19 janeiro, 2011

O Número Pi, a Cábala e Eu

querido diário:
eu, como sabemos, na condição de cidadão brasileiro, participante ativo da distribuição da renda nacional, tenho um CPF, que um desditado (qual não o é?) governo transformou em CNPJ (ou em sei lá quê). meu CPF, andei alegando, pode ser encontrado a certa altura das casas decimais do número pi. ninguém ainda informou tê-lo encontrado, mas parece que -no Texas- um computador segue calculando.

em compensação, nas p.267-275 do volume 3 das Obras Completas de Jorge Luis Borges, inserido no livro "Siete Noches", vemos o ensaio "La Cábala", que trata do mesmo tema. já no título, reli coisa que escrevi e retirei das páginas interiores: cábala quer dizer 'recepção' e 'tradição'. já decidira dar uma olhada com mais vagar nesta coisa toda. fui agora (fui agora? agora não é presente e fui não é passado?) à Wikipedia (aliás, quando abri seu amiguinho Google, encontrei esta peça de arte, comemorando os 107 anos de Paul Cézanne (a verdade verídica é que, antes mesmo de ver bem, pensei que fosse um Monet, mas -ao fixar-me nos pêssegos- juraria, de olhos fechados, ser obra de Paul himself).

Cabala (alternately Kabbala(h) or Qabala(h)) may refer to one of several systems of Mysticism:
Kabbalah, the religious mystical system of Judaism
Practical Kabbalah, an agglomeration of all the magical practices that developed in Judaism from the Talmudic period down through the Middle Ages
Christian Kabbalah, the Christian application of Jewish Kabbalistic methods
Hermetic Qabalah, a Western esoteric and mystical tradition drawing on Jewish Kabbalah and other sources
English Qabalah, one of several different systems of Hermetic Qabalah that interpret the letters of the English or Latin alphabet as number and symbol.

não me atemorizei. decidi meter bronca logo no primeiro verbete. li diagonalmente, não é bem minha praia, mas jurei que lerei mais detidamente: It is a set of esoteric teachings meant to explain the relationship between an eternal and mysterious creator and the mortal and finite universe (his creation).

claro que estamos falando do mesmo conjunto U* e seu subconjunto U - o universo conhecido. e mesmo do eterno retorno. será que o creator (eles escreveram "Creator") já criara outros? ou criou simultaneamente a U algum outro U1, U2, U3, U...? e será que o eternal creator não responde apenas pela ideia de panteísmo? ele é tudo e tudo é ele, e o 'tudo' é maior do que aquilo que podemos ou poderemos ver?

a abordagem de Borges é interessante par elle mêmme. não transcreverei nem, menos ainda, tentarei resumir. seja como for, o que me fascinou -e não é bem retirado diretamente- foi a possibilidade de que as letras é que são os verdadeiros átomos da construção do Universo Estrela, ou seja, o universo mais amplo que podemos imaginar e que não podemos (epa, agora já continuei com Rorty), o universo que contempla todos os U* que podemos intuir poderão existir, infinitos, infinitos, crescendo ao infinito, decrescendo ao infinito, ninguém podendo jamais dizer que chegou ao fim, nem ao começo, nem que desceu o suficiente para dialogar com a mais elementar de todas as partículas, com o Aleph (nada a ver com o texto de Borges, apenas com o outro texto de Borges).

e, se é verdade que a ordem das letras e mesmo -mais radicalmente- sua pronúncia podem alterar tudo, tudo o que podemos imaginar que seja contingente, haveria outros planetas em torno do Sol, haveria outros universos não abarcados por U*, nem pelo Universo Estrela. haveria outro alfabeto. e tudo, de acordo com certos universos contidos num simples U*, poderia estar contido no caroço de um daqueles pêssegos de Cézanne (ou naquele outro troço ali ao lado que parece uma Cassatta Sttella Alppinna.
DdAB

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