01 maio, 2010

Pão e Rosas: dia do trabalho

querido blog:
prossigo em minhas arengas sobre quem é a verdadeira esquerda e a verdadeira direita. parece que, havendo duas vacas reais, uma é da direita e outra, da esquerda. mas eu comentava, no outro dia, que Rosane de Oliveira (jornalista da 'Página10') é menos da esquerda que myself. e agora farei mais comentários sobre o editorial da p.14 de hoje do jornal que a abriga. para homenagear o trabalhador comemorando seu dia, decidi chamar a da direita de 'Rosas' e a da esquerda de 'Pão", tenho direito. nada tenho a dizer agora sobre feminismo...

mas tenho sobre "quem são os amigos do povo", para volver a Lênin. e acho que não era Lênin nem um monte de outros políticos e revolucionários. e, claro, nada poderíamos esperar do editorialista do nanico mais importante dos gaúchos. diz lá ele:

Quanto ao tema da redução da jornada de trabalho das atuais 44 horas semanais para 40, questão que tramita no Congresso há 15 anos pela Emenda 231/95 e que aguarda a inclusão na pauta, é em si mesmo uma proposta altamente discutível. Será benéfico ao trabalhador, à economia e ao país um projeto que tende a trazer diminuição dos postos de trabalho, provocada principalmente pelo aumento do custo da hora trabalhada? A questão da duração da jornada tem uma história brasileira singela: a primeira fixação do tempo da jornada ocorreu em 1943, para defini-la em no máximo 48 horas semanais e oito diárias, e a segunda, na Constituição de 1988, que reduziu tal jornada para 44 horas semanais. A experiência internacional é controversa em relação aos benefícios de uma jornada reduzida, não existindo um consenso em relação a eles.

tem muita coisa a sercomentada. primeiro, vem a piada de que a constituição da república aprovada em 1988 não é constituição mas orçamento. segundo, na condição de regulamento (menos importante na hirarquia das leis do que a lei do orçamento), tá bom definir a duração da jornada de trabalho, como sendo uma maldição que pesa sobre o país, impedindo os jogadores de maxi-min a adotarem estratégias inferiores a 44 horas de trabalho semanal, exceto -claro- boa parte dos funcionários administrativos das universidades federais brasileiras, cuja estratégia mini-max, pelo que entendi, é "eu-15min diários" e "você-tanto quanto queira, que não me incomodo se você quer esfalfar-se".

pois bem, a constituição brasileira não proibe jornadas de 15min semanais, mas não seria legítimos esperá-las tão cedo. agora, cá entre nós, não podemos pensar que a jornada padrão da humanidade voltará às 16 horas diárias de semanadas de sete dias vigentes em meados do século XIX, não é mesmo? este troço de mudança constitucional é análogo ao plebiscito das armas: parem de perguntar bobagens, comecem a trabalhar decentemente.

segue: a redução da jornada de trabalho eleva o salário por hora e portanto reduz o nível de emprego. maior salário hora, digo eu, deve implicar menor nível de emprego, até aí estamos paralelos, ou seja, nem esquerda nem direita. mas o que não é absolutamente garantido, como aliás diz lá o jornal, é que isto tenha outras consequências na linha do argumento. e diz-se que a experiência internacional tampouco é pródiga na evidência de que menos horas trabalhadas por trabalhador impliquem maior desemprego. cá entre nós, isto é forçação de barra.

meu ponto é bem diverso e mais festivo, ainda que a velha esquerda também viesse a discordar de mim. quem gosta de emprego é patrão: trabalhador gosta é de lazer. se o trabalhador pudesse trabalhar 15min por semana, ele teria mais tempo para dedicar ao lazer, é claro. e se houvesse algum arranjo societário que permitisse que a renda básica mais o "salário diferencial" que lhe seria pago precisamente para comprar as horas de lazer lhe oferecessem uma existência digna, nada haveria a reclamar, exceto com relação à distribuição da renda nacional. tenho boas razões para crer que, a longo prazo, não é a jornada de trabalho que determina a trajetória de crescimento das economias. ou, por outra, a duração da jornada tem-se reduzido ao longo do desenvolvimento capitalista e assim deverá seguir ocorrendo.

em 2050, a Nigéria será o terceiro país mais populoso do mundo e, se ela não cuidar, não terá empregos para ninguém, pois os empregos de 40 anos para frente requererão muito mais capital humano do que hoje sequer podemos imaginar. se as empresas conseguirem gerar renda com maior produtividade, ou seja, com menos emprego, o mundo será mais feliz. o problema redistributivo é outro, é completamente diferente do problema produtivo, exceto que, é bom que se diga no dia do trabalho, o trabalho é um "tribalho" ou seja, um rebenque que cria motivação na base do sistema recompensa-punição. no dia do trabalho, devemos pensar que a parte da punição deve começar a ser jogada para o passado.
DdAB

fonte da imagem:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2890245.xml&template=3898.dwt&edition=14605&section=1001
sobre a captura da imagem: inspirei-me nesta foto para pensar a postagem de hoje, pois julguei ter visto uma vaca de esquerda e outra de direita dentro de um automóvel Gol. foi a ilustração da notícia da p.37 do jornal cujo editorial inspirou o texto do dia do trabalho. diz a notícia que os animais foram roubados e carregados num automóvel que não aguentou a carga. Brasil, dualismo, distante da liderança mundial de roubos de vacas. trabalho de amadores, ergo, não há cumplicidade dos políticos... sem falar que juro ter visto nas páginas do "Diário de Notícias", digamos que em 1962 ou 1963, a foto de um acidente na Av. Brasil do Rio de Janeiro em que uma camionete DKW engavetou uma carroça e o motorista trocou de lugar com... o cavalo, que posava com as quatro patinhas para fora do pára-brisa, postadas sobre a direção. nunca mais consegui esquecer, nem revê-la, o que pode indicar apenas que 1964 destruiu muita coisa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro, olha só essa notícia da província onde moro.

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“Não deixe que nada te desanime, pois até um pé na bunda te empurra pra frente”. Foi exatamente esta frase que os trabalhadores do serviço público de Ecoporanga viram impressa nos contracheques às vésperas desse dia do trabalho; motibvo de revolta para os trabalhadores que ganham em média R$ 560.

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Até o Estado dando um show!

De ignorância ...

Triste meu caro.

DSC

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

gente, bicho, mineral, vegetal! acho que nada, nada pode igualar a inspiração da gráfica que imprime os contracheques. ou do poeta que pensou em instilar esta mensagem de otimismo. parece que foi o general figueiredo que disse que, se ganhasse apenas o salário mínimo, daria um tiro na própria cabeça.
DdAB