíssima, evocativa, portanto, do Monte Pascoal e dos políticos que se implantaram nesta terra descoberta por Cabral, como disse Juca Chaves, outro famoso amante da política brasileira. tivesse eu encontrado esta sentença no livro que estou na parte semifinal da semifinal parte da edição invocaria a sentença que lá mesmo está escrita: frases com mais de quatro linhas são proibidas. isto, claro, num livro científico. num blog, acredito que o récord é de 100 palavras, ou pelo menos foi o que contei num texto de Mário Possas que li há 25 anos. como sabemos, 25 x 4 = 100, ou pelo menos foi o que pensei.

nas páginas 69-70 deste volume (Correspondência de Fradique Mendes, Lisboa: Resomnia/Enciclopédia), li, sem saber se o autor é o próprio Fradique, Eça (que assinará a carta no. XVII "a Clara", de Paris, sem data, das pps.193-195), ou um narrador não identificado, o assombroso texto:

[...] a náusea suprema, meu amigo [que, no caso, é precisamente o narrador], vem da politiquice e dos politiquetes.

Fradique nutria pelos políticos todos os horrores, os mais injustificados: horror intelectual, julgando-os incultos, broncos, inaptos absolutamente para criar ou compreender ideias; horror mundano, pressupondo-os reles, de maneiras crassas, impróprios para se misturar a natuareza de gosto; horror físico, imaginando que nunca se lavavam, rarissimamente mudavam de meias e que deles provia esse cheiro morno e mole que tanto surpreende e enoja, em S. Bento, aos que dele não têm o hábito profissional.

Havia nestas ferozes opiniões, certameante, laivos de perfeita verdade. Mas em geral os juízos de Fradique sobre política ofereciam o cunho dum preconceito que dogmatiza - e não duma observação que discrimina. Assim lho afirmava eu uma manhã, no Bragança, mostrando que todas essas deficiências de espírito, de cultura, de maneiras, de gosto, de finura, tão acerbamente notadas por ele nos políticos - se explicam suficientemente pela precipitada democratização da nossa sociedade; pela rasteira vulgaridade da vida provincial, pelas influências abomináveis da universidade; e ainda por íntimas razões que são, no fundo, honrosas para esses desgraçados políticos, votados por um fado vingador à destruição da nossa terra.

cara, gente, bicho, pessoa, indivíduo! há muita coisa a dizer, a começar pela imagem capturada d(aqui). primeiro, aqui e ali, vi-o (a Eça) lançar-se ao vocabulário técnico ao caso. depois, há muito mais a falar sobre Fradique e a ciência econômica. mais ainda, o radical era o narrador ou Fradique?, a emenda ou o soneto?. quaarto ou quinto: no Brasil, há dias li que condenaram o carinha que roubou milhões em selos de correio da câmara legislativa estadual do RGS, nada há que o leve, pelo que entendo, a ter -tão cedo- uma sentença justa, pois ainda suspeita-se do crime, nada havendo de condenação definitiva. pior que isto é o roubo das merendas das crianças de Sapiranga - RGS, até hoje com água na boca e os outros com os juros no devido crédito...

da imagem de hoje, fica a lição: ou Fradique estava exagerando, ou o narrador é que era perverso, ou as crianças de Sapiranga é que tinham um apetite desmedido para a fase histórica do desenvolvimento do capitalismo no Brasil. hoje, com tais e tantas lavanderias de dinheiro, não é mais crível que os ungidos pelas urnas deixem-se a usar meias chulepentas. compram meias novas. viajam com o público, isto é, parentes, pagos pelo erário, isto é, dinheiro público. tudo se equilibra.

eu nunca pensara em uma explicação de aparente elitismo do narrador: o caos se deve à precipitada democratização. isto quer dizer nem tanto o fim da ditadura militar. digo "militar", pois não me conformo em dizermos que estamos infensos às mazelas de uma ditadura civil. políticos ganhando "salários" de R$ 30 mil mensais não podem classificar-se como servindo a uma democracia civil. nem a uma teocracia, nem ao que de mais seja que não seus interesses familiares.

apenas o direito de herança é que os faz acumularem tanto. é impossível, a não ser pela compra de iates, gastar tudo o que se ganha, quando se passa expressivamente dos R$ 545,00 do salário mínimo brasileiro contemporâneo. merendas e trabalhadores sempre atrapalharam o desenvolvimento do capitalismo nestes vergéis tropicais e temperados (como é o caso do Rio Uruguay e suas duas margens).

de sua parte, a ideia do "preconceito que dogmatiza", opondo-se à "observação que discrimina" é maravilhosa. claro que eu apenas emito opiniões que discriminam, ao passo que vejo muitos oponentes ao ideário igualitarista exibirem preconceitos dogmatizantes... seja como for, parece-me que foi mesmo a apressada urbamização brasileira que não apenas ajudou a quebra da "democracia" mais uma vez em 1964 como também que, impedindo a ação pública, destruindo a ação pública, os laivos de ação pública que havia, lotando de "cabos eleitorais" os postos de comando da administração pública, acabando com o ensino (ajudados por um sindicalismo herdado precisamente do dr. Getúlio Vargas, um dos ditadores da parada) via greves, greves e greves. ponto. parece-me que foi mesmo, repito, a urbanização, o caos dos grandes números que se evadiu da tragédia da vida rural da primeira metade do século XX, que fez com que tenhamos exatamente os políticos que hoje empalmam os poderes da república e sua oposição, tão capilarmente enrustida nos mesmos cargos e funções, mutatis mutandis. diz-se por aqui "é pura bucha"!

e as fraldas? tem muita gente que defende a proibição da segunda reeleição para tudo o que é político. no Brasil fala-se de uma reforma política em estudos no momento. li que o deputado Henrique Fontana é que é o "relator". pensei em sugerir-lhe ler as obras completas de Eça de Queiróz, em outros tempos eu mesmo já sugerira que o político seja forçado a matricular-se num curso de teoria da escolha pública, forçado a aprender as primeiras letras, forçado a tomar chá de honestidade, forçado a ter um emprego que lhe possibilite existência digna, antes da eleição e depois dela.

existência digna significa ganhar estipêndios mensais mais próximos dos R$ 545 do que dos R$ 30.000 e ainda assim que não provenham de "cargos em comissão", pois os cargos públicos deveriam ser abertos a todos e não apenas aos parentes!

defenda as crianças, as merendas, as fraldas. e troque de políticos regularmente! happy Easter.
DdAB

20 abril, 2011

Croissants para Ratos e Chimpanzés

querido blog:
no outro dia, um menino de rua bebia numa dessas festas (brunch, ou o que o valha) que os políticos oferecem a seus eleitores e foi interpelado por um enfarpelado:

-qual foi a vitrine que tu olhou nos últimos tempo que mais te impressionou?

o menino de rua, interlepado, coçou a cabeça com o garfo (que também lhe deram um prato de comida) e disse:

-inegavelmente, foi -creio- um livro com o peculiar título de "O Melhor que Pode Acontecer a um Croissant", or something like that.

versado em línguas estrangeiras que lhe foram passadas par coeur, ele sequer errou um dos efes, esses ou erres dessa sentençazinha em inglês de McDonnalds.

o enfarpelado, que bebera mais do que uma meia dúzia de meninos similares, apenas disse:

-tou entendendo. mas tu acha que rato come croaçã?

naturalmente, o menino de rua não foi capaz de entender o nexo que movia a segunda pessoa gramatical (portanto, pessoa com quem falava), mas ainda assim, tentando disfarçar que acabara de pegar mais dois brigadeiros, colocando-os no bolso do casaco também roubado:

-chimpanzés e ratos? eu não entendo muito os limites do antropocentrismo, nem do relativismo cultural. são coisas que não me foram passadas na escola, ao contrário. lá vi muito preconceito ser distilado pela professora de química. claro que o homem é diferente do chimpanzé, mas pensar que chimpanzés comprazem-se mais do que deveriam com a ingesta de croissants é exagerar, ainda que eu não queira minimizar a importância de pesquisadores do porte de um Bowles ou um de Vaal. seja como for, uma coisa é defender direitos animais e outra, bem diferente, é querer mandas os animais para a escola em visível detrimento de pessoas de minha espécie. para exemplificar, comigo mesmo, que ganhei muitos anos menos de escola que minha imaginação permitiria. o curso de tênis, por exemplo, não aceitou-me por causa de meu (evitável) raquitismo e da falta de roupa apropriada, que minha mãe foi incapaz de roubar.

ante o pestanejar estupefato do enfarpelado, ele prosseguiu:

-claro que existem semelhanças marcantes entre o homem e o chimpanzé. em boa medida, muito maiores do que as que existem entre um golfinho e um, digamos, bacalhau. nós, humanos, comemos chimpanzés e bacalhaus, golfinhos e cobras, lagartos e croissants. acho mais digno alimentarmo-nos puramente de croissants do que seguirmos ingerindo semelhantes, como ambos.

