20 novembro, 2010

Hora da Onça Beber Água

querido diário:
tem um belíssimo artigo de Cláudio Moreno na p.7 do Caderno Cultura de Zero Hora de hoje que me fez exultar por dois motivos. o segundo, do qual não falarei, diz respeito ao eventual abuso por redundância da expressão "pessoa humana". talvez eu fale nisto amanhã. mas explico. fui ao Google Images para buscar uma ilustração para a postagem que pensava fazer sobre a diferença entre pessoas e indivíduos humanos, ou melhor, os designativos de gente como a gente. fosse agora o que aconteceu há pouco, eu começaria procurando isto, lá no Google Images, "gente como a gente". não fiz, não procurei. o que procurei são as três imagens que hoje exibo e que, por razões de incompetência, perdi completamente a possibilidade de rastrear.

no uso figurado de onça bebendo água (que vemos na figura 1), achei engraçadinha a seguinte caricatura (fonte identificável judicialmente). eu, que não ia mais falar das eleições, não estou falando, né?, apenas escrevendo... ao capturar a imagem, nen notara que, além de biciclo x triciclo, temos rodas tipo A e tipo B. também, pudera, torna-se claro o que levou à derrota de Serra!
e também capturei a seguinte, que me lembra a sigla sei-lá-daonde, talvez militaresca, talvez da Força Expedicionária Brasileira que lutou na "campanha da Itália", o que não foi meu caso... falava-se que BTL não era propriamente signa de "batalhão" mas de bafo de tigre louco. acho que é pouco para essa viagem de lutar em guerras.
o milico ao lado tê-lo-á sentido, se é que onças e militares ainda usam mesóclises, coisa que faço, contrafeito, pois é reveladora de minha idade e da escorreita alfabetização a que fui submetido no final dos anos 1950.

pois bem, cadê a ligação com a crônica de Cláudio Moreno? mesmo falando de "pessoa humana" (inspirando-me para falar, talvez, domani), ele iniciou fustigando um certo subclube de submacacada que fala coisas como "hora de a onça beber água". diz ele:

[...] é português do melhor quilate combinar a preposição com o artigo que acompanha o núcleo do sujeito ('na hora da onça beber água', em vez do artificial 'na hora de a onça beber água'). [tudo sic]

eu anotei isto aqui e enchi de onças, políticos e milicos a fim de lembrar que Moreno diz isto, que isto é bem-dito e que admito que a primeira forma moreniana para a onça beber água é muito mais sonora. e que aprendi português há anos. e que andei defendendo que já falamos brasileiro. e que a idade me impede de adotar plenamente as estúpidas e desnecessárias regras do novo português brasileiro de 1st/jan/2009, exceto quando escrevo a palavra "ideia" (cá entre nós, para os gramáticos da academia de letras, estas (ambas, letras e idéias) é que estão faltando...). claro que não me ocorreria esta explicação (que já me foi dada pelo Prof. Conrado Abreu Chagas), essa questão do núcleo do sujeito. lá ia eu lembrar-me que sujeitos têm núcleos? o ponto é que a questão do núcleo deve dizer respeito ao gramático e não ao falante. e o falante tanto fala que, no final das contas, muda a própria regra. esse negócio das preposições ainda vai receber enormes censuras populares e veremos tudo mudado, quando o português brasileiro tornar-se uma canopla de idioletos, se bem lembro a expressão de Roland Barthes, no sentido de comunidades de poquíssimos falantes.

e não lembro se já citei aqui, que li há poucas semanas, a p.329 do primeiro volume da edição de 2008 das obras machadianas completas. estamos em "A Mão e a Luva": "são horas da baronesa dar seu passeio.". cara, bicho, gente, indivíduo, pessoa! é o descolamento da preposição ao núcleo do sujeito. é machadiano. é Moreno. é claro, há muita gente precisando reencarnar para não ser "maven", na linguagem de Stephen Pinker. bye now.
DdAB

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