31 julho, 2010

Armários da Natureza

querido blog:
desde que aderi à campanha "Ateus, Saiam do Armário", fiquei pensando exatamente o que significa ser ateu, essas bobagenzinhas que tomaram a atenção dos filósofos desde as mais tenras eras, ou seja, definitivamente menos de 10.000 anos, mais ou menos por definição. Revolução Agrícola e história da humanidade andam de braços dados. e ontem mesmo reli pela primeira vez no livro "Camera Obscura", de Angelica Gorodischer, que a datação atômica dá oito bilhões de anos de idade para o universo e quatro para o sol.

como é isto de ler e reler ao mesmo tempo? é simples: eu já lera isto, e acrescento, para provar minha seriedade no tema, que também li que a vida nasceu na metade dos quatro bi terranos, ou seja, há dois bilhões de anos. se compararmos nossos 10.000 com esses 2.000.000.000, veremos que ainda há muito a ser conquistado, a fim de que -por exemplo- alcancemos a sabedoria de uma bactéria ou de uma pteridófita.

ainda assim, nossos antepassados orientais alcançaram tanto conhecimento, tanta revelação que até leva os desavisados a pensaram que "os deuses eram astronautas", essas coisas. a verdade é que não podemos negar que a paternidade da vida ou mesmo de algum atalho posterior seja alheia à visão evolucionária. a última das últimas de que tomei conhecimento foi-me passada por Richard Dawkins, no livro "História da Evolução", em que ele fala em "baby universes", universos sendo criados, evoluindo e obedecendo a determinados conjuntos de leis. estas, uma vez assentadas, levariam a consequências evolucionárias previsíveis.

ele mesmo, Dawkins, em outro livro, mostrou uma forma de se calcular a probabilidade da ocorrência de vida (como a conhecemos) em outro canto do universo e chegou a um números proximíssimo a zero. eu calculo em 99,99%, ou melhor, acho absolutamente certo que haverá vida obedecendo ao mesmo princípio que rege nossa própria vida: um átomo se agrega a outros átomos e estes criam uma molécula que é capaz de se autorreproduzir.

aí falei em um meio líquido pesado, como o mercúrio e especulei sobre o proveito que teria conversar sobre isto com um conhecedor de química, a fim de equacionar a possibilidade de que o meio (homólogo à água) permitisse a formação de alguma cadeia homóloga à formada pelo quarteto Carbono-Hidrogênio-Oxigênio-Nitrogênio e a ela fosse agregando outras miudezas até chegar, por exemplo, ao olho de um inseto. e ontem li que Calixto ou Júpiter ou Saturno, um troço destes, tem "estações do ano" e mar/mares de metano. o evolucionismo poderá fazer um teste popperiano: juro que, in due time, aparecerá um homólogo da vida por lá. se é que não apareceu e que teria sido ela mesma que nos jogou no mundo, bactérias e economistas.

e será que existe alguém na origem do Aleph, ou seja, do ponto que envolve todos os demais pontos? alguém criou este ponto? o ponto existe? ateus mais sofisticados aceitam que Deus é sinônomo de Natureza. ou seja, existirá um designativo para tudo o que existe, podendo ser também Universo, Universo Ampliado, Universo Ampliado OSLT, Universo Ampliado OSLT Algo Assim. parece inegável que existimos, parece inegável que Déscartes tinha razão: se temos razão é porque portamos algo para tê-la, que a tem. e apenas portamos algo porque, digamos, existimos. devemos conformar-nos com isto.

primeiro, ganhamos nossa vida de presente de nosso papai e nossa mamãe. depois, eles também ganharam as suas de presente, voltando nos tempos até os oito bilhões de anos atrás, quando a explicação científica cessa, se bem sei a fronteira da física. mas tenho conjeturado que as dimensões espaço-tempo-matéria-energia deslizam ao longo de outra, um Aleph Linear oslt que, esta sim, seria o grande canal...

Lavoisier teria a formulação bem conhecida dos frequentadores dos restaurantes universitários de meus tempos acadêmicos: na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. acho que é isto: nada foi criado, o conjunto original pode ser chamado de Deus, Natureza, Universo, o que queiramos. os hindus já sabiam, se não todos, pelo menos os mais sabidinhos. a natureza, deste modo, é um armário que guarda leis que geram universos, um armário portador de caixinhas que portam leis, que portam outros ingredientes que nem sabemos quais são, mas saberemos, que misturam-se e formam universos que nascem e morrem, como as bactérias, os mosquitos e os hipopótamos.
DdAB
p.s.: no site, eu disse que construíra um blog, a fim de "fazer postagens diárias ou quase". pois forcei a barra, desde não-sei-quando, para -em julho- fazer 31, ou seja, uma postagem por dia. consegui. não sei se tentarei em agosto. se não postar amanhã, babaus...
captura da imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.bananacraft.com/blog/wp-content/uploads/2008/08/armario.jpg&imgrefurl=http://www.bananacraft.com/blog/casacraft/2008/08/21/organizando-o-craft-room-parte-ii/&usg=__ueLcevg4pAIhZakDbrdub4QGOOo=&h=584&w=673&sz=71&hl=pt-BR&start=0&tbnid=8SC41kPVLYEmoM:&tbnh=132&tbnw=183&prev=/images%3Fq%3Dnatureza%2Bdo%2Barm%25C3%25A1rio%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26biw%3D1024%26bih%3D415%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=rc&ei=sPxTTIPPNoP58Aa4pZj3Ag&page=1&ndsp=11&ved=1t:429,r:8,s:0&tx=92&ty=49. se nada encontrei com "armários da natureza", buscando "natureza do armário, veio esta linda foto...

30 julho, 2010

Drogas Acachapantes e Liberdade Educacional

querido blog:
para falar sobre drogas, nossa primeira sentença deve endereçar-se a responder à seguinte pergunta: "com qual teoria da ação humana estamos trabalhando?" digo isto porque tem muito neguinho abobado que pensa que o consumo de maconha causa no sentido cartesiano o consumo de crack. eu entendo que a maconha causa, sim, o consumo de crack, no sentido de Granger, e o faz da mesma forma que também causam o consumo de crack (ou seja, precedem cronologicamente) a escovação dental e a prática de exercícios abdominais. e milhares de outras ações humanas.

o que falta para esta gente é uma boa teoria da ação humana. mas também lhes falta a leitura -já nem digo de um bom livro de teoria da escolha pública- de um bom livro de lógica moderna. é preciso pensar logicamente, quando queremos dar foros de seriedade ao que divulgamos. este blog é uma prova cabal de que nem sempre queremos fazê-lo... ou seja, este blog contém piadinhas. ao mesmo tempo, este blog -e milhares de outros- têm exposições escorreitas sobre assuntos palpitantes para o futuro da humanidade.

no caso, estou discutindo o que acontecerá ao neto do macaco carnívoro se os governantes e seus acólitos enrustidos na sociedade aceitarem o conceito de "droga recreativa", como eles mesmos já vivem fazendo, com consumo de açúcar, de álcool, de café, e... nem me ocorrem drogas mais perversas, ainda que mais pesadas. para não falar no consumo de morfina em repartições púbicas (cuidado: não me estou referindo ao Congresso Nacional, mas aos hospitais de pronto-socorro públicos...). a sonolência de muitas repartições em que o consumo de morfina é proscrito deve-se apenas ao sistema de incentivos usado pelo governo em sua tradicional incúria na ação a favor do interesse coletivo. Es ist undere Geshichte, se lá mal não grafo, isto é outra questão!

outra estupidez dos falsos profetas é pensarem que a lei da gravidade, digo, a lei da oferta e procura, é coisa de livros de ficção. eles, com esta visão simplória e periódicas tentativas de revogação da lei da oferta e procura (consumação em bares e meia-entrada no cineminha), deixam que o problema de saúde pública do consumo de drogas indesejáveis socialmente seja convertido em um esquema de criação de incentivos a indivíduos eticamente comprometidos (isto é, ladrões, traficantes, políticos) e que culmina por viciar a juventude de todas as classes sociais, mas especialmente os jovens de baixa renda. o problema de saúde pública tampouco pode esconder outra dificuldade, talvez, sociológica, a deterioração familiar, os desequilíbrios mentais puramente originários das forças da natureza, e por aí vai.

na linha da busca de um tratamento decente para a questão, deveremos cair no tratamento decente para os viciados e no tratamento decente da ciência econômica, pensando nessas banalidades encapsuladas nos conceitos de bens públicos e bens de mérito. e bens semi-públicos, como a educação. droga recreativa que for dispensada em "caixinhas faixa preta" e tiver um preço convidativo transformado em negativo por meio de impostos indiretos não tem razão para ser proscrita. não devemos esquecer que o imposto pago pelos consumidores de crack é zero. mas o problema é que o imposto pago pelo produtor também é zero. e aí começa a leitura econômica do problema: como fazer os produtores pagarem e os consumidores não pagarem? torna a produção legal, fiscaliza-a com a maquinaria da arrecadação tributária governamental, moderniza esta maquinaria, e distribui a droga nas salas de consumo especialmente criadas, sem a intervenção da polícia, mas dos sanitaristas. usando uma imagem imperfeita (politicamente incorreta): é tiro e queda.

este tipo de encaminhamento deriva-se da teoria da ação humana com que estou trabalhando e tenho esgrimido-a diversas vezes nestes escritos. primeiro, acho que quem não age racionalmente deve ser retirado do processo de escolha social, ou seja, não tem voto para preso, criança ou louco, desde que interpretemos com inteligência esta legenda. não vai me dizer que eu digo que louco não pode escolher a roupa, desde que não queira andar despido em público... pois bem, eu digo que qualquer ser humano prefere comprar manteiga, maconha, crack, livros fáceis, livros difíceis se o preço é zero. ok, ok, não é qualquer, mas buona parte si.

segundo, eu digo que o produtor de crack, maconha etc., estará mais interessado nos lucros e acres do que na saúde da clientela. 'beba com moderação" é uma legenda um tanto falsa do produtores de cachaça, assim como o produtor do tabaco não está interessado nos pulmões, ainda que fumante morto não seja mais consumidor... outra questão é o underegeshichte da regulamentação da ação pública. tem que ter governo honesto e tem que regulamentar honestamente. e fim.