-dizem alguns que o golfinho é o animal mais inteligente, inclusive do que os ratos. mas eu já pensei que a vida em um planeta dominado por ratos bem que seria interessante. uma opção, para não nos alongarmos, é pensar que todos os humanos seríamos ("sou humano?", indagou-se, retoricamente, num tonzinho de quem está recitando trechos da peça "Coriolano" de Will Shake) induzidos por incentivos materiais a abandonar o planeta e forçados apenas a observá-lo à distância e nunca interferir.

-então escrevi um conto de ficção científica em que, no primeiro contato, teríamos visto os ratos praticamente em fase de extinção dado o apetite dos políticos, digo, dos gatos. neste conto, alguma circunstância terá feito com que os gatos comecem a caçada inclemente aos ratos. os ratos, como os chimps fizeram, pensa-se, na savana da África há menos de um milhão de anos, começariam a mutar, lenvando a melhor não apenas ratos mais rápidos mas, principalmente, ratos mais astutos.

-como, nos contos de ficção científica a que faltam algumas páginas, rapidamente chegamos à situaçãoem que os ratos começaram a desenvolver a inteligência da mesma forma que os chimps o fizeram na savana, na África despida de grandes árvores. num belo 31 de dezembro de um ano do futuro, foi observado que os ratos fizeram o primeiro instrumento que poderia parecer-se com um arco-e-flecha humanos, ou talvez com uma catapulta, as imagens não foram 100% nítidas.

-menos de 1.000 séculos depois, o que aconteceu foi que já havia até aviões projetados e tripulados por ratos, os gatos há se haviam tornado animais em extinção e retidos em zoológicos. e os ratos começaram os primeiros contatos comunicacionais com o outer world, chegando a identificar as navesm ais próximas de primatologistas, que se haviam transformado em "raticidas", como alguns cientistas terrenos passaram a dirigir-se, depreciativamente, a eles. eu, por exemplo, me deleitaria em ser convidado, mais vezes, a festas deste tipo, com este café da manhã.
DdAB
quer a imagem ou quer a hospedagem? clique aqui.

19 abril, 2011

Terceiro Decêndio de Abril

querido blog:
no terceiro decêndio de abril, o Sol entra em Touro. no primeiro decêndio, ele está consolidado em Áries e a turba fala em "primeiro decanato de Áries". neste terceiro decanato, nasceu Getúlio Vargas, de quem ouço este errito de "decanato" para "decêndio". oomo sei isto? claro que sou sabidinho, como sabemos.

no terceiro decêndio de Áries do ano passado, dia 23, para ser preciso, também um número primo, iniciei minhas aulas de pilates, com o prof. Marcelo Baimler, criador da Rádio Baimler-FM, que ouço com proveito há muito tempo. uma vez que ele é uma das pessoas quem mais tem abrilhantado minha existência, deixo aqui meu registro e gratidão.

a nota triste é que o acesso ao site provedor da rádio é que está complicado por problemas de desejo de criaturas ranzinzas de impedirem o acesso a não residentes nos Estados Unidos. uma baixaria. fica minha solidariedade ao Marcelo e pode contar comigo para uma marcha sobre Washington, a fim de obrigarmos aquela macacada a tornar-se mais liberal.
DdAB

17 abril, 2011

Drogas: literárias e as demais

querido blog:
querido? claro! tem muita gente querida na parada. desde sempre. e também tem aqueles que entram em minha vida como um rastilho de pólvora, culminando com uma explosão de desencanto. tal foi o caso hoje, ao ler Zero Hora. todos sabemos que este jornal, edição dominical, é distribuído no sábado. mas eu, invariavelmente, deixo para lê-lo no domingo. em outras palavras, escolhi o nanico dos gaúchos para acompanhar minha vida, o que devo saber sobre o mundo. e se, hoje, pouco ou nada sei sobre a Líbia, sobre o Usbequistão, sobre sei lá, é que eles nada disseram...

seja como for, no domingo tem uma página de artigos assinados, em que se confrontam, pelo menos, dois empederinidos reacionários: Sérgio da Costa Franco e Percival Pugina. e penso que quinzenalmente, tem o progressista Marcos Rolim, de quem falei por aqui há alguns dias. pois hoje rolou o sr. Sílvio Holderbaum, com o artigo "Em Boca Fechada Não Entra Mosca", um título, digamos, maravilhoso, sob o ponto de vista da originalidade. mas o que poderia fazê-lo um pouco mais palatável para um negão de meu porte é que ele faz uma contundente censura ao direito à palavra do governador do estado do Rio Grande do Sul, o sr. Tarso Genro. eu mesmo postei sobre o assunto aqui. e achei legal um governador dizer o que todo mundo sabe.

a questão central sobre o uso de drogas é se aceitamos ou não o conceito de consumo recreativo. quem não aceita, ou nunca ouviu falar nele, é movido pela ignorância ou pelo puritanismo. eu sou, óbvio anti-drogas, o que não me impede de envolver-me em consumo recreativo de, por exemplo, café, champanhe e ouvir rock em volume atordoante. dizem que é uma droga... claro que Holderbaum não se caracteriza pela sutileza embutida no título do artigo nem na importantíssima informação
"Também afirma nosso governador que 'a Cannabis sativa (nome científico da maconha) é diferente da heroína. Muitos especialistas dizem ffazer menos mal do que o cigarro. Dizem. Eu nunca vi uma pessoa matar por ter fumado um cigarro de maconha.'."

neste caso, eu estava sendo apenas vulgar ao falar, no outro dia, em THC, o tetra-hidro-canabinol? e ele, quem é este "publicitário" para meter bronca com tanta desenvoltura contra os mais esclarecidos? ele diz uma de arrepiar:

"Com relação a esta afirmação, eu gostaria que o nosso governador participasse apenas uma vez de um grupo de apoio ou tivesses tempo de ouvir um pai ou uma mãe que tem seu filho dependente dessa droga."

sem falar muito mais a respeito deste tipo de visão de mundo, faço o mesmo tipo de chamamento retórico: eu gostaria de saber quanto os pais da guriazinha de 13 anos que, no outro dia, matou a anciã de 93 anos pagariam aos traficantes para deixarem sua filha em paz. ou quanto eu mesmo ou ele pagaríamos, a bolsa de longevidade que toparíamos dar à pobre velhinha, que talvez nem saiba o que é THC, nem crack nem nada.

quero dizer a visão legalista defendida por Holderbaum é melancólica: ele não se dá conta daquela metáfora que tenho divulgado: a lei da gravidade é menos incisiva do que a lei da oferta e procura. ele, Holderbaum, não saberá do que está falando. está solidarizado com o lado certo, claro. passou um pito em um governador de estado! mas o resto de sua prédica ajuda precisamente a "adoção de crianças por traficantes", cito entre aspas, pois havia uma propaganda: "cuide de seu filho antes que um traficante o adote."

claro que consumo recreativo de café e maconha deveria ser proibido a jovens. mas por que será que um rapaz do porte deste publicitário deveria decidir o que um coroa de meu porte deve consumir? ele assusta-se ao pensar que "[...] teremos de ter no futuro mais tolerância também com heroína, LSD, cocaína, êxtase, crack e tantas outras drogas que temos no mundo."

claro que alguém lá da Zero Hora terá lido e aprovado este tipo de pito nos governantes. por isto é que a chamo, volta e meia de Zero Herra, e lamento que os jornais sul-riograndenses sejam todos nanicos.
DdAB
p.s.: este cartaz tirei-o daqui, mas parece que tem xabu na parada.

