22 agosto, 2010

Desemprego + Depressão = Drogas

querido blog:
ando envolvido na revisão da revisão etc. do livro de contabilidade social. um dia termina, disseram-me, para que eu não fique excessivamente deprimido com a tarefa que já ingressa no quinto ano. por isto, as postagens, que se encaminham ao meio milheiro, escassearam, ou seja, nem tanto, mas talvez eu nem consiga alcançá-la -a 500a.- em agosto. e daí?, indagaram-me.

isto implica logicamente que ontem vi um artigo interessantíssimo no caderno Cultura de Zero Hora (p.6): Homens ainda choram? (depressão masculina), de Luis Hornstein. achei tudo muito interessante e destaco algumas coisas. ficará evidente a razão que me leva a postar como "Economia Política"? primeiro: enriqueci meu vocabulário:
.a. labilidade: "instabilidade emocional: tendência a demonstrar, alternadamente, estados de alegria e tristeza"
.b. astenia: fraqueza orgânica; debilidade, fraqueza.

sobre astenia, lembrei de que conheci pelo menos um Sr. Astênio. se fosse para debilidade, deveria ser seu coração de manteira, um dos homens mais generosos que já vi, em Campo Grande, no Mato Grosso, há 50 anos. ou não?
s trechos:
sobre a doença, que encaminha ao desemprego, e vice-versa, seleciono alguns trechos:

Os deprimidos têm uma visão pessimista de si mesmos e do mundo, um sentimento de impotência e de fracasso. Seus dias são uma cansativa sucessão de rotinas e pesares, sem as pequenas “faíscas” de alegria da pessoa comum e quase sem motivos de deleite (intelectuais, estéticos, alimentares ou sexuais). Como se à vida faltasse cor, sabor e sentido. Nem todos os homens são silenciosos e vivem morrendo de abatimento. Alguns ocultam o vazio interior com o ruído da violência, o consumo de drogas ou a adição ao trabalho. [...]Há alterações nas funções cognitivas, na linguagem e nas funções vegetativas (como sono, apetite e atividade sexual) os quais costumam afetar o desempenho social, do trabalho e interpessoal. [...]A opressão se expressa na temporalidade (“não tenho futuro”), na motivação (“não tenho forças”) e na autoestima (“não valho nada”). Sentem-se esmagados por certa desesperança que os impede de contar com a energia necessária para formular novos projetos e deixar de remexer, nostalgicamente, as cinzas do passado. Porque o futuro, diferentemente do passado e do presente, tem que ser inventado. Porque inventar é uma brincadeira. E essas pessoas não sabem brincar ou sabem, mas esqueceram. [...] O alcoolismo e as adições, sem serem exclusivos da depressão masculina, às vezes se somam a ela como o outro lado do vazio depressivo. (E sabemos que o trabalho, os jogos de azar, etc. também podem ser adições). Depressão e adição formam um círculo vicioso. Busca-se a euforia artificial para escapar da apatia depressiva, mas o alívio é passageiro. O dano, ao contrário, é duradouro e acentua o sentimento de culpa.

daqui sai muita coisa, mas começo com dois dados trazidos mais para cima, lá no artigo. nos Estados Unidos, país sabidamente maníaco por estatísticas, se o termo não está inadequado e adequadamente definido... são seis milhões de indivíduos envolvidos anualmente, com um prejuízo social de US$ 48 bilhões. não preciso ser um excel para dizer que a sociedade gasta com cada deprimido a cifra de US$ 666 dólares mensais. mania de número? então que tal este 666?

em outras palavras, a sociedade sairia ganhando pelo menos US 1/deprimido/ano, se conseguisse subornar cada um deles com não mais de US$ 665 mensais. é uma coisa de louco. é a renda básica! é o efeito do desemprego sobre a moral e os bons costumes. por falar neles, é claro que um aliado potente da depressão é o consumo de drogas. por isto, selecionei no Google Images a imagem acima, retirada do site acessável com um (
clique aqui, e que contém certo ar religioso).

a primeira reação a estes números só pode ser de incredulidade. deve estar errado. a renda básica não se justifica apenas por este tipo de situação, mas claramente haverá cifras menores que também favorecem a hipótese de modificações nos arranjos societários que conduzirão nossos netos às estrelas. os arranjos societários que começam hoje a ser costurados para o resto da transição do século XXI para frente. na primeira constituição da república do Brasil, revogada pelos militares, falava-se que "todos os brasileiros terão direito a emprego que lhe possibilite existência digna". foi cassado, nem todo brasileiro garrou este tipo de emprego e o que aconteceu foi que as drogas tomaram conta, destruíram o Brasil. precisamos, eu e as gerações futuras, pensar em como reconstruí-lo, o que ainda não dá sinais severos de iniciação.

o lado alegre de tudo isto é que a campanha eleitoral tem dois candidatos, a famosa chapa Serra-Dilma, que prometem renda básica universal, ou melhor, prometem ampliar a abrangência da bolsa-família. a renda básica universal tem tantas vantagens sobre a bolsa família que concluo que jamais será implantada. mas a bolsa família já é alguma coisa, tento -a meu ver- a desvantagem de incentivar a natalidade e exibir custos de transferência do dinheiro elevados.

o lado rebaixador de preços do sistema em que vigora a renda básica é que o salário de equilíbrio do mercado terá que subir, o que reduzirá o emprego e, como tal, também fará os preços caírem, permitindo até mesmo a elevação do valor da renda básica. deflação? talvez. certamente elevação do poder aquisitivo da moeda. o paraíso, a liberdade. cartão vermelho para as drogas.
DdAB

2 comentários:

Sílvio e Ana disse...

Grande Duilio! Vamos lançar a campanha: "Duilio para ministro da economia". Brincadeira, eu não desejaria isso para um amigo. É impossível(?) governar contra a inércia.
(Sílvio)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, rapaz!
sempre pensei que minha profissão ideal seria cavaleiro da inércia, com intenções de controlá-la. quando Alice cresceu, em seus anseios por diminuir, ela imaginou-se como um telescópio e pensou: "não deve ser difícil, desde que saibamos o comecinho". eu imaginei que um toquezinho (por exemplo, o voto voluntário, ou o parlamentarismo, ou a renda básica) faria todo o serviço.
DdAB