então o esquema de produzir legalmente e distribuir a preço zero pode resolver o problema, dada a premissa de que o governo é honesto. e claro que há organizações não governamentais suíças especializando-se em fiscalizar ações de desonestos e, em breve, em criar incentivos para os funcionários claudicantes, tornando-os honestos. suíço é fogo...

e que fazer para que a população não acorra aos magotes nos postos de distribuição de drogas? muito simples, trancafiemo-la, desde tenra idade, em escolas. a educação é a chave da liberdade humana, mesmo sem querer, ela nos dá o primeiro curso de teoria da escolha pública, nos leva a aceitar a liberdade de terceiros, normalmente, as crianças mais sabidinhas da escola e mesmo as mais passíveis de serem colocadas na roda... liberdade é direito de escolher, como disse nosso grande líder (nada de falação sobre o velho Chile) Milton Friedman. e o exercício da liberdade é, obviamente, não exibir a condição de escravo das drogas ou de seus comerciantes e distribuidores! porque, afinal, que é a educação senão o farol que ilumina nossa capacidade de determinar nossos objetivos na vida e a alavanca que nos impulsiona a lutar por eles?
DdAB:
captura da imagem: comecei buscando: "ratos alcoólatras", expressão que escrevi e será publicada em breve no livro de contabilidade social, nada achei no Google Images, mas vi referência a quase 90 mil sites. então fui a "ervas medicinais" e achei o segundo. as drogas aculturadíssimas pela mão humana que ali vemos são acachapadas no almofariz, mas não apenas por ele...
sobre ervas medicinais: http://fitoenergetico.wordpress.com/2009/08/02/italianos-testam-ervas-medicinais-contra-o-alcoolismo/
sobre ratos alcoólatras, nunca vi um endereço tão grande; pode até trancar máquinas: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.asdicas.com.br/wp-content/uploads/2010/06/Ervas-medicinais.jpg&imgrefurl=http://www.asdicas.com.br/ervas-medicinais/&usg=__FbBe_E5x07KxSkThbSsA0N_B8Mo=&h=335&w=455&sz=58&hl=pt-BR&start=0&tbnid=Q3u7YEPSNOqOIM:&tbnh=118&tbnw=173&prev=/images%3Fq%3Dervas%2Bmedicinais%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26gbv%3D2%26biw%3D1024%26bih%3D415%26tbs%3Disch:10%2C3&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=124&vpy=100&dur=1891&hovh=193&hovw=262&tx=95&ty=218&ei=Ss1STNnqJMH78AbT7qyBAw&page=1&ndsp=11&ved=1t:429,r:0,s:0&biw=1024&bih=415

29 julho, 2010

Se eu soubesse naquele dia o que sei agora, então...

querido blog:
pode-se ler algo antes de ser escrito? claro, pelo menos de acordo com Carlo Ginzburg e seu maravilhoso artigo sobre o "modelo conjetural", de que não lembro o nome agora, mas que -numa aposta de P$ 1,00 ou até menos- não me seria difícil rastrear. disse Ginzburg às folhas tantas: "por isto [...], a humanidade aprendeu a ler antes de escrever", querendo dizer que os humanóides e sucessores aprendemos a decifrar signos muito antes de saber registrá-los. gostei, claro.

mas no outro dia caíram-me aos olhos outros signos, menos lineares. o signo, a sina do subdesenvolvimento latino-americano. estou hospedado no país de Raúl Prebish, vejo as ruas de Buenos Aires lembrando as de Porto Alegre, uma sujeira e sua causa, a terceirização dos serviços de limpeza urbana a trabalhadores desqualificados, alcoólatras (senti um BTL horrivel originando-se da boca de um deles...), desvalidos. mas não foi apenas o lixo, há informalidades aos magotes nesta capital. mas este ar esculhambado, esculachado, que por aqui vejo não se deve apenas à terceirização dos Serviços Industriais de Utilidade Pública, grupo da limpeza urbana, pois os camelôs, os cambistas e tudo o mais mostra os limites da sociedade igualitária. pode rua organizada com orçamento familiar precário? the answer is no.

e pode saber que este troço não vai acabar bem? se eu soubesse naquele dia o que sei agora, eu não seria este ser que chora, eu não teria perdido a chance de fazer uma crítica radical ao modelo de substituição de importações dos anos 1950s, bem na origenzinha da transformação das teses em ideologias nacionais. hoje eu juro que o problema é a condução da ação de formação da politikon, digo, da política pública, para o mercado de bens e serviços, deixando de lado os demais mercados, nomeadamente, o de arranjos institucionais e o de serviços dos fatores. se eu soubesse, eu teria proibido a imersão do governo na criação de empregos na Petrobrás, empregos que geram desigualdade, pois colocam os ganhos do ascensorista da Av. Rio Branco milhares de vezes acima dos ganhos de um professor titular doutor de qualquer universidade pública ou privada do país. e milhões de vezes acima das professorinhas de primeiro grau.

não é que ontem o amigo de meu amigo Leonardo Monastério chamou-lhe a atenção para o paper de Bacha e Fishlow fazendo um balanço dos últimos anos, um paper de abril mal passado? eles não dizem, lógico, o que acima digo eu. eles são mais, digamos, escorreitos. até fazem certo elogio da industrialização substitutiva de importações, mas sinalizam-lhe contornos muito rígidos e, principalmente, se forem direcionados aos tempos presentes.

se eu soubesse o que está avant la lettre! se eu soubesse o que chegou antes da carta, se eu soubesse antes que fosse escrito, se eu soubesse antes que soubéssemos. parece que não pode. mas, se pudesse, ao sabermos avant la lettre, saberíamos antes de sabê-lo. gosto disto, parece que pode, bastando dar um jeitinho para começar... não deixa de ser um elogio da intuição: primeiro vem o conhecimento ou primeiro vem o flash? não deixa de ser um elogio da sinédoque: se não fosse antes da carta, seria antes da letra D, de desenvolvimento, ou da letra G, de Gini e a mensuração do grau de desigualdade. igualitaristas de todos os matizes, recortes e frações, uni-vos.
DdAB
captura da imagem: http://opinionsur.org.ar/O-preco-da-astucia.

28 julho, 2010

Estabilizadores automáticos da desigualdade

querido blog:
minhas tentativas de formalizar e quantificar todos os fenômenos que consigo distinguir em meu cotidiano levam-me às vezes a, encaminhando-as, formular perguntas esdrúxulas. por exemplo, se o que vemos é realmente dinheiro falso e, principalmente, se o fenômeno de sua emissão afeta o nível geral de preços, por sobrepor-se aos cálculos do Banco Central sobre a equação quantitativa da moeda, precisamos conseguir determinar a magnitude desta influência e cobrar um imposto sobre os beneficiários desta mamata. ou seja, precisamos decompor dP em dR e DL, ou seja, a variação no logaritmo do nível geral de preços resulta da variação no log do resto das variações mais o log da variação devida à ladroagem. bem brasileiro, bem argentino.

por que argentino? porque percebo por aqui outro fenômeno importante e igualmente escalafobético. vi estas ruas tomadas por trabalhadores precários, como a Calle Florida, na noite de ontem, que me lembrou a Rua da Praia, de Porto Alegre,. seu eito central estee completamente tomado por camelôs, com filhos ou agregados de menos de cinco ou seis anos de idade brincando alegremente. tudo ocorria como se aquela via pública fosse o quintal de suas casas, ou do jardim da infância que deveriam frequentar ou da praça da esquina de sua confortável residência. para não falar das dezenas de papeleiros em seus indefectíveis carrinhos, das pilhas de lixo colocadas nas calçadas, da reciclagem estrondosamente grande de papéis, sobras de escritório, cartolinas, papelões, pedintes, vendedores ambulantes, enfin... (isto lembrou-me de Henri Agel ("puisque l'impossible accède à la categorie du vrai, le vrai, à son tour, peut accèdre à la categorie de l'impossible"). [e se "categorie" não se escreve assim?]

qual o futuro de um mundo portador destes contornos? qual o futuro da desigualdade? qual o futuro da ordem e do progresso, da ordem e da bondade? [como sabemos, "ordem e bondade" é o motto que propomos para a Organização dos Povos Unidos, a substituta da Organização das Nações Unidas]. pensei na perversidade de certos estabilizadores automáticos da desigualdade: assassinatos que bandidos (de renda não necessariamente inferior à média) vão inflingindo aos ricos e aos 10% inferiores. da mesma forma, cada atropelamento de trânsito de gente com renda postada nas rabeiras da distribuição (Lorenz) dá lá sua contribuição. este mundo de distopias esbarra em questões filosóficas, políticas e econômicas que transcendem minhas capacidades cognitivas e intelectuais e, portanto, nesta postagem, que é um de seus subconjuntos mais, digamos, vulnerável.

DdAB
captura da imagem: http://img.elblogsalmon.com/2009/12/dinero-falso-1.jpg. procurei: "estabilizadores automáticos". a primeira imagem que veio mostrou a mão de um homem usando um terno ou blazer e colocando um voto ("ballot") numa urna. seria o poder da democracia ou de algo parecido, que não consigo definir, para o encontro da paz social. ou não?

P.S. de 15/dez/2015: às 11h20min de hoje, troquei o nome de Rimbaut lá no alto do texto pelo que consta. A memória falhou ao citar aquele "puisque l'impossible..." E de onde tirei esta citação, eu, que nunca li o mr. Henri Agel? Da epígrafe do livro "O Púcaro Búlgaro", de Campos de Carvalho.