16 abril, 2011

Tamanho: pura microeconomia

querido blog:
sigo com o assunto de ontem. quando fui aluno de Christopher Freeman, no início do ano de 1978, na Sussex University, falei-lhe algo sobre meu interesse em estimar funções de custos de longo prazo de frigoríficos such and such e disse-lhe saber que o tema era importante, mas não sabia muito bem o porquê. ele foi rápido na resposta: queremos saber isto. se há mesmo economias de escala, isto significa que o mundo inteiro está concentrando. eu apenas vim a dar significado pleno a esta afirmação dele ao ler o livro de Bowles, com aquele triplet lá dele, inserindo a generalização e abrangência do fenômeno das economias de escala que pode ser que o poder econômico esteja mesmo concentrando no planeta. este assunto é muito mais amplo do que posso imaginar, mas ainda assim, imagino que poderia gastar 365 postagens com ele.

naquele tempo de meus estudos da indústria de alimentos do Rio Grande do Sul, escrevi a dissertação de mestrado do PPGE/UFRGS (então simplesmente IEPE) sobre os frigoríficos de suínos, depois, escrevi a de M.A. em Sussex sobre oito "ramos" industriais, inclusive frigoríficos de bovinos e aves, trigo, leite e mais duas cujo nome foge-me como burro às vacinas... trabalhava com funções potência (CT = a x E^b, com CT sendo o custo total, a e b sendo parâmetros a estimar e E era a escala do estabelecimento, e não da empresa). claro que avancei além das curvas, como parece dizer o título de um blog e estudei o grau de economias de escala com a concentração (Freeman?) e a rentabilidade. naquele abraço (diria Gilberto Gil), também estudei a importância da economia sul-riograndense relativamente à brasileira.

um projeto de estudos que abandonei (nem digo que seria o projeto de tese de doutorado, que veio a rolar em tema absolutamente diverso) contemplava a redação de três artigos, tentando assimilar, digerir e frutificar os conhecimentos adquiridos durante aqueles anos (ou seja, já estamos falando de algo que se projetava por quase 10 anos). tentaria seguir do mais geral para o mais particular, iniciando com a visão ampla e chegando a esmiuçar aspectos cada vez mais específicos de uma realidade visualizável com um microscópio calibrado em três níveis. comecei com alimentos no Brasil e Rio Grande do Sul. seguiria com economias de escala globais e concluiria com uma investigação sobre a resposta dada pelo aumento do tamanho da empresa individual a algumas variáveis pertinentes.

ou seja, não estudaria as funções da empresa ou seções das plantas, mas a firma de uma ou múltiplas plantas no seu conjunto. sabia de antemão que não poderia falar que as dimensões de tamanho selecionadas (para definir a escala e calcular os índices de concentração) e representadas por itens de custo ou patrimônio fossem as únicas ou mesmo as mais importantes, mas apenas que seriam muito importantes. esta modéstia liminar, eu imaginava, poderia render-me a benevolência dos avaliadores do trabalho.

ao falar em funções e seções nunca pensei que iria estudar os rendimentos decrescentes do fator, a lei ricardiana, e suas implicações sobre a estagnação econômica e a correspondente queda na taxa de lucro. eu já entendera desse mundo empírico retratado na literatura que revisei nesses tempos e de meus próprios resultados que a regra é o retorno crescente à escala (longo prazo), não importando para isto o rendimento do fator (curto prazo). mas também depois vim a entender que só burro é que trabalha em rendimentos decrescentes do fator. ele pode não se dar conta, mas seu contador o fará, ao ver acumularem-se prejuízos. produzir caro e vender barato é a receita para a falência, como sabem unanimemente economistas da direita e da esquerda e todos os contadores e qualquer feirante.


ao contrário, espera-se que -pelo menos dentro de certos limites- quanto maior a firma, maior será sua eficiência global. mas se estudarmos funções e seções, pode ser que algumas atividades tenham retornos constantes ou mesmo decrescentes (duplicação elementar de seções, como as esteiras que vimos ilustrando a postagem de ontem) à escala (não mais estou falando de fator, não é?).

naquele tempo eu era invocado com aquelas legendas que hoje vejo claramente como reacionárias do tipo "pequeno é bonito" e "o negócio é ser pequeno". claro que ser pequeno é horrível, pois permite que os grandes concentrem o poder econômico e, com ele, o poder político. e aí tudo rola pela grande ladeira da restrição à liberdade humana. confrontando, ainda que timidamente, o saber de esquerda de meu tempo, eu queria saber mesmo era quão bonito seria ser grande, quão bonito seria ver as empresas percorrerem o caminho das economias de escala (generalizadas), da integração vertigal e da diversificação (que hoje são chamadas de economias de escopo). mas claro que havia em minha cabeça alguma teoria do crescimento, eu que já lera pilhas de Marx, de Edith Penrose, Galbraith e Bain e Sylos-Labini. e o raciocínio de que o que faz a empresa crescer é a disponibilidade interna de recursos, o que leva a buscarmos entender se há economias de escala generalizadas em seu uso. ou seja, se a firma tem vocação para crescer. na linha do que, anos depois, Jack Welsh (da destruição de empregos da General Electrir) diria: nosso negócio é gerenciar pessoas. parece, depois de dito, óbvio. gerenciando pessoas é que se gerenciam as máquinas, os elevadores, as empacotadoras, os livros de contabilidade.

nos tempos modernos, a desintegração vertical tornou-se muito importante, a G.E. dando o exemplo, ao que me parece. mas eu não diria que as empresas se "desintegraram" e sim que mudaram de foco, pois hoje são muito maiores do que as de 20 anos atrás. muitas quebraram (o que foi capturado por George J. Stigler, com o que chamava de "método do sobrevivente": se quem sobreviveu é grande, então é porque o tamanho grande é que é ótimo). e, se jogarmos na parada também a conexão financeira de que falei ontem -a empresa industrial virou banco-, então volta a ser fácil prognosticarmos que -quanto maiores forem as economias de escala globais- maior será a integração vertical (no caso, para as finanças). a terceirização não é um fenômeno que conduz à desconcentração. ao contrário, ela deve favorecer a organização de novas unidades de capital que deverão seguir este caminho conhecido: cresce, diversifica, cresce, diversifica.

a verdade verídica é um verdadeiro breve a ser portado -devidamente benzido- contra o otimismo exagerado sobre a desverticalização: quanto maiores as economias globais de escala (isto é, definindo subsidiariamente, as derivadas do tamanho, do escopo, da integração vertical e da diversificação), maior será o volume de funções assumidas, inclusive as de gerenciamento financeiro detalhado e crescente. a integração vertical, como sabemos, diz respeito à questão "make or buy", de merecida fama a partir dos anos 1990s com a consagração adicional de Ronald Coase e, no caso, o artigo lá da metade final dos anos 1930s.

com efeito, haverá certa discricionaridade no que internalizar. há certas funções mais atraentes do que outras. digamos que a limpeza possa ser comprada de outra firma, as não é sensato, a partir de determinado tamanho, comprar serviços da escrita contábil, da contabilidade de custos, ainda que possa-se comprar novamente a auditoria contábil, essas coisas. transportes internos também é difícil imaginarmos que hoje em dia possam ser comprados. hoje vemos a segurança intensamente desintegrada, e muitas outras. mas a questão make-or-buy será sempre uma questão de momento.

quem direcionou tudo isto? obviamente, a compreensão de que o objetivo da empresa é maximizar lucro no longo prazo e, para fazê-lo, precisará maximizar as vendas no curto prazo. e, como parece ter sido o William Baumol a sacar, maximizar vendas sujeito à restrição de um lucro aceitável. fiz mistureba geral, pois nem todos os citados diriam tudo o que eu disse ou aprendi ao lê-los. e, se este troço todo aqui der cadeia, que seja para os políticos.
DdAB
tirei a imagem daqui. em homenagem à coragem da presidente Dilma que botou na roda a questão dos direitos humanos na China. e, claro, o blim-blim-blim que também é severo por lá é o trabalho infantil e o trabalho escravo. na foto de hoje (daqui), fiquei pensando: quem é aquela macacada que fica vendo o espancamento do carinha "do tronco" pelo "descamisado" e não se revolta? e respondi: a mesma que viu hoje de manhã, em plena chuvarada, um papeleiro mal-abrigado contra as intempéries, exercendo o papel de semovente. bem no tempo em que o prefeito de Porto Alegre (mister José Fortunatti) quer criar a secretaria dos direitos do animal, com 18 cargos em comissão.

15 abril, 2011

Tamanho aqui e agora: pouca macro e muita micro

senhor blog:
a situação está para formalidades. vou falar das coordenadas gerais que movem os Planetas 23 e Terra de Sol. no Planeta 23, tenho dito que a lei da oferta e procura é mais insinuante do que a lei da gravidade. a primeira mantém aviões no alto e a segunda os lança à terra. mas -neste preciso instante- há mais gente voando do que caindo...

rapidamente a macro: para Marx, uma das "leis de movimento do capitalismo" é a chamada lei da concentração e centralização do capital. concentração: poucas empresas dominarem a maior parte das vendas de uma indústria (de produto e processo homogêneos). centralização: poucos grupos econômicos dominarem parte crescente das vendas, do PIB, do que seja. concentração: micro, centralização: macro. vendas e lucro: micro; ocupação e consumo: macro. (n.b.: falei em "ocupação" e não em "emprego"; a filha dos juízes viaja à disneilândia e não tem emprego, não é mesmo?).

muito bem número um. a lei da concentração não funcionou. pensava-se, ainda no tempo da energia da fábrica gerada com vapor, que os estabelecimentos industriais tornar-se-iam maiores do que toda a superfície habitável de planetas como Júpiter... (epa...). com a eletricidade, aqueles troços de economias de escala de base puramente tecnológica deram, como diria a raposa de ontem, com os burros nágua... no mundo macro (mais Marx que Marshall, by the way), a centralização é uma realidade. revistas com o Forbes e outras que divulgam as 1.000 maiores empresas mundiais permitem vermos que esta "lei de movimento" é espantosamente verdadeira. cada vez mais o big business domina o overall business. a empresa de um estabelecimento foi sepultada num cemitério de múltiplos estabelecimentos... a empresa, além de diversificar-se horizontalmente, também se diversificou na linha de produtos. quem faz brioches também faz pão, não era isto o que teriam dito teria dito Maria Tereza?

muito bem número um vírgula um. e tanto a empresa se diversificou que ela tornou-se um banco. aprendi isto, tenho dito milhares de vezes, com a dupla Nelson Castan & Eduardo Maldonado, que -de sua parte- a aprenderam com James Clifton, com um artigo cuja segunda parte é um dos 10 mais, ou, no caso, como é 1/2, seria dos cinco mais... pois Clifton cita lá de sua parte o míster Donaldson Brown, gerente/diretor da General Motors lá pelos anos 1920s. (tenho tudo referenciadinho num papelzinho). Donaldson, se bem lembro, diz que a GM formava seu preço da mesma forma que o doutor Karl Henrich Marx mandava lá no terceiro volume d'O Capital, que -na verdade- foi editado por terceiros, Engels? Kautski?, don' rememba'). mas o principal nem é bem isto. o ponto fulcral do capitalismo, na visão que Clifton formou da obra de Marx, é que "no capitalismo, tudo vira mercadoria". o dinheiro de longa data virara mercadoria. e, como ele -dinheiro- é o poder sobre todas as demais mercadorias, inclusive sobre si próprio (o grande capital é avassalador sobre o pequeno) então seria natural que o centro de gravidade do sistema passasse crescentemente a girar em torno de um afamado deus: Mamón. pelo lado da galhofa, eu às vezes digo -criticando os bancos- que o melhor negócio do mundo é vender dinheiro. ao mesmo tempo, reconheço que, se fosse perfeito, não teria havido tanta corrida a bancos e, com elas, algumas mortes autoinflingidas ou induzidas. pequenos banqueiros. hoje até é piada falar nos rendimentos dos dirigentes dos bancos que desestabilizaram a economia em esfera planetária e no preço que eles pagaram pela incúria ou má fé.

muito bem número dois. falo mais explicitamente: os bancos surgiram como bancos, mas as empresas "produtivas", ao se diversificarem, também passaram a tornar-se bancos. e os bancos cedo compraram ou herdaram patrimônios industriais. era o dinheiro tornando-se mais potente do que a lei da gravidade no que tange a mudança econômica. que mesmo quis eu dizer até agora? o tamanho da empresa (essencialmente diversificação) levou aos bancos, e as economias de escala -among other things- levaram ao tamanho.

muito bem número três. onde mais nos teriam levado as economias de escala? de acordo com o evangelho de Samuel Bowles, existe um tripé que pode ser responsabilizado pelo seguinte conteúdo que postei em 27/fev/2011.

.a. as economias de escala,

.b. a natureza não contratual de um número expressivo de interações sociais

.c. comportamentos adaptativos em resposta ao comportamento dos outros
ajuaram a criar este caos que vemos no mundo moderno. caos de um lado e vida mais longa de outro. abundância e miséria, desigual e combinado.

então as economias de escala estão na roda da parada da rapa parodiada. sigo amanhã. ou depois.
DdAB
p.s.: a imagem hoje veio de perto: o blog do LeoMon. lá no site dele, há agradecimentos à fonte original. (eu chegara a pensar que fosse foto dele mesmo, pois suas andanças já contemplaram a China e, parece, a Lua e a estrela Vega).
p.s.s.: esqueci de dizer sobre a foto?
.a. muito cruamente, teríamos economias de escala apenas numa das linhas de montagem, que substitui os trabalhadores que levam de um ponto ao outro; as demais seriam apenas duplicações elementares e dariam no máximo retornos constantes de escala
.b. mas a montanha de esteiras sugere que poderá haver as "economias das reservas massivas" e mesmo "economias pecuniárias derivadas da compra em enorme quantidade de tudo".

14 abril, 2011

Cachorradas: Brasília, Uruguay e Passo Fundo

querido blog:
eu ia postar hoje com o título "Fervilhando", como o fiz no outro dia, para falar de vários assuntos que atazanaram minha leitura de hoje de Zero Hora, como sabemos, o ponto de minha agenda para entender "o que vai pelo mundo". nem falo da defesa -que concordo- feita por Rosane de Oliveira do tratamento dispensado à Paula pelas autoridades chinesas, por ter esta acompanhado sua mãe, a presidenta do Brasil. diz Rosane que é a mesma coisa que carregar um marido. e a gente, machista, acha que quem tem que ganhar lanche grátis é a mulher do presidente, nunca pensara na filha da presidenta.

pois bem. em Brasília, o senador José Sarney conseguiu alguma notoriedade sobre o cadáver das crianças cariocas e seu algoz, o Wellington, propondo novo plebiscito, referendum, sei lá, sobre a proibição de armas na república. e a OAB já deu o diagnóstico que me faz a cabeça: estão desviando o foco dos verdadeiros problemas: a criminalidade e o tráfico de armas. não acho que seja atributo de um gênio de porte entender que aquela palhaçada que ocorreu anos atrás e que venceu "sim, queremos armas" tenha contribuído para o que quer que seja, a não ser para as finanças da macacada envolvida em organizar o diabo do referendum, emitir cédulas, campanha na TV, todo o circo eleitoral. na época, meu ponto era muito simples: nem sim nem não. o problema é a pergunta. o que não queremos é criminalidade nem tráfico de armas. mas sabemos que, se não houver políticas escorreitas, o tráfico de armas vai acontecer da mesma forma como hoje acontece para os abortos, a maconha, a erva de são-joão e sei lá que mais. meu diagnóstico científico a respeito do assunto é: "uns abobados".