27 julho, 2010

A Vitória do Eslaque

querido blog:
na tarde de ontem, além das baixarias do que andei chamando de "modelo brasileiro de sociedade desigual", vi delícias. pilhas de tangos, guardadinhos em CDs e, o que mais me marcou, pilhas de"rock argentino". no Brasil, o Gini ainda é maior do que o de cá, também usamos bombachas largas, como as da foto. mas o eslaque também fez escola entre nós. não me lembro bem qual foi a vitória de Pirro, o fato é que a vitória do eslaque foi a disseminação de tal maneira bem sucedida que ele, no processo, perdeu seu próprio designativo. passou a chamar-se, simplesmente, calça comprida. é o feminismo, é a vitória do eslaque.

o aurelião não fala em eslaque, o Webster diz: not tight; loose. sempre ouvi falar nos "organizational slacks" da teoria da eficiência X, se não desloco-me para a postagem em Economia Política. não o farei. claro que uma bombacha é uma calça comprida frouxa, mas o eslaque é apertadinho, mas é eslaque do mesmo jeito, pois é mais apertadinho do que uma saia e, mais similar, uma saia-calça. filosofia. filosofia da linguagem, filosofia da moda, filosofia no teclado.

durante muitos anos, a mulher brasileira usou saia, depois, usou eslaque, o que não chegou a ser dicionarizado pelo aurelião. ou seja, trata-se de um neologismo deletado, epa, da língua portuguesa do Brasil. claro que a todos deve ser assegurado o direito de falarmos em eslaque tanto quanto queiramos e em deletar eslaques ou o que quer que seja, desde que não deletemos, ipso facto, os direitos dos demais, a liberdade. para falar em "política", ocorre-me denunciar a liberdade negativa do deputado Aldo Rebelo, que andou querendo proibir o povo de falar como bem entende. por que proibir o gaúcho de usar bombacha? por que proibir a mulher de usar eslaque? (epa, isto já é "oriente médio").

a verdade verídica é que, quando o uso do eslaque se tornou tão frequente quanto o da saia e do vestido, ele passou a chamar-se de calça comprida, para contrastar com a calça curta e, em especial, com a bermuda (vai lá, aurelião: 1.Bras. Tipo de short que vai, ger., até os joelhos.). pode? quem não pode é o Aldo Rebelo, cognominado, em seus ancestrais, por Monteiro Lobato de "Américo Pisca-Pisca".
DdAB
captura da imagem: http://www.bombachalarga.org/ver_materia.php?id=144.

26 julho, 2010

Modelo Brasileiro de Exportação

querido blog:
como sabemos, encontramo-nos em Buenos Aires. ou não sabemos e estamos apenas vivendo outra dessas ilusões que caracterizam os terráqueos? não, não, sabemos, sabemos. mas vi ilusões por aqui que me levam a pensar que estou mesmo vivendo ilusões. a primeira e mais alegre é que hoje, aqui, é o Dia do Avô, condição dos animais superiores em que ingressei no dia 14/junho/2010, ou seja, mais de um mês. há méritos de terceiros, claro, além dos meus incontáveis...

em segundo lugar, sempre que procuro "modelo brasileiro" no Google Images, sobressalto-me. hoje fi-lo (diria J. Quadros) ao perceber que o Brasil exportou o modelo de informalidade urbana também para cá, eu que já o vira em Montevidéu. hoje caminhei montes pelos llanos (diria a velha Lourdette) e vi milhões de papeleiros, mendigos, pedintes, esse tipo de trabalhador (?) precário (?) que enche as ruas do Brasil. há seis anos e meio, quando por aqui vim, a crise severa já passara, mas a população permanecera nas ruas. hoje não vi crianças, ou pelo menos não vi milhões de crianças. tem uma lei, tipo "bolsa família". é o modelo brasileiro, ou o Pres. Lula é que o importou?

terceiro: na Praça San Martin, vi algo chocante. monumento e placas com os nomes de, calculei, mais de 500 jovens argentinos que sucumbiran na aventura dos militares e as Falkland Islands. Las Malvinas son Argentinas. Não foi assim que pensaram outros, mais fortes. também ouvi dizer que esta iniciativa permitiu aos Estados Unidos, chefões de Margareth Tatcher e tudo o que é indesejável no mundo, militarizarem os "mares do sul". doeu-me voltar a entender que, como disse Douglas Hofsteider, não vivemos numa civilização tipo I. vivemos num ambiente classificado como civilização tipo II, em que vigora o Dilema dos Prisioneiros. aqui, meu chapa, cooperação e competição se alternam, dependendo da estrutura dos pay-offs.
DdAB
captura da imagem: http://www.ditecblog.com.br/wp-content/uploads/2009/11/perguntas11.jpg. esse troço de "modelo brasileiro", que virou tomada de energia elétrica é um absurdo em si. agora temos que comprar tomadas de três pinos (ou seja, positivo, neutro e negativo) quando todas as fiações dos próximos 2.500 anos, no Brasil, serão de apenas dois fios. sobraram milhões de engates na tomada para o "neutro", gerando lucros para os vendedores das novas e revolucionárias manifestações da civilização brasileira no eletrochoque.

25 julho, 2010

Fatos econômicos e dificuldades de raciocínio

querido blog:
nem sempre os raciocínios são espúrios, às vezes conseguimos articular ideias interessantes em torno da mesa. às vezes, também, certos raciocínios mais elaborados dão um sono...

eu pedi para dormir ao ler, ao lado de minha tradicional Zero Hora, o Jornal do Comércio abarcando a sexta-feira-ante-ontem e o restante do fim-de-semana. pois lá, na p.2, vi a seguinte declaração do ilustrado Senhor João Guilherme Ometto, vice-presidente no exercício da presidência da FIESP. eu disse "FIESP", a maior instituição empresarial do maior estado federado ao velho Brazil cabralino:

O sentimento quanto à decisão do B[anco] C[entral] [de elevar a taxa de juros dentro de seu programa de "metas de inflação"] é de repúdio. O Brasil não pode continuar entre os campeões mundiais de maiores taxas de juros. Esse título é péssimo não somente para a nossa atividade econômica, mas para toda a população.


pensei: cara, bicho, gente: péssimo para a atividade econômica? não cresceu 9% início do ano? não é que estão usando a taxa alta para refrear a demanda, que a atividade econômica está acelerada, adiante da capacidade instalada que, por incapacidade, não alcança a demanda com preços estáveis? péssimo para toda a população? não é que tem um nível de emprego (e até acho que haverá manipulações metodológicas, sei lá) enormemente elevado? não é que tem um Gini caindo ao longo do tempo? repensei: obnubilação de raciocínio, paralaxe, essas coisas!

e também pensei, sei que penosamente, que pode ser que a tendência mundial de elevação das taxas de juros -apontada por muitos como sendo a volta do capitalismo, ele que nem sumira- pode ser resultado de um complô internacional pela elevação da taxa de lucros da economia: uma conspiração estado-capital. isto faria com que o mercado, em particular, o de trabalho, perdesse em sua refrega contra o capital. mais lucros, menos salários. exceto na linha do que argumentei na postagem de ontem, não é, meu? tem gente que é do contra simplesmente porque não está safisfeita com sua fair share e não sabe como queixar-se às saias da mamãe. cada uma!

ato contínuo, fui lendo, lendo, e cheguei na p.7, em que a manchete assinala que "Investimento externo inicia ritmo de queda", e que as "[r]emessas de lucros e dividendos em 2010 devem superar IED em até US$ 5 bilhões, prevê estudo da UNCTAD". diagonalizei a notícia. olhei mais para baixo: "[r]edução também é atribuída à ausência do País em tratados internacionais". ia começar a diagonalizar, mas parei em:

Para Herman Wever, isso faz muito mal para a economia porque os tratados de investimento, entre outrs funções, protegem os investimentos estrangeiros, tanto deempress estrangeiras no Brasil quanto de empresas brasileiras no exterior. 'O Brasil não só deixou de assinar tratados nos últimos dez anos como perdeu um que mantinha com a Alemanha', afirmou.

eu pensara: não tou entendendo, pois o Brasil experimentou expansão nunca vista nos investimentos diretos estrangeiros de ida e de frida, digo, de ida e de vinda nestes últimos vários anos. então o tratado de que Herr Herman fala não é tão relevante assim. ou haverá algo de obscuro nas nuvens? pois bem, segui pensando, sigamos diagonalizando a notícia, a fim de a olharmos com mais destaque, eis que vejo nela potencial para falar sobre a teoria da grande conspiração, mas -mais do que nela- nas dificuldades de raciocínio provocadas pelo álcool e por outras formas de obnubilação das habilidades cognitivas humanas.

neste caso, peguei a manchete do terceiro bloco de notícias da página 7 (Economia: "Fluxo de IED no mundo cai 34,4% em 2009. a comparação não é 100% procedente, mas achei que não custaria calcular quanto o Brasil perdeu, de acordo com o que eu já vira na capa do jornal: "Remessas do País devem superar IED". e era uma queda de US$ 35 bilhões para US$ 30 bilhões, ou seja, 17%. confesso que não pensei que a queda brasileira menor do que a média mundial não significa enorme elogio da recusa em assinar os tratados internacionais do Herr Herman. decidi ler tudo com o maior zelo. fi-lo. escrevi-lo.
DdAB
captura da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5eu1gr9wqyfoC1CMfsfgg5N00m_p1PNtYSadnZf4NYFdH0K517r4uNSJZs-88yoajgviZ3sh-RVJIuWvCCuH1HC-AvBXvsT6ab3JA9RJinVNrVvnXmLHCxL97OPan5ssH8FfE9VZSRias/s400/MZ05-Alcoolismo-custom;size_392,373.jpg.

24 julho, 2010

Quando pensamos no futuro

querido blog:
quando pensamos em algumas relações empiricamente relevantes, como a que existe entre salários e motivação, motivação e produção e, por fim, produção e lucro, passamos a entender que lucros e salários, se o jogo não for de soma zero, como era, aliás, para os economistas clássicos, estarão diretamente relacionados. a questão transforma-se em distribuição do excedente para distribuição do excedente excedente, ou seja, para os ganhos adicionais, dada uma distribuição original.

isto significa que algumas ideias fordistas, ou seja, da escola francesa da regulação, terão lá sua importância. nem só franceses pensam que uma forma interessante de modelarmos estas questões consiste em examinarmos a distribuição do excedente, ou melhor, dos ganhos de produtividade, ou seja, da redução do emprego para dado nível de produção, ou da manutenção do emprego para elevação na produção, entre três agentes importantes que deverão absorver os ganhos de produtividade:

.a. capitalistas (mais lucros)
.b. trabalhadores (mais salários)
.c. consumidores (menores preços)

na economia competitiva, tendemos a pensar que os ganhos de produtividade acorrerão totalmente aos consumidores por meio da redução de preços. nas economias monopolísticas, capitalistas ou trabalhadores reterão os frutos do progresso técnico. entre outros, se bem entendo, estas eram as teses do estruturalismo de primeira geração, Prebish, Singer etc..

o que a sociedade, por meio de seus arautos, não entende é que um objetivo social é a destruição do emprego e não a criação de empregos. quanto menos se trabalha, para dado nível de produção, maior é a eficiência e maior é o lazer. por que será que tanta gente endeusa o emprego, como se ele trouxesse a chave da felicidade, e não os grilhões do uso indesejado do tempo de vida humana destinado à produção destinada ao atendimento das necessidades? ninguém quer trabalhar! todo mundo quer consumir (e o avarento quer armazenar, acumular), alisando seu consumo ao longo de todos os períodos da vida adulta.

na sociedade do futuro, quando pensamos no futuro, deveremos entender que a fração do tempo da população adulta destinado ao trabalho tenderá a reduzir-se, em linha reta ou até exponencial. haverá racionamentos de postos de trabalho, como hoje, mas a diferença será que ninguém mais será obrigado a trabalhar. qual será a fração da renda social apropriada por capitalistas e trabalhadores? será, como já é hoje e tem sido há décadas, inferior a 100%.

em 2002, no Brasil, por exemplo, se meus dados estão corretos (e juro que estão, e que é dificílimo atualizar nesta terra em que o IBGE especializou-se em greves em anos censitários), as transferências interinstitucionais representam 43% do PIB (produto interno bruto a preços de consumidor). ou seja, diferentes tipos de receitas das instituições geram poder de compra correspondente a quase meio PIB. quando é que isto subirá para 50% (será que já subiu em 2010, com a bolsa família e outras inovações institucionais igualitaristas?)? e para 99%? e será que uma sociedade poderá ainda organizar-se em torno do mercado de fatores de produção se apenas 1% do que interessa estiver intermediado por ele? ok, digamos então que podemos ter uma sociedade capitalista do jeito que a conhecemos encapsulando 60% do PIB no programa que tenho chamado de renda básica universal.

e quem é que vai trabahar nesta terra de mamata? quem quiser ganhar mais do que sua fair share. tenho razões para crer que eu mesmo teria trabalhado alguns anos de minha vida para ter maiores benesses para os próximos anos. do jeito que as coisas foram, trabalhei pilhas e, claro, tenho um bom número de benesses. hoje minha contribuição é mais para a felicidade nacional bruta do que para o produto interno bruto. mas já fiz a minha parte na geração do primeiro.

quando eu penso no futuro, juro que vejo (penso ou visualizo?) que a renda básica universal será a salvação da humanidade.
DdAB
captura da imagem: http://papagaio.files.wordpress.com/2007/05/futuro.jpg.

23 julho, 2010

Eleições 2010/Serra

querido blog:
não sou forçado a fazer campanha eleitoral para ninguém, nem escandir meu motto de "política no Brasil? não vote. ou, se tiver que votar, anule o voto". por que este radicalismo? espero transformar o mundo? talvez transforme, nunca se sabe. "you never know what will come out of a book", disse Thomas Schelling na segunda edição de seu livro clássico sobre a teoria dos jogos.

seja como for, eu pensava que os agentes da política, na condição de cabeças de chapa, deveriam ater-se mais proximamente a ditames da ética e da boa técnica. que quero dizer com isto? por exemplo, que eles deveriam ater-se a um plano de governo amplamente discutido -se não com toda a sociedade, pelo menos- com todas as instâncias da vida partidária e seus stakeholders. mais exemplo, esclarecimento das bases de coalizões partidárias. mais exemplo, recomendações de seu governo paralelo. etc..

que será 2010/serra? não é uma divisão... que será? será a postagem que estou usando para denunciar dois rasgos demagógicos de sua/lá/dele/Serra visita de ontem ao Rio Grande do Sul. na p.12 de Zero Hora, o combativo (humm...) jornal indagou se ele assume um compromisso com a construção do metrô de Porto Alegre. ele disse não apenas que assume como também deixou claro um ponto fundamental do planejamento urbano e da administração de custos, só que ao contrário:

Zero Hora - O senhor assume o compromisso com o metrô de Porto Alegre da mesma forma como já fez em relação à segunda ponte do Guaíba?
José Serra -O mesmo compromisso. As grandes cidades já deveriam ter metrô em funcionamento. São Paulo é a que mais tem e ainda falta muito. Como a cidade é muito grande, custa uma fortuna. Porto Alegre ainda não é uma cidade gigantesca. Portanto é mais fácil fazer. (tirei uma virgulazinha localizada após a preposição portanto, que era erradinha. DdAB).


como vemos, podemos comover-nos com sua candura. ele terá estudado lá por Cornell a diferença entre custo total e custo médio. para não falar em curto e longo prazo e, assim, economias de escala.

não contente com a promessa de nova ponte e um metrozinho, agora pulando para a p.16, vemos:

José Serra disse em Porto Alegre que, se for eleito, terá pelo menos dois ministros gaúchos, mas não quis confirmar e Osmar Terra será um deles. Alegou que o Rio Grande do Sul tem excesso de bons candidatos.

basta? ainda não. nesta mesma página, vemos-lhe a foto, sorridente, ela/foto/ele/também, empunhando flâmulas do Grêmio e do Internacional, clubes de futebol, como sabemos, com torcidas portadoras de reduzidíssimo grau de simpatia recíproca. durante a Copa do Mundo, falando em futebol (e espero que não estejamos falando de política), ouvi: "Sempre torcerei contra a Argentina, exceto quando ela jogar com o (...)". deveríamos substituir "(...)" por Grêmio ou por Internacional, conforme a filiação do declarante. Será que Serra quer agradar os "gaúchos" mostrando-se um sincretista?

hummm.
DdAB
te repende, como dizemos em Lacheado, falarei mais sobre Dilma Candidata etc..
captura da imagem:http://rlv.zcache.com/dont_vote_if_youre_stupid_bumper_sticker-p128736791749543708trl0_400.jpg. agora, entre nós: o que é estúpido? votar ou não votar? baixar pau, pau e pau nos políticos ou tornar-se um deles? ou ambos os bambos?

22 julho, 2010

Orçamento do Sr. Ronaldo Eli Pereira dos Santos

querido blog:
este blog, como sabemos, não é uma tentativa de fazer colunas sociais ou buscar incompatibilização do povo com seus integrantes. seja como for, nomes próprios aparecem aqui com a mesma desenvoltura com que aparecem os artigos ou os numerais. hoje dei destaque ao nome do Sr. Ronaldo Eli Perreira dos Santos no próprio título e na busca de uma imagem. agora passo a falar em Alexandre Mussoi Moreira. o primeiro é aposentado pelo Tribunal de Contas do Estado, aquela "colmeia de abnegação reta" e o segundo é desembargador do Tribunal de Justiça. o segundo, se me não foge, ganha menos de R$ 27.000 mensais, pois esta invejável cifra ainda não percolou todos os escaninhos da administração pública em suas mais desencontradas instâncias. o número um, nomeadamente, Ronaldo, é alvo da notícia da p.10 (da seção "Política") de Zero Hora de hoje. diz ela, atribuindo a ele:

[...] o direito de receber o pagamento integral de seu salário, que excede o teto e havia sido cortado por determinação da presidência do TCE. [e segue:] Santos alegou que está aposentado há mais de 20 anos e que o ato do presidente do TCE acarreta redução do valor da função gratificada que ocupa. [...]

só bebendo! Zero Hora fazendo das suas. o juiz fazendo das suas, o servidor aposentado fazendo das suas, os advogados fazendo das suas, eu fazendo das minhas, todo mundo na sua... das deles pouco ou nada posso falar, além do que lemos aqui e elsewhere. de Zero Hora, posso dizer que sou levado a indagar-me o que a fez chamar de "salário" o que -aparentemente- é um termo usado pelo centroavante. como saberá o mais escabelado aluno do mais elementar curso de introdução à economia, salário é a remuneração do locatário (que foi sua família que lhe outorgou o direito de vender serviços) do fator trabalho, por contraste a outra remuneração de fator: o lucro. na linguagem do IBGE, o primeiro recebe "Remuneração dos empregados", ao passo que o segundo empalma o "Excedente operacional bruto", o que o qualifica -para falar mais inglês- como "residual claimant". caso a estas duas remunerações acrescentemos os impostos indiretos líquidos de subsídios, chegaremos ao produto interno bruto a preços de consumidor. como comove vermos, ou seja, como vemos, estou usando a terminologia do Manual da ONU, porque não tenho direito adquirido de usar a velha, a velha envelheceu, o autor morreu, o gato comeu.

pois bem, o produto interno bruto é o valor adicionado pela sociedade quando se considera a ótica dos produtores.

o Alexandre deu a liminar e não sei muito mais sobre suas razões, a não ser o seguinte convite à bebida publicado por Zero Hora como última sentença da notícia de que estou tratando, capitulada que foi como "Cortes no TCE":

Segundo o desembargador [Alexandre], embora o Supremo Tribunal Federal tenha firmado entendimento pela inexistência de direito adquirido a regime jurídico remuneratório, há que se respeitar o direito adquirido.

li e reli, li e reli, li e reli não sei quantas vezes, ou seja, fazendo "não sei quantas" igual a n, então li e reli 3 x n vezes, não é mesmo? fiz um diagrama de Venn, que muitos chamam de diagrama de Euler, aumentando a confusão. mas o diagrama reduziu minha confusão, não sei tampouco se foi isto mesmo ou o fato de que ainda não bebi: existe um conjunto DA de direitos adquiridos o afamado DAaRJR, ou seja, o conjunto dos direitos adquiridos a regimes jurídicos remuneratórios. a peculiaridade do caso Euler-Venn é que o DA é disjunto do DAaRJR, o que garante ao Alexandre o direito de garantir ao Ronaldo o "salário" de 20 anos.