pois bem número dois. no vizinho país do Uruguay, em que fui assaltado na Rua San José, a que imortalizou o -por isso mesmo- imortal tango "Garufa", houve um plebiscito para indagar se a sociedade uruguaia queria anular a lei que a milicada de lá fez isentando-se dos crimes que perpetrou sob a alegação de estar combatendo o comunismo, os tupamaros, aquilo tudo. dizque 10 anos depois rolou outro plebiscito, pois acharam que a função de preferência social se havia alterado. perderam novamente. a negadinha não queria revanchismo, retaliação, queria seguir seu curso de vida normal, tratanto -imagino- dos problemas mais sérios. agora, o senado da república aprovou uma lei não plebiscitária anulando o plebiscito. dizem que a câmara dos deputados também aprovará o revanchismo e depois o José Mujica Marins, ou o que seja, vai sancionar. eu fico apenas pensando: senta, que o leão é manso. ou melhor, bem sabemos que o leão não era manso, mas havia certas condicionantes no orador, desejando que o povo se comportasse "as if".

por bem número três. de Passo Fundo vem a notícia de que um professor foi fotografado (filmado?) por um desses telefoninhos de presença indesejada dentro da sala de aula conduzindo uma aluna, pela axila (?) a seu assento convencional. a aluna alega que estava caminhando pela sala para depositar um chiclé na cesta do lixo. o professor não queria que ela o fizesse, chegando a sugerir que a guria vive levantando e sentando, numa atividade de testagem de vincos de calças, se é que as usa. a mãe da garota já denunciou o professor na polícia. eu já vou denunciando a guria de 11 anos: sofrerá ela de ncontinência locomotora? não seria melhor darem-lhe "serviço externo", ou seja, deixá-la caminhar livremente por outros locais que não a sala de aula?
DdAB
a imagem já veio há muito tempo da Internet e se chama, merecidamente, de Full Cry. presumo que não seja dos caçadores, nem do posto ao solo pelo muro, mas da pobre raposa (que não posou para o pintor).

13 abril, 2011

O Futuro da Humanidade

querido blog:
ainda que pareça um tanto lúgubre, sou tomado pelo maior otimismo. uma coisa é achar que todo político é ladrão. e outra é achar que a humanidade deverá finar-se. em outras palavras, gosto de pegar no pesado, gosto de pensar nos limites do que quer que seja. tentar encontrar meios que me levem a sonhar que o mistério que envolve todos os demais mistérios possa vir a ser desmafaguifizado. lúgubre? "a inevitabilidade da morte". lúgubre? "a morte do próprio Sol, em dois ou três bilhões de anos, um nadica de nada".

não sou contra o meio-ambiente, ao contrário, sou a favor da vida, morte digna aos animais (com indicação para o vegetarianismo), essas coisas. ainda assim, a propósito do tsunami japonês, passei a lançar o motto (que talvez já existisse independente de mim): morar em planeta é uma chatice, um alto risco, um sobressalto constante, cobras, onças e tsunamis.

da ficção científica me veio o mote: "os povos astronautas". acho que este é o futuro da humanidade. "acho", no sentido de que "quero". e "acho", no sentido de que, quando o homem conseguir energia muito barata para mover massas enormes, tudo ficará mais fácil. não acho que seja, pelo que dizem, a fissão nuclear. alguns falam em fusão. nem me interessa isto, pois está além de minhas chinelas. o que me desagrada (e, creio, a centenas de outros; e não disse milhões) é saber que o projeto vida humana vai para o beleléu em menos de dois ou três bilhões de anos, se não fizermos nada, se não projetarmos naves (impressão em 3D) que nos levem para fora desta esfera (?) expansiva.

o que vou dizer, tenho certeza, não é ditado pela idade (mas talvez seja). por puro acaso, ontem de noite, disseram-me que, há 50 anos, me disseram, quando vínhamos do Julinho para o centro: "o futuro é muito longe". para mim, hoje, o futuro já chegou e praticamente já está passando. seja como for, meu aforismo é: a morte é uma droga (por contraste a Freud, que disse "não quero insurgir-me contra a ordem universal"). e acho que precisamos bolar uma tecnologia (renda?) para resgatar esta droga toda.
DdAB
ilustração: aqui. para mim, uma das mais lindas cenas que já vi no cinema: o braço, o cálcio, o osso, num átimo, transformam-se em naves espaciais. outra, que me forço a citar, é a do ET viajando na cestinha de uma bicicleta, carregando-a e ao menino, pelos áres, contra o luar! romantismo é isto aí.

12 abril, 2011

Tragédias Brasileiras

querido blog:
a tragédia brasileira é um blim-blim-blim absolutamente plural. ou multidimensional. ou ainda hiperespacial. hoje vou falar algumas coisas de Zero Hora que me levam insofismavilmente (vilmente?) a afirmar, comovido, a tragédia. meu papel, sempre digo, não é sofrer com ela. fazer o quê? descrevê-la, compreendê-la, explicá-la. também costumo fazer previsões ("não vai acabar bem") e recomendações ("ajamos para dar um final feliz a este infame capítulo da vida nacional").

começo falando na p.8 do Segundo Caderno. cita-se Ronaldinho Gaúcho, jogador de futebol recentemente transferido ao jogo carioca. terra de myself e de dois, já catalogados na Wikipedia, Wellingtons. talvez também haja Nelsons e mesmo Trafalgars. diz Ronaldinho: "O carioca é um povo feliz, que sabe viver. É aquele caraque está cheiode problemas, mas está seprindo, de bem com a vida. Em cinco minutos, é teu amigo."

depois,, ou melhor, antes, mas ainda assim, depois, vi nas p.24 e 25 duas notícias sobre dois fóruns: o da liberdade, tradicional empreendimento porto-alegrense e o da igualdade, com número um, ou seja, inicnando agora, com a presença do governador Tarso Genro e a promoção da CUT. claro que a ideia não é de todo ná, pois até que foi um bom achado aquele blim-blim-blim da contrapartida ao fórum econômico de Davos ver-se criado o fórum social mundial. legal é a contabilidade social, que quereria também um fórum ambiental mundial. a vida é cheia de fóruns e poderia abrigar mais uns bilhões, to begin with.

na linha deste fórum, o da liberdade, há uma tira de Rekern, na p.6 desse mesmíssimo Segundo Caderno que colheu as declarações de Ronaldinho: um rapaz, de carro, indaga a outro, pedestre, onde é o fórum da liberdade. o pedestre responde filosoficamente: "É fácil. Continue sempre à direita."

qual a diferença entre liberdade e igualdade? ainda faltou a fraternidade da bandeira francesa e seu surrogate humanidade, da bandeira gaúcha. nem sei direito aprofundar-me na discussão dos termos, mas invoco o conceito de justiça de John Rawls de que falei há pouco: sem liberdade, não dá para pensar nem em abolição do nepotismo nem em explorar a desigualdade em benefício dos menos favorecidos.

não contente com isto, vi na p.38 a notícia de um protesto organizado pela libertação do sr. Ricardo Neis (disseram,entre outros slogans, creio: "Ricardo Neis, teu lugar é no xadrez". claro que incriminei o poder judiciário. como é que ainda não julgaram o rapaz? o crime, gravado, foi praticado há milhares de anos, ou -pelo menos- "no final de fevereiro". são quase dois meses. não pode jlgar o carinha em dois meses? pois deveriam contratar mais juízes.

a omissão do estado, não estou falando no sentido vulgar de que ele deveria ser substitúido pelo "mercado", é antagônica à tríade liberdade-igualdade-fraternidade. e não tem saída, a não ser que a comunidade comece a pressionar as autoridades para procederem a uma reforma radical de tudo aquilo. já dei minha lista em outras postagens. é um pacote, não adianta apenas o voto voluntário, não adianta apenas o parlamentarismo, não adianta apenas a lei do orçamento ser levada a sério, não adianta apenas uma reforma tributária. tudo chundo, como dizem alguns cidadãos do Alto Uruguai, desde o tempo em que se escrevia "Uruguay".
DdAB
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11 abril, 2011

Cete Vuvulezas

querido diário:
hoje escrevo à noite, por problemas diúrnos. mas escrevo sobre problemas de pronúncia. não apenas porque milhões de pessoas não sabem pronunciar meu nome, mas principalmente porque meu nome não me dá milhões de xarás. por exemplo, sempre sonhei em ser Duilio Gates, ou Duílio Lula da Silva, esses self made men que amealharam fortunas incalculáveis para si e para suas famílias.

seja como for ONE, acabei de passar pela frente do Clube CETE, aquele que ficou fechado por algum tempo, esperando uma reforma que deveria ser concluída no dia 15 de dezembro findo. foi-o (falo da rima com aboio) uns três meses depois. cheguei a pensar que os R$ 3 milhões que a placa informava ter sido o custo da obra tomaram chá de sumiço. mas isto é assunto para contador, para os que propugnam pela existência de uma lei do orçamento no Brasil. CETE quer dizer Centro Esportivo Tou Esquecendo o resto. mas o interessante é que meus vizinhos do Menino Deus, pelo menos milhões deles, falam em "sete", capturou? ou seja, quando li "cete" pronunciei "sête", mas quando leio "sete" pronuncio "séte". compreendeu?

de outra parte, parece-me até já ter feito registro neste blog do troca-letra hortelinístico que fiz por aqui há alguns anos, ou melhor, há menos de um ano, quando uma nova maldição estava para ser lançada sobre a humanidade. eram as vuvuzelas. no verbo "zelar", dizemos "tu zelas", ou seja, "tú zélas". o interessante é que eu troquei as sílabas e li "vuvuleza" e, claro, pronunciei como "filete". como sabemos, a pronúncia correta é como em "suzete".
DdAB
p.s. tire a fonte das vuvuzelas d(aqui).

10 abril, 2011

A Maconha e o Wellington

querido diário:
como sabemos, Wellington Moreira Franco é o nome de um governardor do Rio de Janeiro, cidade, aliás, em que nasci e de onde cedo fugi... o desditado governador tem seu nome irremediavelmente associado, para o resto da eternidade com o do finado Wellington Menezes de Oliveira, o não menos sortudo cadáver suspeito de assassinar 12 crianças, possivelmente, minhas "patrícias". claro que estou reclamando dos rapazes que ganham R$ 30.000,00 mensais e levarão cerca de 250 para levá-lo às barras do júri popular a que, pela constituição da república, ele tem o direito de ser submetido, pela suspeita de ter matado as 12 indigitadas meninas. como ele já está morto de qualquer jeito, não precisariam esperar esses 250 anos para vê-lo morto, não é mesmo? claro que considero que o vilão da história é o planeta inteiro, mas corta daqui, simplifica dali, eu poderia dizer que é apenas a parte do planeta que contribui para a manutenção da sociedade injusta, ou seja, aquela de Rawls (liberdade, não-nepotismo e não-desigualdade).

a imagem de hoje mostra minha curiosidade adicional. olhei o governador, rapidamente, na Wikipedia. isto que eram 8h59min, horário porto-alegrense (de meu relógio de pulso, que o do computador está estranho). no Goggle, achei estes aproximadamente 272 mil documentos. um magistrado poderia comprar cada um por R$ 0,11 cada e ainda sobrariam alguns troquinhos para os guris de sinaleira. escrevi isto para mostrar o uso político das quatro operações, que -na verdade- foi apenas uma. ela é assemelhada ao teorema que criei que diz que "o PIB corresponde precisamente a 100% do PIB", o que quer dizer que mais remuneração a traficantes de drogas significa menos remuneração aos juízes, ou às professorinhas, ou ao Wellington, ambos os dois os três. mais que isto, merendas furtadas da escola podem gerar um descontentamento tão grande que acaba em chacinas.

agora, a Zero Hora de domingo, na capa, tem uma manchetinha mandando para as p.24-26, onde está a lona que cobre todo o espetáculo tétrico de Uélinton. mas já vai avisando: "Atirador mata seis na Holanda". a Holanda, como sabemos, é o país que tem ou teve consulado na Rua Siqueira Campos, defronte à Paineira. querendo, há um bom par de milhares de anos, estudar nesse/s país/s baixo/s, pedi ao porteiro a informação de onde era o andar. falei, se bem lembro "Holanda", com agá. ele entendeu "Iolanda" com i? não, corrigiu-me ("ah, tu qué o consulado da iolanda"), pois não ouviu o "i", de "nenhum homem é uma ilha". eu pensei, já naquele tempo era dado a estes arroubos do pensamento, tudo por causa da econometria dos dados de cross section, que tentavam esconder que havia mesmo rendimentos crescentes à escala na indústria dos frigoríficos abatedores de carne de porco (o pobre!) do Rio Grande do Sul. meditando sobre o assunto, pensei que melhor faria para o povo brasileiro o tal consulado europeu se lhe desse a ele umas dessas bolsas de estudos que eu pleiteava. não quero minimizar a responsabilidade dos governadores, mas era estranho ver um coroa na portaria do prédio do consulado sem sequer saber pronunciar seu nome. anos depois, seja lá como for, Chico Buarque compôs as canções Ana de Amsterdã e Iolanda, que se fundiram na atual ministra da cultura do Brasil, pelo que entendi. e não juro ter prestado atenção nos detalhes. o atirador holandês fechou-se em copas, depois de morto: nada declarou.

mas eu vou diretamente a uma frase de Marcos Rolim, cronista dominical, que hoje mostrou seu artigo na p.14 de -agora- Zero Herra (preço de capa: R$ 3,50, umas 40 páginas do Google com o nome do cara), pois o título é: "O brasil diante do horror". como, em alemão, os substantivos têm maiúsculas, pensei que o certo mesmo seria: "O Brasil diante do horror". mas felizmente não estamos na Alemanha, aquela terra daqueles monstros ante-diluvianos, ou seja, antes da Crise do Petróleo de 1973. e qual é/s as frases de Rolim (marcos@rolim.com.br)? lá vai todo o parágrafo:

É impossivel erradicar o mal da agência humana. Ele diz respeito à condição básica da liberdade mesmo. O que podemos e devemos fazer é diminuir suas possibilidasdes trágicas, reduzindo o potencial de letalidade na ação. O que será muito mais difícil de fazer com 16 milhões de armas de fogo. O assassino do Realengo era, muito provavelmente, um maluco que encontrou na moral sexual tipicamente religiosa o amparo para sua misoginia. Mas fosse só isto, jamais teríamos um massacre. A tragédia se tornou possível porque o assassino tinha duas armas de mão e muitos carregadores. Sem esses instrumentos delineados para matar, nunca os danos seriam de tal monta.

volto a usar a aritmética, a fim de pensarmos nas possibilidades numéricas deste tipo de análise.

.a. diminuição de possibilidades trágicas, certamente, é uma operação aritmética. comecemos com P2, o número atual de possibilidades trágicas e definamos P1 como o nível socialmente desejado. sabemos que a sociedade não deseja pagar o custo de ter um P1 = 0, pois teria que abrir mão de muita liberdade, preocupação não alheia à primeira sentença de Rolim. mas claro que P2 - P1, no Brasil, poderia ser estupidamente enorme. para mim, umas 50 possibilidades trágicas encontram-se neste momento às margens da Ipiranga, ou seja, dos taludes e o que o valha da Avenida Ipiranga, em Porto Alegre. e mais umas 50 por aqui e por ali. falo da infância abandonada, os capitães de areia que não estarão em menor número da cidade de Salvador, onde o mar e a poesia se encontram. era Gil, não era?

.b. o Wellington (não falo do governador, claro) até que poupou vidas, se é que informam corretamente. disseram-me (e não é conversa de alcova, pelo que presumo) que o cadáver, enquanto vivia, portava aids, não sei se é assim que se diz, agá-i-vê, "estava escrito assim". então, como ele era um rapaz religioso, não praticava (não?) sexo inseguro. se o fizesse, poderia ter contaminado milhares de pessoas. milhares? digamos que apenas uma ou duas dúzias. realistic. trop realistique. talvez o SUS ou o que seja tenham segurado seus arroubos assassinos per la via del amore, como diria o primeiro ministro de um país amigo. ou coisas parecidas.