até já citei neste ou em outro blog mais antigo que, há muitos anos, quando Bresser Pereira era ministro de algo, na inflação, no Sarney, vi-o na TV dizendo sobre este tipo de tema: "privilégio não é direito adquirido". claro que o Ronaldo não concorda, tanto é que convenceu um advogado a entrar com uma liminar contra o entendimento de Bresser. claro que o advogado de Ronaldo nem era nascido naqueles tempos. ou era? sei lá. claro que o Alexandre não está "legislando' em causa própria, pois ele ainda não alcançou o teto dos R$ 27.000. ou alcançou? sei lá. claro que eu não tenho nada com isto, enquanto indivíduo (caso consideremos um modelo "sem inveja"), claro que tenho tudo a ver com isto, caso consideremos que minha postagem rege-se pela teoria da escolha pública, a lei do orçamento, essas coisas, not to speak do conceito de "salário". o carinha da liminar não ganha salário. ele não trabalha, ele não ocupa função gratificada nenhuma, pois ele não trabalha (conjunto T e conjunto FG, coisas assim). aposentado não trabalha! e a remuneração do aposentado é transferência governamental, postada no que tenho chamado de bloco B33 da matriz de contabilidade social, das relações inter-institucionais. por isto falo, por qualificar-me como contabilista social e estudioso da teoria da escolha pública, além do que digo no frontispício deste blog.

em resumo: a única forma de acabar com este jogo de "salários", o do juiz que julga, o do réu que, ganhando, melhora o prospecto do juiz, o do político que autorizou o juiz a ganhar R$ 27.000, o do político que, assim que o juiz passar a ganhar R$ 27.000, fará uma emenda credenciando-se ao mesmo valor, a única forma, repito, é cobrar imposto de renda progressivo, a partir do ano que vem, pois -neste ano- os direitos adquiridos estarão adquiridos, mas no ano que vem, ainda não há ninguém com o direito adquirido de pagar uma alíquita de 27,5%. o motorista de ônibus de R$ 2.200 mensais e o juiz de R$ 27.000 só são iguais mesmo é nesta alíquota de 27,5%, e o imposto de renda poderia fazer o juiz ainda mais igual ao Ronaldo, ambos encarando uma alíquita, digamos, de 80% para os ganhos acima de, digamos, R$ 10.000 mensais.

só bebendo, meu!
DdAB
captura da imagem: procurei "ronaldo eli pereira dos santos", nada pesquei; tirei as aspas e achei "aproximadamente" 19.500 resultados, dos quais o que apresentei acima é o primeiro. a festejada gravação Caravelle da Orquestra Pereira dos Santos, do "samba, carnaval e farra", como disseram terceiros (Editora Where?): http://2.bp.blogspot.com/_DSKVEvHtskc/SVn-EKJGzmI/AAAAAAAADKQ/YfNwoSwE0YA/s400/Orqustra+Pereira+dos+Santos+P.JPG.

21 julho, 2010

Classificações: BCC=BCND, BCD, BCI, BK etc.

querido blog:
quem inventou as classificações? quais, todas? não, apenas as que cerceiam a Classificação Internacional de todas as Atividades Econômicas, guardadas no Brasil pelo IBGE? qual será a primeira classificação que um indivíduo humano aprende? na escola, talvez seja, no alfabeto, diferenciar vogais de consoantes. depois lembro das categorias gramaticais, os substantivos (próprios e comuns, simples e compostos, concretos e abstratos, primitivos e derivado, (?) e coletivos, algo assim, faz tanto tempo...). também causou-me enorme sensação de bem-estar, ao estudar Botânica de nível pré-universitário, entender que o reino vegetal se dividia em ervas, arbustos e árvores, tanta que nunca esqueci e até anotei em meu site.

muito antes de chegar à faculdade de economia, também registro no site, aprendera as classificações de Luiz Lopes, em que ele e outros permitiram-me entender que a economia se divide em setores primário, secundário e terciário, correspondendo, respectivamente, a agricultura, indústria e serviços. hoje sei que esta correspondência não é perfeita e o IBGE, nas contas nacionais, usa a segunda. aliás, onde escrevi "agricultura" lá eles falam em "agropecuária". mas reforcei o "agricultura" em meus primeiros anos profissionais, com o próprio IBGE, que ainda falava em "extração vegetal", "lavoura" e "pecuária", as lavouras dividindo-se em "permanentes" e "temporárias". mas parece que a humanidade sempre soube da diferença entre "urbano e rural", entre "agricultura e artesanato urbano, sei lá". pelo menos os economistas clássicos, Cantillon e outros fisiocratas também sabiam.

na indústria, havia quatro classes ("dois dígitos", nas análises da área), subdivididas em grupos (quatro dígitos): extrativa mineral, transformação, construção, e serviços industriais de utilidade pública. e ainda seguia subdividindo cada classe. esta classificação mantém-se até os dias que correm, com diferença -se é que- menores.

e os serviços? naquele tempo, o IBGE tinha seis subdivisões: comércio, transportes e comunicações, intermediários financeiros, governo, aluguéis, e outros serviços. (e esta vírgula exerce função lógica de busca de clareza; já a tive censurada por revisores de texto ranzinzas). hoje, os serviços têm mais subdivisões, pois -no Brasil- representam mais de 60% do valor adicionado mensurado pela ótica do produto (isto é, o PIB). não quero falar, pois já o fiz e ainda o farei, do Efeito Excel, quando ainda compraremos flores e comeremos bifes, mas o PIB dos serviços representará 100% do valor adicionado total.

pois bem, e como John Kenneth Galbraith foi parar na foto que selecionei do Google Images? e que tem ele a ver com o que escrevi até agora? vejamos. o próprio IBGE, há alguns anos, apresenta algumas de suas estatísticas industriais falando em "bens de consumo não-durável, bens de consumo durável, bens de consumo intermediário e bens de capital". anos atrás, provocou-me enorme alegria, depois de ler os textos de Maria da Conceição Tavares e outros, talvez Fernando Fajzynlber, que a utilizavam, ver a primeira referência num dos planos de governo dos militares e que estaria associada ao nome de Arthur Candall. como sempre soube de sua fama de gênio, achei que ele mesmo é que a tivesse inventado. depois suspeitei que ele, Candall, tivesse inspirado-se em Marx, pois Andrew Glyn requereu que eu a usasse para reunir meus dados de insumo-produto do Brasil nos anos de 1970, 1975 e 1980.

Marx, como sabemos, falava em até cinco departamentos, produtores de bens de consumo dos trabalhadores, dos capitalistas, numerando-os aqui e apenas referindo estes dois no volume 2 d'O Capital. eu myself não pude diferenciar adequadamente bens de capital dos bens de consumo intermediário, ao reorganizar os "grupos" do IBGE, mesmo que com até seis e oito dígitos, atividades e produtos (tecnicalidades...). então trabalhei com: agricultura (e não chamei de agropecuária, parece), indústria e serviços. não subdividi os serviços em nada, mas nestas tabelas de resumo, subdividi a indústria em bens de consumo corrente (e não chamei, como a maioria dos autores, de bens de consumo-não-durável, talvez por ter sido induzido a ler algumas coisas de Mário Henrique Simonsen), bens de consumo durável, e bens de capital (que, obviamente, abrangiam os bens de consumo intermediário e os bens de capital propriamente ditos).

neste processo aprendi que tudo que é classificação veste-se de certo grau de arbitrariedade. e mais, que estas classificações "setoriais" para rastrear a origem da produção deixam passar uma classificação analiticamente mais importante, nomeadamente, a dos grupos industriais (e não estou falando de "complexos industriais") e, se for o caso, subclassificações de pequenas empresas, sei lá. é certo que, por exemplo, a Itaú vende cimento e serviços bancários, não é isto? ou eram computadores? mas também é certo que mapear a atividade e os produtos do armazém da esquina e de todos os demais armazéns de esquina de todo o território nacional levariam o compilador de tal tabela a montar uma matriz de insumo-produto mais longa do que caberia na planilha Excel que, espalhada na areia, cobrisse todas as praias de rio, mar e lagoa da América Latina etc..

Galbraith? falou no assunto (BCC, BND etc.) em seu livro de 1955 sobre a crise de 1929. também vi que Nicholas Kaldor falou em "metalmecânica", sendo esta a responsável por algumas propriedades importantes do dinamismo do sistema econômico. meu resumo para esta importância kaldoriana e para estas classificações é:

.a. tudo devia ser feito por empresa
.b. a metalmecânica perde sua importância na economia dos serviços. isto não nega que bisturis eletrônicos sejam feitos pela Enxuta, mas que sua importância relativamente a uma cirurgia cardíaca é minúscula.

e entendi que a "economia não se divide em agricultura, indústria e serviços". aliás, o que entendi é que nem sei como dividir a "economia": teoria, análise, política? micro, meso e macro? mainstream e nice streams? estática e dinâmica? a nossa (correta) e a deles (errada)? o certo é que qualquer classificação da ciência econômica requererá que dediquemos enorme esforço para dominar a teoria da escolha pública.
DdAB
captura da imagem: este John Kenneth Galbraith mais parece uma personagem de John Steinbeck, se lembro com exação, desde que devidamente acossada pela depressão. tirei-o de sua paz em: http://www.ebbemunk.dk/technostructure/image_galbraith.jpg. achei-o excessivamente magro na imagem original e dei-lhe umas editadinhas...

20 julho, 2010

Três Tipos de Família

querido blog:
postagem longa! há milhares de classificações da família passíveis de acomodar os requisitos de "exaustiva" e "mutuamente exclusiva". vou falar de meia dúzia delas, se uso a metáfora, pois não as contei. a primeira é fácil de contar: basta contar até 1. pensei, neste caso, que a geração antiga casava-se por comunhão total de bens, a geração intermediária usou o instituto da comunhão parcial de bens e a família moderíssima casa-se com a separação total de bens. são novidades institucionais que refletem outras posturas que vão-se tornando majoritárias na vida social. não sei dos direitos previdenciários específicos para qualquer dos casos, ficando mais patente o deslocamento do pagamento de pensão a um cônjuge casado com um morto (epa, não é bem isto) em separação total de bens. parece claro: a liberdade absoluta evidencia-se com a decisão de não dividirem o patrimônio pretérito nem o presente nem o futuro. o que eles dividem? laços afetivos e, se for o caso, cuidados parentais. primeira conclusão do dia: quem casa em separação total de bens não deveria ter direito a pensão alimentícia de qualquer natureza.

ainda associado ao primeiro tipo de família e o caso das pensões, inspiro-me no recente caso de bigamia do policial federal aposentado. também não é bem isto, mas eu não disse "discuto" e sim "inspiro-me". no caso lá dele/s, duas mulheres pleitearam a pensão do defunto, clamor não aceito pelo supremo tribunal. ou seja, para fins previdenciários, a bigamia não tem valor legal. em minha opinião, não tenho opinião. mas não podemos deixar de pensar que, nestes épocas de liberalização de costumes, possamos pensar nas "enlarged families" também com simultâneas poliandria e poliginia. por que apenas os mórmons do século XIX? por que apenas o primeiro ministro da África do Sul? por que apenas a poliandria? como sugeri: não tenho opinião a respeito do assunto, mas prevejo que esta problematização entrará em voga nos próximos anos.

segue o number one. se, de fato, os casamentos forem democratizados em todos os estilos (preservada a proibição ao trio criança-criminoso-louco, esquecendo o tabu do incesto), home com home, muié com muié, home com home e muié, homem com duas ou três muié, homem com dois ou três homens e cinco ou seis muié, vinte e cinco muié com quarenta e quatro homens, e por aí vai, vai tornar-se absolutamente menor o requisito da adoção de crianças, criminosos ou loucos por casais homossexuais. ok, criminosos não pode, mas nada impede que mesmo hoje em dia um casal de G ou L simpatize com um velhinho morador de rua e o adote. ou não pode do mesmo jeito? claro que não estou falando da adoção para incentivar a evasão legal para fins de imposto de renda, essas bobagens contingentes. por falar em bobagem, poderíamos pensar que o casal do centro dos três grupos da ilustração que capturei no Google Images de hoje seria, digamos o rapagão e a gatinha pós-teen-ager a sua direita, que adotaram a coroa da esquerda, o guri/26 e a garota centrada. pour quoi pas?

mas isto não é tudo. quero falar de leituras dos últimos dias que apenas o leitor arguto e a leitora arguta verão serem umbilicalmente ligados, descontando para hoje a questão da gestação. então inicio o segundo tipo de família. trato agora da família tradicional decadente. claro que, ao falar em "tradicional", estou falando da família como a conhecemos e que os mais reacionários entre nós julgam pela própria família que o gestou e lançou as marcas sartreanas ("a família é como o sarampo, deixando marcas para toda a vida"). meu segundo tipo, então, tem a ver com os franceses. mais especificamente, andei lendo Allan Kardec's "O Livro dos Espíritos". não me pergunte porquê, que isto levaria mais uns 42 parágrafos. pois diz "o Codificador", lá em sua p.538-9 da edição 91, da FEB, Rio de Janeiro, 2007:

Dizeis que desejais curar o vosso século de uma mania que ameaça invadir o mundo. Preferiríeis que o mundo fosse invadido pela incredulidade que procurais propagar? A que se deve atribuir o relaxamento dos laços de família e a maior parte das desordens que minam a sociedade, senão à ausência de toda crença?

falar em Kardec evoca a formação religiosa que recebi e com a qual rompi ao final da adolescência. em outras palavras, saí do armário, como disse Maria Da Paz (clique aqui para ver).

se mais citasse, mais comentaria, o que seria covardia... deixe-me comentar o que quero pôr em destaque. quero falar tanto da "família" quanto da "sociedade" que a envolve, dos hábitos, costumes etc., inclusive os casamentos multiraciais e plurissexuais, o lema dos "consenting adults". não é criança, criminoso ou louco e quer? então pode. o que não pode é ferir a liberdade do/s outro/s, inclusive a de vender-se como escravo. quem compra escravo, já ae argumentou, não é livre! pois bem, Sartre, Kardec e Agatha Cristie, em três momentos, viram fraquezas na "família", na degeneração dos costumes, na assunção da regência do mundo pelos valores materialistas. hoje mesmo, vemos seus sucessores, os reacionários a algumas medidas inovadoras que estão sendo tomadas por diversas sociedades. as inovações desejáveis a que me refiro são a adoção de crianças por casais (por enquanto, apenas casais...) home-home, home-muié e muié-muié. o ponto que desejo deixar claro é a degeneração da família baseada em evidência, plágio da medicina baseada em evidência. qual a evidência de que a família kardequiana, a christiana e a sartreana realmente deixam marcas? qual a evidência de que ela está acabando? e, mais pragmaticamente, qual a evidência de que estas transformações, que começaram no divórcio (ausente do romance "Merry-go-round", de Somerset Maughan, escrito lá pelos 1920s), continuaram na pílula anticoncepcional, prosseguiram pela maior longevidade dos indivíduos humanos e chegam agora a casamentos grupais que reproduzem experiências históricas vividas e proscritas há milhares de anos?, que avalizam o patriarcado ou outras formas de domínio político, simbólico ou econômico? acho que não preciso responder.

terceiro tópico. o festejado escritor/romancista Assis Brasil também tem sua crônica quinzenal no Segundo Caderno de Zero Hora. ontem, li na p. 6 sua diatribe contra os poderes públicos (no caso, executivo e legislativo) que deixaram a OSPA - orquestra sinfônica de Porto Alegre - atirada aos ratos, ou o que seja. os músicos fizeram greve, diz Assis, Assis Brasil e não minha personagem de ontem. é que algum especialista em teoria da escolha pública fez a Lei 12.404, em 2005, passo a citar:

[...] a qual manda realustar anualmente, um modestíssimo valor para conservação de seus instrumentos e, ainda, se restarem alguns centavos, para ajudá-los a comprara e manter a indumentária necessária para as apresentações públicas.
[...]
Tudo isto pode parecer estranho a quem, bem nutrido e bem bebido, senta-se para assistir à Ospa. Esquecem-se, os espectadores, que cada músico é um indivíduo que precisa vestir-se com decência e que trabalha com um frágil e exigente instrumento.


aí eu pensei: bem nutrido eu? bem nutrido o menino de rua? não teria sido o caso do diligente deputado ou governador ou o Mr. Whatever, esposar o orçamento universal e, antes de pagar tripas de carneiro para violinos, pagar vermífugos para as barrigas dágua que deverão ser erradicadas do Rio Grande do Sul apenas no ano 2015, se nem eu nem o IPEA nos equivocamos. ok, e que tem isto a ver com o primeiro tema? mais do que anunciei não querer fazer os links, posso apenas dizer que estamoas falando de costumes e de escolhas públicas. por exemplo, eu escolheria o beijo em pé (artigo recente de Martha Medeiros em outro caderno do mesmo jornal) para o recato do lar, em todos os casos. ou melhor, os casos que Erich Fromm e meu inesquecível livro "A Arte de Amar" registraram como sendo "amor erótico". não gosto de ver mulher pelada em capa de revista exposta em bancas invasivas de calçadas públicas, nem homem pelado, nem nada. acho que a infância deveria ter alguns assuntos proibidos. é proibido proibir, na ditadura, mas na democracia, é proibido esquecer que um processo de escolha coletiva requer o cultivo da liberdade, ou seja, fazer o que se quer sem afetar a leberdade de terceiros.

quarto tópico. emenda-se com os anteriores. voltando ao primeiro caderno, vemos o artigo assinado por Plínio Melgaré, falando sob o título de "Sobre o casamento e igualdade". vejo-o argumentando em favor da sociedade igualitária, a sociedade cujo valor supremo é a liberdade. pois diz ele:

[...] em termos jurídicos e constitucionais, o que é essencialmente relevante para o casamento? Seria a orientação sexual? Ou o casamento abrigaria um conceito aberto, livre da petrificação de preconceitos, e, assim, a admitir a diversidade da vida?

Ao fim e ao cabo, o que a legislação argentina estabelece, além de garantir um direito individual (o direito de se casar), é o fim de uma discriminação – e com ele a consequente afirmação da igualdade. E esta é a questão de fundo: qual a extensão da igualdade? Acaso, nossos hermanos, na construção de uma vida menos desigual, não teriam avançado?


claro que teriam. claro que amo a Argentina. claro que queria os 3x1 na final da copa do mundo, claro que queria que eles tivessem ganho da Alemanha, claro que achei o comunismo, a DDR e associados um erro, claro que achei a invasão das "Malvinas" um erro. claro que quero a sociedade igualitária, tanto é que tenho um dedinho o tempo inteiro apontando para a esquerda.
DdAB
captura da imagem: busquei o título da postagem de hoje. não sei bem o que essa turma tem em comum, não procurei desvendar. mas achei interessante para ilustrar os temas que decidi tratar. hoje. http://i40.tinypic.com/2hekh9w.jpg.

19 julho, 2010

Enciclopédias: Britânica, Wikipedia e GangeS

querido blog:
uns amigos de direita dirigiram-se a Assis como se ele fosse o líder máximo com que eles sempre contaram para a extinção do banco central. diziam que deixar por conta do mercado a regulamentação da oferta monetária "é o canal". tão despropositado clamor levou Assis a criar o seguinte poema:

Se "oferta monetária = B"
e se "vida societária = A",
então, partindo do pressuposto de que
"bah" é uma interjeição
logicamente válida
(do tipo 3,1416),
segue-se logicamente
que
A = B.
Neste caso, a oferta monetária
-conclui o poema com rima salafrária-
é igual à vida societária.

Seguiu a argumentação salientando, em resumo, que -da mesma forma que a vida societária criou regulamentos e restrições ao exercício da liberdade individual- a oferta monetária, por termos
B = A
criou restrições ao exercício da liberdade individual!

na sociedade contemporânea -disse Assis-, que é a sociedade da abundância, a troca -por basear-se na escassez- será superada. cada indivíduo poderá determinar a seu telefone celular (isto é, à chave que lhe dá acesso a tantos androides quantos queira, tantos órgãos exossomáticos quantos possa conceber) a criação de tantos objetos materiais quanto queira: raquetes de tênis, desmafaguifizadores de I e II grau, pílulas de todos os calibres e utilidades, e por aí vai.

haverá um problema: a forma de encapsular todo o conhecimento humano e fazê-lo disponível a um simples piscar de olhos. a origem moderna das enciclopédias, depois da imprensa, da escrita e da garantia de três refeições, permitiu o surgimento, anos após, da Enciclopédia Britânica. outros curtos anos se passaram e apareceu, como que caída dos céus, a Wikipedia, antecedida de uma ou duas décadas pela Editora GangeS.

as mercadorias buscaram seus signos e as marcas viraram mercadorias, ou as mercadorias começaram a produzir seus próprios signos, antropomorficamente expressando. para Isaac Azimov, no conto de ficção científica "A Última Pergunta", havia um computador central que oscilava, como um io-iô, entre tamanhos enormes e minúsculos (centenas de minúsculos, colocados para agir em paralelo, geravam a certos tempos irregulares, um central). a certa altura da ação, as pessoas fundiram-se com este conhecento fluido e unversal, gerando um final -classificou Assis- como insuspeitado. quem leu o conto saberá que Assis estava errado, pois o final é mais velho do que a própria Bíblia de Gutemberg. no início do século XXI, passou-se a falar em "computação nas nuvens", o que obviamente evoca a cadela Laika. calá-la de lá vocaciona cafices decassilábicos.
DdAB
captura da imagem: achei que uma imagem enciclopédica da cadela lá dela, Laika, a União Soviética, poderia servir para ilustrar esta postagem extra-terrestre. http://petmag.net.br/e/wp-content/2009/04/21_laika.jpg. Laika, bem o sabemos, foi o primeiro cão (incluindo, claro, políticos e ladrões) a evadir-se da força gravitacional do Planeta Terra. era 1960 ou 1961?