.c. agora, esse negócio de 16 milhões de armas de fogo circulando pelo Brasil deu-me o em que pensar. eu diria também muito mais difícil de fazer com 200 milhões de habitantes (sem querer limpeza étnica ou o que seja, mas pensando singelamente no Uruguai). então pensei que uma proibição de uso de armas de fogo em países pequenos nem é necessária, pois a população seguraria as pontas e jamais teria 16 milhões.

.d. mas a questão é como diminuir os 16 milhões (o P2-P1, um troço desses). um jeito é comprá-las. pagar caro por elas. por exemplo, quem ganha renda básica universal não pode portar arma de fogo, ou -ao contrário- faríamos uma guarda armada, como -li na revista Batman, há alguns anos, ou fonte similar- é o caso da Suíça. com 16 milhões de servidores do Serviço Municipal cuidando precipuamante dos maus tratos à infância, duvido que o Wellington fosse eleito sequer para grêmio estudantil daquela malsinada escola.

mas tenho que abandonar o reino seguro da aritmética. e passar ao português ("que, pois, porque, porquanto") e matemática (além da aritmética, entra a lógica, o silogismo antigo e as modernas formulações - so to say - russellianas. como sabemos, russelliano é tudo o que se encontra na Rua Russell, o que inclui todo o Museu Britânico, ou pelo menos sua parte mais visivel.então pensemos na frase de Rolim, mutatis mutandis:

M: Wellington tem duas armas de fogo e muitos carregadores
m: alguns que têm duas armas de fogo e muitos carregadores tornam a tragédia possível
C: Wellington tornou a tragédia possível.

ok, ok, não tem lá muito pedigree este silogismo. ainda assim, torna-se mais claro que o responsável pelo uso das armas de fogo -assim que for condenado pela última instância do poder judiciário, irrecorrível- pode ter sido o Wellington. em outras palavras, não foram as armas de fogo (diz o jornal que uma custou-lhe R$ 250) que podem ter conduzido (é odioso não podermos condenar o Wellington, porque ele ainda não foi submetido a julgamento, mas quem sou eu para dizer que entendo de leis?) o Wellington a matar crianças. ou melhor, pode ser que não tenham sido elas. e o assassino (já foi julgado?) holandês? foram as 16 milhões de armas brasileiras? a maconha brasileira? a garota de programas brasileira? com 16 milhões de habitantes dá uma arma por cada. uma porcalhada! mas não faz muita diferença saber que o holandês, nos dias que correm (eu disse "nos dias que correm", né, meu?), é um povo pacifista, com algumas exceções, inclusive governamentais.

ainda assim, meu erro foi, no item .d., ter falado em "comprar". e nos R$ 250 do revólver que os srs. Charleston Souza de Lucena (chaveiro, 38 anos) e Izaías de Souza (vigia, 48 anos) declararam ter vendido ao cadáver, ainda nos tempos em que ele não o era (ver p.26 do exemplar jornal). mas costumo argumentar contrariamente à pena de morte, sugerindo que nem uma confissão pode incriminar o neguinho definitivamente. foram eles mesmos? não teriam sido subornados por um íncubo de carne-e-osso? a exemplo do cadáver holandês, parece que não adianta inquiri-lo. em minha opinião, sociedade igualitária não tem um excessivo número de desempregados e subempregados. chaveiro? vigia? tudo emprego relacionado ao preço baixo que se paga pelo crime. na Inglaterra, ilha que abriga o Museu Britânico, as casas não são tão gradeadas quanto vemos nas aves que aqui gorgeiam. tinha que ter chave? tinha que ter vigia? não bastavam os 16 milhões de portadores de armas de fogo devidamente treinados para não usá-las, para mantê-las guardadinhas em suas casinhas também bem guardadinhas?

quando se fala em proibição do uso de armas para acabar com o crime também fui condicionado a pensar na proibição do aborto para acabar com as mortes de garotas e seus fetos. da maconha para acabar com o crack, do crack para acabar com o tráfico. no outro dia falei do luminar que não conhece a lei da oferta e procura e quer resolver o problema das drogas de um jeito não-mercantil. o problema do mercado negro só tem soluções mercantis, esta é que é a realidade contundente desse mundo lá fora, a realidade realmente real. a lei da gravidade derruba aviões. a lei da oferta e procura os criou e os mantêm no alto.

cá entre nós: o Wellington (nem quero falar do governador, claro) não é o vilão. o vilão são os políticos, incluindo entre eles todo brasileiro que recebe mais de R$ 3.640 por mês, ou seja, a quantia que o INSS paga ao trabalhador (que não mais o é) aposentado. ok, ok, se não os podemos todos chamar de "classe dominante", que tal chamar de "elite multirracial"? onde começa o conserto do país? tenho tentado argumentar que começa com a discussão do que é sociedade igualitária, das razões que mostram que esta forma de organização dos conflitos não cobertos por contratos das interações sociais. e dos cobertos também, pois -num país em que a justiça leva 250 anos para julgar um cadáver- não se pode confiar em ninguém, as porosidades alcançam dimensões de fossas oceânicas.
DdAB
p.s.: Marcos Rolim também coloca a nossa disposição o endereço: http://bit.ly/eDCgu, claro que sem esta vírgula no fim. tá no site: www.rolim.com.br, sem a vírgula, né?
p.s.s.: não fechei o link Charleston-Ridderhof (USA-Holanda). dizem (li em meu Kalot, de psicologia) que a imprensa não noticia suicídios, pois os que estão na beirada aproveitam o ensejo e até se sentem desafiados a também praticá-los. pois, ao ler a chamada secundária da capa de ZH de hoje, pensei precisamente nisto: será que o Dutch soube do Wellington? será que o Wellington soube das dezenas de casos que espoucam ("pipocam", diria o Izaías) pelo mundo afora?
p.s.s.s.: será que tudo isto não é apenas mesmo um prenúncio dos fins-dos-tempos que poderia ser protelado com as primeiras medidas conducentes à sociedade igualitária. me mostra o partido que desfralde esta bandeira que nele voto, agora que reativei meu título.

09 abril, 2011

Tragédia Brasileira

querido diário:
como sabemos por termos lido o livro sobre felicidade de Richard Layard, e talvez outros também tenham levantamentos igualmente interessantes, o povo brasileiro é um dos mais felizes do mundo. acima, mesmo, do que prevê sua renda per capita, em cross sections mundiais. mas ele é tosco e bizarro, de baixo nível cultural e capitalismo incompetente, pois sua produtividade do trabalho é oito vezes menor do que a americana.

fiquei a perguntar-me como é que os governos Lula e Dilma têm tanta aprovação popular. como é que fazem a pesquisa, a quem perguntam, se esta amostra cobre mesmo "o povo". há anos, Luiz Fernando Veríssimo escreveu a crônica "O Popular" e lembro que ele descrevia quem era se não o povo, pelo menos, "o popular". que é um cara que, por exemplo, nunca é preso, pois os presos são "os outros". mas sigo encafifado. como é que pode eu achar que se vive tão mal e o povo achar que o governo é tão bom. viés amostral? ideações de um velhote, já na decrepitude da vida?

o que o povo sabe, o que pensa, quais são suas fantasias, seus sonhos, seus delírios? eu me conformo com a resposta de elevação dos níveis de consumo das massas. obviamente, em geral, mais renda implica mais consumo, causa mais consumo. mas diz-se que a nivelação dos montantes de consumo per capita é um requisito para a própria paz e estabilidade do sistema político. no Brasil, ainda não recuperamos os 0,50 do índice de Gini de 1960.

ainda hoje repeti algo que já vaticinei aqui. o século XXI verá a implantação da renda básica universal, mas esta nascerá respindango sangue, suor e lágrimas. não será fácil. a rapaziada que hoje se encontra nos postos de mando apega-se ferrenhamente a sua rapadura. no final do século, ela será substituída por outra rapaziada que também vai apegar-se. mas pode ser que a renda básica vena até antes de 2099. um dos requisitos deste esquema é o entendimento de que os postos de trabalho deverão ser racionados. mas hoje o que vemos é que:
.a. o brasileiro ingressa mais cedo (pode, parece, a partir dos 14 anos)
.b. o brasileiro sai mais tarde (FHC, galantemente, elevou de 70 para 75 anos o limite da aposentadoria por idade, requerendo 15 anos de contribuição
.c. o brasileiro trabalha mais horas por dia
.d. o brasileiro trabalha mais dias na semana
.e. o brasileiro tem menos férias no ano
.f. o brasileiro é, 25% (ou seja, 20 milhões), um trabalhador precário

rapidamente li Paulo Ghirardelli, na p.66 de seu livro de introdução ao pensamento de Richard Rorty, mas não posso deixar de esquecer: "o sofrimento, a humiliação e a crueldade" são a regra e não a exceção.
DdAB
a imagem veio daqui e rolou quando pedi pelo título da postagem... e a Faye Dunaway é linda!

08 abril, 2011

Fervilhando: tem história criminosa (THC)

querido blog:
todos sabemos que sou profundamente otimista quanto ao futuro e altamente pessimista quanto ao presente. para mim, na verdade, o presente não é tão mau. ou melhor, o presente não foi tão mau, pois aquilo que chamei de presente (pelo primeiro teorema da idada, que assevera que nunca fui tão velho quanto hoje) já virou passado. e agora novamente. para muito mais gente, vale o viver mal e para outros não tantos vale o viver bem, viver ótimo, viver otimamente.

que quer dizer fervilhar? notícias. notícias fervilhantes. o país está fervilhando em notícias. lamento dizer que nem todas vêm do lado do bem. bad news are good news, diz-se. à propos, lembro de uma das piadas da Mafalda, em que Suzanita, muito feliz, respondeu a uma indagação de Mafalda. esta quis saber se tanta felicidade estampada no rosto da amiga significava o fim das mazelas do mundo. Suzanita disse não saber se iria para o noticiário internacional, até achava que não, mas tinha certeza de que a inauguração de seu par de sapatos novos era o acontecimento do dia.

ontem falei dos R$ 30.000 dos juízes e das professorinhas muito do mal pagas. ontem mesmo o mundo carioca fervilhou. um rapaz, com cara de malvado, agora já morto, malvado, pobre e de baixo nível educacional, assaltou uma escola em que se graduou no primeiro grau (gradua-se em até que grau?), de 23 anos, e assassinou pilhas de crianças, com claro viés contra as garotas, apenas ferindo (apenas? que digo?) os meninos.

ontem, Zero Hora (página 12) publicou um trecho de uma fala do governador Tarso Genro, ao dar a aula magna da UFRGS, universidade que me graduou em economia e que, em continuação, deixou-me ser professor da disciplina, para encantamento de meus familiares, inclusive myself. disse o doutor Tarso:

Na minha época, a gente não fumava (tetra-hidro-canabinol) não porque não tivesse vontade. Era porque as condições que a gente vivia, traqbalhando na clandestinidade, não permitiam adicionar mais uma questão de segurançã. Apenas por isso. Mas dizem que é muito saboroso.

hoje o mesmo jornal (p.19) publica um artigo assinado pelo dotouro Sérgio de Paula Ramos, intitulado "psiquiatra, psicanalista, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas". claro que é uma resposta do exemplar nanico dos gaúchos, os dois nanicos, penso, ao governador do estado, o doutor Tarso, de muitas declarações desastradas. mas esta parece refletir suas -se não redundo- suas reflexões e de seus servidores mais próximos sobre o mal que comércio ilegal de drogas provocou na sociedade brasileira. ele, o tráfico, colheu milhões de vidas, entre civis e militares. destruiu milhares de famílias, dos mais variados matizes. e acabou com o sistema carcerário nacional. acabou praticamente com a vida comunitária. acabou com as escolas, viciou a juventude, corrompeu até os papeleiros, que se fingem de cordeiro, ou de burro, cavalo, esses semoventes que movem carroças no meio urbano.

pois o doutor Paula Ramos citou "A prestigiosa revista British Medical Journal" e um artigo de acompanhamento longitudinal de usuários de maconha. eu tremi. se é longitudinal não é meta-análise. então o que li em continuação reflete a ideologia contra a maconha do psiquiatra e psicanalista. eu, na condição de doutor em medicina, epa, epa, doutor em economia, achei que ele não mencionou o problema econômico. a regulamentação pública só pode acontecer em mercados legais (ou melhor, no gigante adormecido, sabe-se lá). ele fala que "Mecanismos eficazes de controle estão bem delineados." parece-me que o nobre colega nunca ouviu falar em lei da oferta e procura que, sabemos, é mais insinuante do que a lei da gravidade. e, como tal, hierarquicamente superior às leis da biologia. papo moluscular.

depois ainda dá outro carteiraço. cita a OMS que, sabemos, é um fracasso neste tipo de palpite. já postei a respeito. a Carta Capital tem mais de uma matéria acachapante, mostrando quem é que se beneficia deste tipo de posição da OMS. não contente com isto, coloca-se à disposição (consultoria?; de minha parte, claro que eu venderia meus serviços de economista, se quisessem comprar para o programa de 20 anos de legalização, privilegiando o conceito de droga recreativa) para (bem, leia você mesmo):

Como os profissionais da saúde que lidam com a questão encontram-se bem preparados para colaborar na elaboração destes programas, colocamo-nos à disposição.

para concluir de encerrar o dia de hoje, a capa de Zero Hora estampa em boxezinho pequeninho:

Depoimento: O dilema de mãe assaltada em casa. Em texto, advogada reflete sobre a pergunta do filho: 'o nosso bandido era bonzinho?'

cara, bicho, gente, indivíduo, cidadão, meu teu seu! ou seja, cada um de nós já tem um ou mais (um team) bandido a seus serviços. claro que os bons bandidos oferecem "goods" e os maus oferecem "bads", não é isto? num país em que o convênio com o centro acadêmico suíço para permitir a sua empresa júnior administrar a justiça está demorando mais que educação pública de qualidade... é claro que o guri do Rio de Janeiro poderia estar absolutamente isento de qualquer ligação com a maconha na condição de ofertante ou demandante. mas ele certamente leva no peito - além das balas da polícia - a marca do tráfico de drogas, que destruiu a justiça e, mais que isto, toda a sociedade brasileira. a sociedade foi destruída e está tentando recompor-se do melhor jeito que pode. a mãe do guri que não sabia se seu assaltante era benévolo citou Delfim Netto (foi ele?; ela disse que foi): a saída é no aeroporto. eu fora, ou melhor, eu dentro: eu fico aqui. resistirei até o fim. o fim deles, by the way, porque parece que macaco gordo é que quebra galho. com R$ 30.000 -praticamente com a mesma alíquota do imposto de renda de uma família de faxineira e motorista - não há silhueta que não se torne sinuosa!
DdAB
foto do aeroporto do Galeão: aqui.

07 abril, 2011

O STF e as Professorinhas: a tale of two wages

querido blog:
estou romanesco. com licença poética de falar em "wages", da terra de Shakespeare. mas quero referir-me às professorinhas, que recebem "vencimentos", pois são funcionárias públicas. também os juízes do supremo estão infensos a esta terminologia um tanto smithiana de dividir o mundo entre salários e lucros. eles, os juízes, ganham "vencimentos". comme les demoiselles.

e daí? daí que o supremo obrigou os estados brasileiros a pagarem R$ 1.200 por mês para cada professorinha, por 40 horas de trabalho. se cumprirem, será a redenção do Brasil em menos de 10 anos. se não cumprirem, não será nada, nem a condenação final, que mudanças geológicas não têm pintado por estas bandas, o que nos leva a pensar (e desejar) que o Brasil não seja varrido do mapa. mas o que eu pensei é que, se os juízes devem ganhar 30 vezes mais do que as professorinhas, eles estão se qualificando para passar dos modestos R$ 30 mil atuais para precisamente R$ 36 mil, um acréscimo de 20%, comparado com o de infinito por cento das garotas que nada recebem e decidirão tornarem-se professorinhas.
DdAB
imagem do site do professor Ghirardelli, divulgador de Richad Rorty, também ele filósofo da educação.