18 julho, 2010

"Eles Preferem as Ruas Geladas"

querido blog:
o título da postagem é o mesmo da matéria da p.20 de Zero Hora de hoje. "eles" são o que o autor do artigo, Carlos Etchichury, classifica como "recicladores de lixo". então a realidade é esta: há recicladores de lixo que vivem na margem do Lago da Ponte de Pedra, na Av. Washington Luiz esq. Borges de Medeiros (dois iluminados políticos brasileiros de seu tempo...), lá mesmo fazem sua "higiene pessoal", fogueirinhas para fugir ao frio, essas coisas. no terceiro nível da manchete, falava-se em "Assistentes sociais avaliam que esmola estimula a resistência dos sem-teto em procurar abrigo". vim a saber que os "assistentes sociais" é o presidente da Fasc (sigla que desconheço, Sr. Kevin Krieger. Para ele, diz o jornal, "[...] esmolas, e comida oferecidas pela sociedade estimulam a permanência nas ruas." e mais, diz uma senhora grávida: "Preferimis a rua. Não temos como levar para dentro dos albergues nossos carrinhos". Diz o jornal: "Às vezes, a razão é outra. Integrante do projeto Começar de Novo, o ex-morador de rua João Luís Costa, 45 anos, conta que muitos sem-teto preferem o relento, porque albuergues não permitem o consumo de drogas."

considerando que não acho que estes políticos sejam lá muito iluminados, e sem compromissos com a demagogia, além da que eu mesmo faço, dando a julgamentos de valor ou teoremas baseados em premissas (axiomas) aceitáveis, acredito que o problema seja bem diverso. parece-me que:
.a. o mendigo se enquadra numa das três categorias: ou é criança, ou é criminoso, ou é louco.
.b. o prefeito e seus auxiliares são loucos, pois não entenderam que o tráfico de drogas destruiu o Brasil e que a solução é a criação de salas de consumo para precisamente gente deste tipo e muito -diria o Diretório Acadêmico de meus tempos- burguesinho.
.c. mais ainda, há outro problema mais severo: as externalidades negativas criadas pelos moradores de rua em geral e por estes três habitantes da Rua Washgton Luiz são de tal peso que não há justificativa possível para a conivência municipal contra estes atentados de todos os recortes imagináveis contra o bem-estar coletivo.
DdAB
captura da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeOEDKQlTI3ukx6v4zvgGx2S40kUgLV3BTnG0uFUbaq0f8E-xqGaSNGbmoqivjaVpJBW2kmVYQtpuvkO_ZfNmSveBUpLLsfzWnuVT4Y8xmv57K9VFB60_PM2tDg5aFKL1MzhYAHWTdHXm-/s320/calles.bmp. foto belíssima que veio com "ruas geladas".

17 julho, 2010

Instituto Bárbaro

querido blog:
hoje deu-se algo inusitado em matéria de postagens. eu ia fazer uma resenha das notícias das páginas policiais de Zero Hora, pois achei exagerados os trabalhos dos melientes (detentores, claro, de empregos precários, no assassinato, na chantagem, no sinal, no trotoir...) e ridículas as estratégias dos políticos (id est, ladrões) encarregados de gerir a cidade. mas, para não me deixar postar o que eu queria, talvez ligeiramente mais trabalhoso do que agora executo, a notícia que transcrevo ipsis litteris é chocante por si só:

17 de julho de 2010 N° 16399 ARTE OU PICHAÇÃO: Cor e polêmica no ponto de ônibus. Sem autorização da EPTC, pinturas em bancos improvisados em paradas já foram removidas. Quando Muriel Amaral foi pegar o ônibus para ir ao Centro da Capital, às 12h de ontem, deparou com duas privadas na parada de ônibus localizada na Rua 24 de Outubro, próximo ao Parcão. No lugar dos painéis de propaganda destruídos por vândalos, surgiu misteriosamente um banco de madeira, com a inusitada pintura. Entretanto, o trabalho assinado pelo Instituto Bárbaro não durou muito tempo. Na noite de ontem, as ilustrações não estavam mais nos pontos de ônibus. Os artistas não foram localizados pela reportagem. De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), as normas técnicas não permitem que obras de arte sejam colocadas em espaços públicos sem autorização prévia do município. Foi a EPTC que constatou o desaparecimento das obras quando foi retirá-las dos locais. Apesar de efêmera, as paradas coloridas agradaram os passantes. Luciane Vieira, que trabalha em um café em frente à parada, resumiu o sentimento de alguns porto-alegrenses que apreciaram a obra: – É muito legal. O pessoal que vem aqui no café adorou. Quem sair atrasado no início do dia para pegar ônibus na Praça Carlos Simon Arnt, conhecida como Praça da Encol, pode ter um lugar reservado. Neste ponto, os artistas misteriosos pintaram a seguinte mensagem: “assento preferencial para quem não caprichou no café da manhã”. Na Ramiro Barcelos, uma outra parada tinha o desenho de um travesseiro e um cobertor xadrez. O fotógrafo Marcelo Andrade, que trabalha no local, disse que a intervenção deu um ar nova-iorquino para Porto Alegre. Ele contou ter visto intervenções semelhantes na cidade americana. – Em Nova York, é muito comum transformar o cotidiano em arte – disse o fotógrafo, aprovando a ideia.

fiquei boquiaberto. achei que nem precisava falar de polícia, pois a incompetência da administração municipal de Porto Alegre já era um caso de polícia por si própria. numa das pranchas de madeira que vi, inscrevia-se "Instituto Bárbaro". o trabalho, obviamente, tem fundo anarquista e o "governo dos homens" não pôde conter-se, teve que censurar. censuro-os eu agora!

DdAB

captura da imagem: o "Instituto Bárbaro" da prancha da figura de Zero Hora, no Google, rendeu 30 entradas, nem todas relacionadas com a matéria de ZH. no Google Images, v eio o seguinte, com direitos autorais reservados: http://img257.imageshack.us/i/render3.jpg/. e aquele estádio ali parece o do Pescara.

captura do texto: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2974444.xml&template=3898.dwt&edition=15109&section=1003

16 julho, 2010

R$ 27.000 não dá para nada!

querido blog:
a capa de Zero Hora de hoje anunciou que "criminosos renderam vigilante [da Justiça Estadual de Caxias do Sul] e retiraram arsenal de revólveres, pistolas e espingardas ligados a processos. fui à p.42, como indicado e deparei-me com as seguintes declarações do "desembargador Túlio Martins, presidente do Conselho de Comunicação Social" do Tribunal de Justiça:

Pioneiro - Por que o Fórum não tem câmeras de segurança?
Túlio Martins - Não temos dinheiro. O tribunal não tem recursos [..].

eu, claro, lembrei-me da questão dos rendimentos mensais dos juízes e assemelhados. e declarei-me perdido, declarei tudo perdido. pensarei no ladrão da imagem acima, a galinhazinha, o BRzinho da Petrobras (de quem já roubaram o acento agudo). só bebendo.
DdAB
captura da imagem: achei que "ladroagem" chamaria algo interessante. https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLuhBN3GRqaKj3XxPGCGmeTQhT8cF5YRmF6tUthEw0nxMlaJQAHGFcAMxZrzE7_OkHvdc5bhqL8m8xwpWRxYxRVZU4TDnKa8-IKB9HCgj0EO1VVfOgGb621JIyTh5quD7MiZcsAx5P5oY/s200/charge-roubo.jpg

15 julho, 2010

Linhas Tortas

querido blog:
hoje vi no jornal duas manifestações de escrever torto por linhas tortas. a primeira diz respeito à lei revanchista de algum deputado corporativista que apresentou um projeto que já foi aprovado numa comissão extraordinária exigindo que "jornalista" seja o neguinho diplomado em escola de jornalismo. uma singlemidedness de fazer corar qualquer mente com traços medianos de cultura e informação. apenas deficientes cognitivos agudos é que podem pensar que uma faculdade ensina algo realmente diferenciador a alguém. não falo de tudo quanto é faculdade, mas -com certeza- economia, jornalismo, biblioteconomia, arquivística, tradução de textos, essas coisas que vexam as letras em geral. (ZH, p.43)

segundo: "Não existe uma pesquisa científica que comprove que a adição de flavorizantes faz mais mal à saúde [...]". quem disse isto? Hermes Lorenzon, que assinou matéria da p.42 de ZH e que "[...] viajou para Buenos Aires, Argentina, a convite da Philip Morris". Philip Morris é uma empresa produtora de cigarros, bichinhos que causam adição, câncer do pulmão, da boca e de uma turma enorme de outras peças do corpo humano. quem disse a frase transcrita acima or Hermes Lorenzon foi o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco do Ministério da Agricultura, Romeu Schneider. parece evidente que o Ministério da Agricultura não é o Ministério da Saúde. os animais sabem que este negócio de "pesquisa científica" é puro jogo de palavras para dizer que os que querem regulamentar o vício maldito estão contra a evidência científica. ademais, imagino, poder-se-ia argumentar, o câncer tem cura, cada vez mais. uma razão importante para se continuar a produzir o fumo "burley" é que ele-vício-varietal sustenta 50 mil famílias. ou seja, num cálculo utilitarista simples, se as famílias infelicitadas pelo tabaco forem menos de 50 mil, não há como proibir o vício, não há como proibir o consumo em locais públicos, não há como fazer nada. o fumo faz bem a 50 mil pessoas. o Ministério da Saúde não sabe disto. o presidente Romeu é que sabe das coisas. só bebendo, se é que bebida não faz mal ao coração, ao pulmão etc..
DdAB
captura da imagem: professores make the world go round: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYvHPbuwy-j9ki_N8Bj4AG39jYxg2J6LkqUNkYQCk5HW95lblsHxg8Fy9RCE-bSGcVQIE29AAGIw7sm1CvAsMnUetKRyaRho4FWgP5YNSN5au004JnTfAmQ8-dsRPoa0NUKq8ldEbBMBJG/s400/linhas+tortas.jpg.

14 julho, 2010

Bairro Nobre e Empregos Precários

querido blog:
hoje minha fonte de inspiração são três notícias de Zero Hora. na p.3, fala-se em "bairro nobre", em que surge uma reclamação contra o povo que encheu uma lata de lixo, até vê-la transbordar. eu, na busca de soluções para os grandes problemas de nosso povo, especialmente aqueles provocados pela omissão governamental, vejo -claro- ausência da ação pública, incriminando o prefeito, seus secretários de limpeza urbana e milhares de detentores de cargos em comissão, que vivem em missão estranha ao serviço.

mais omissão do setor público é encontrada na p.26, anunciando-se que agora os assaltantes escolheram descuidismo no aeroporto local. o Sr. Jorge Herdina, superintendente do local eximiu-se da ação dos larápios: "Bagagem de mão é responsabilidade do passageiro". eu pensei: este deveria ser reciclado, deveriam trancafiá-lo num curso de teoria da escolha pública. quando sou assaltado dentro de um banco, o vilão é o banco, não é mesmo? e dentro de um cinema? e na rua? claro que o governo é que deveria prover o bem público típico: segurança pública. é inconcebível que os rapazes do aeroporto não se fraguem -eu usei o verbo fragar, claro, dado o contexto- sobre suas responsabilidades.

mais? na p. 34 tem. mais apreensões de drogas, esclarecendo-se que "Camelôs comandavam o tráfico". esta comédia de erros mata, mata, mata. é horrível o fio na espinha que me assalta quando penso no assunto. primeiro, digo que tratar drogas como problema de polícia omite o lado sanitário. e tratar apenas lado sanitário, sem prestar atenção à lei da oferta e da procura, é tão irresponsável quanto dar baseados para menores de cinco anos de idade ou cinco anos de formação escolar.
DdAB
captura da imagem: não vemos a ilustração que mostrei aqui há tempos. ou seja, não há um casebre miserável ao lado de casas nobres. há demolição, mudança, esperança, tudo em: http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/foto/0,,39153743-FMM,00.jpg.

13 julho, 2010

Governos...

querido blog:
não me canso de repetir (pois foi Marx de Tal que falou antes) que devemos substituir o governo dos homens pela administração das coisas. queremos o estado mundial, que na verdade é a destruição dos governos nacionais, em benefício de administrações mais passíveis de serem delegadas a máquinas guiadas pela lei do orçamento.

mas fiz a segunda postagem de hoje para insurgir-me contra duas ações fotográficas maravilhosas de Zero Hora. na segunda, de que falo imediatamente, vemos na p.24, temos a casa em que Roman Polanski ficou preso "prisão domiciliar" enquanto julgava-se o mérito de seu pedido de extradição aos Estados Unidos, onde, alegadamente, praticou crime de pedofilia há 33 anos. sou contra a pedofilia, sou contra o estado nacional e mesmo contra a prisão domiciliar, pois ela dá um castigo imerecido ao pai do menino de rua. como pode prender alguém que mora debaixo da ponte em seu domicílio?

a primeira levou-me a dar um fora pior do que o da predição de que o polvo poderá começar a fazer o planejamento geral planetário. eu dissera há tempos que um dos maiores absurdos do governo Yeda foi acomodar crianças, quarenta delas ou mais, em containers para dar-lhes educação fundamental. pois fui despentido pelo fato e foto da p.26 da mesmíssima Zero Hora, que me parece errar em dizer que não tenho razão. diz, festejante, ZH que a aula em container sagrou-se como o quarto melhor colégio num certame estadual.

claro que, com coceiras sistemáticas na parte inferior do penteado, comecei a pensar no que há de errado com o espaço entre este e o pescoço. pensei que turmas de 40 alunos servem para favorecer o bullying e aulas em containers deveriam ser para presidiários e não para crianças. no caso de presidiários, o recém liberto Polanski teve lá suas lições de civilidade num chalé muito maneiro, que abrigaria a colônia de férias das mais escoimadas escolas locais.

para não exagerar na extensão desta postagem, além das milhares de objeções que poderia antepor aos festejos do quarto lugar do container, diria que os próprios entrevistados, tibiamente, admitem que poderiam ter aula em local mais aprazível, pois o inverno esfria -como sabemos- e o verão esquenta -como também lá o sabemos. mas há algo ainda mais funéreo neste negócio de enterrar crianças de um jeito ou outro. a escola consagrada ganhou nota 6,9, ou seja, para cada 100 perguntas, errou 31. é bom? e tirou quarto lugar. e a média estadual foi de 4,9, ou seja, outros containers e outros locais erraram 51, a cada 100. e a média nacional foi de 54 erros por cada conjunto de 100 perguntas. só mesmo escrevendo porcadas. 40 crianças? na foto de ZH presumo ter contado umas 22.
DdAB
captura da imagem: http://www.concoxions.com/blog/wp-content/uploads/2009/09/The-Shipping-Container-School-300x207.jpg.

Consolos no Futebol e na História

querido blog:
dizem que o homem tem mais a cara de seu pai do que a de seu tempo. dizem? se lembro, li esta sentença no livro de Edmund Wilson sobre a revolução russa, atribuída a Michelet de Tal, um historiador francês que, para os não iniciados do século XX e séculos posteriores, parece um desconhecido do porte de um Diderot ou de um De Sicca, ou me equivoco?

então, claro, como não abalar-me com o fracasso de algumas previsões que fiz para o campeão mundial de futebol e os acertos do polvo cuja foto editei comovido, como vemos? previ que a seleção do Brasil seria campeão, com 3 x 1 sobre a da Argentina. depois, mantive o escore e previ que ele seria atribuído a Alemanha 3 x 1 Holanda. previ que a Espanha iria acabar com suas touradas anti-democráticas (e com as eventuais touradas democráticas também, se as houvesse). e que os incas e maias do século XVI seriam desmafaguifizados, sendo declaradas sem valor as chacinas perpetradas por nossos antepassados ibéricos. jamais previ que os espanhóis do século XXI seriam campeões mundiais de futebol, pelo menos não antes do século XXII ou XXIII. prevejo, finalmente, que críticos ranzinzas dirão que o campeão não foi a seleção da nação espanhola, mas o combinado Barcelona Futebol Clube.

de outra parte, qual o outro lado das previsões? parece-me que são as interpretações. ou seja, as leituras ou releituras do passado, à luz -claro- do conhecimento presente. gente do presente olha para trás, lembra de coisas e traços que faz, que comporta simultaneamente na mente (epa, isto passa a virar poema rimadinho) e dizem coisas que olvidam e de que até os deuses duvidam.

primeiro, interpretei o significado da história como o culto aos antepassados. depois, parecido, pensei na dívida para com os ascendentes, ou mesmo o desprezo -depois de alguns momentos de choque- a que relegamos suas mortes. "história" -pensei comigo- "é o crédito que damos para as gerações futuras, para o futuro, a certeza de que seremos sucedidos, de que teremos descendência, de que nossa existência teve imanência".

tendo pensado isto, achei melhor encerrar esta postagem.
DdAB
captura da imagem: não podia deixar de registrar a sensação midiática do momento, o famoso polvo que previu todos os resultados da Copa do Mundo, com precisão milimétrica. também falou-se em periquitos e outros vertebrados. e terei ouvido dizer que, em Jaguari, um cão vadio previu os resultados da Loto para 123 anos. http://www.diariodopara.com.br/imagensdb/092855paul.jpg.

11 julho, 2010

Mercado e Impostos

querido blog:
a antropologia econômica vê em mim um limitadíssimo leitor. mas, como sou dado a leituras de divulgação de biologia evolucionária, às vezes fico pensando naqueles macacões que dizem-se nossos ancestrais mais remotos. então fico pensando na questão da doação de alimentos para estranhos, na relação entre hordas rivais que começam a cooperar. começam a fazer trocas, começam a dividir tecnicamente o trabalho, essas coisas de manual de introdução à economia marxista.

e fico pensando em quem surgiu em primeiro lugar: o mercado, o estado ou a comunidade. claro que penso que
.a. comunidade
.b. estado (ou o que quer que dele possamos aproximar um nome, cultivando o tabu do incesto, cultivando direitos de propriedade, cultivando o respeito pela vida dos rapazes da mesma horda)
.c. mercado: com relações sociais estabilizadas a ponto das hordas conviverem de modo razoavelmente pacífico, parece surgir espaço para as trocas perenes. teríamos já divisão social do trabalho dentro da horda e divisão técnica entre hordas, um troço assim.

mas qual o desafio para estas sociedades se tornarem internamente monetárias? em outras palavras, o que as levou a crescentemente transformarem a divisão social do trabalho em divisão técnica? é capitalismo? claro que não, é apenas a especialização. talvez seja menos ralo ainda: as hordas se fundiram, levando com elas suas especialidades produtivas. qual o desafio que as tornou monetárias? creio que foi a exigência de uma autoridade central (o macaco mais forte, o governo) a cobrar impostos.

não faria sentido para um soberano, digamos, postado no Eufrates, receber em espécie cabeças de gado ou mesmo grãos de trigo de "contribuintes" no Altiplano Peruano, um troço destes. quer dizer, já argumentei que primeiro vieram a comunidade e o estado e apenas aí o mercado. e agora estou argumentando que, sem impostos, não haveria a disseminação do uso do dinheiro e, como tal, a expansão ilimitada da troca, a especulação, dos derivativos. ou seja, teríamos um mundo sem porta-aviões, sem naves espaciais, sem obturação de dentes.
DdAB
captura da imagem: procurei apenas "mercado impostos" e vi esta homenagem à poluição do petróleo, da gasolina, do automóvel: http://www.streetsampa.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/05/pistola-de-abastecimento-de-impostos.jpg.