09 maio, 2010

Livro, livrorum, livro

querido blog:
parece latim, mas creio que não é. estudei latim, não aprendi nada, não podia, havia 50 alunos em cada sala de aula, era um depósito. nos anos 1950s havia desemprego no Brasil, de professores, entre outras classes profissionais. classes? epa, falei "classe", num sentido que desagrada a militantes das ciências sociais.

conexão é outro termo que desagrada muitos militantes da esquerda. já me estendi sobre o tema do pedido de revisão da lei da anistia e hoje vi que Marcos Rolim retomou-o em seu artigo da p.12 de Zero Hora. ele tem boa argumentação que termina sendo bastante inconclusiva e expressando muito mais sua posição apriorística do que o resultado de encadeamentos de raciocínio.

Rolim fez menção a terceiros para escrever:

[...] em 1979, pouco antes da votação no Congresso, as oposições organizaram o “Dia Nacional de Repúdio ao Projeto de Anistia do governo”. Em São Paulo, a OAB realizou ato público para repudiar a autoanistia em curso. E como foi o resultado da votação no Congresso? A lei foi aprovada com 206 votos da Arena, o partido da ditadura. O MDB votou maciçamente contra o projeto com 201 votos (!). Este foi o “ambiente de ampla negociação” ao qual fizeram referência os ministros do STF, ponderação logo referendada por grande parte da mídia."

"as oposições" organizaram o "Dia do Repúdio"? quantos? eram apenas gatos pingados? A OAB de São Paulo realizou? as dos demais estados desorganizaram? quantos compareceram ao ato de repúdio? o placar de Arena 206 x 201 MDB é interessante, especialmente porque não significa nada. que, naqueles tempos, quem era radical-mesmo não votava, o voto útil foi uma conquista posterior... acho que quem aprovou a lei da anistia mesmo foram os milicos, claro, e uma turma de políticos acolherados, inclusive nossos grandes ídolos Tancredo, Ulisses e outros.

sobre "conexão", diz o Aurelião:

1. Ligação, união: &
2. Nexo, coerência: &
3. Analogia entre coisas diferentes.
4. Ponto de um itinerário em que se faz baldeação.
5. Peça ou dispositivo que liga fisicamente, ou que serve como passagem ou comunicação.
6. Inform. Comunicação ou troca de informações entre dispositivos computacionais.
7. Lóg. Relação entre as partes de um todo, que se pertencem, necessariamente, umas às outras.
[Cf., nesta acepç., agregação (4) e forma (19).]
8. Lóg. Propriedade da relação, que pode ser estabelecida entre dois elementos quaisquer do seu campo. Ex.: a relação é maior que ou é menor que entre qualquer par de números naturais desiguais.


na segunda sentença, Rolim diz: "A lei, como se sabe, nunca mencionou crimes como a tortura. Ela perdoou os 'crimes políticos e conexos', ponto." ponto? Rolim leu o Aurelião? leu apenas até "conexo" e não investigou o que quer dizer "conexão"? não bastassem "ligação", "união", "nexo" e "coerência", chegaríamos na analogia entre coisas diferentes. não será que a milicada estava querendo também inserir na lei da anistia os crimes de lesa-patrimônio público? se bem lembro, o doutor Orestes Quércia teve um probleminha patrimonial enquanto prefeito de Campinas e tudo foi corrigido com uma multa aplicada pelo imposto de renda. se é que lembro, claro, se é que li mesmo na revista Veja ou no jornal Movimento, aquelas coisas daqueles tempos.

no livro que nos livrará de carência de informações, precisaremos também ter um parágrafo para descrever os eventuais desmandos praticados pelo grupo perdedor, que não se cinge aos torturados. houve assassinatos? houve vítimas colhidas entre a população civil? não foi morto um soldadinho não-lembro-bem-onde? ele era esbirro da ditadura? quem o matou é que era a vítima?

o melhor mesmo seria parar com a tentativa de agendamento destas questões fora do âmbito do balanço desapaixonado daqueles anos trágicos nos livros de história do Brasil. passou a hora da paixão, livremo-nos da tentativa de manter o foco da discussão em temas irrelevantes para um projeto verdadeiramente de esquerda que liberte as novas gerações, os meninos de rua de hoje e todos os cidadãos do mundo que vão nascer. abaixo a tortura! abaixo o nacionalismo. política no Brasil? não vote. mas, se tiver que votar, anule o voto.

DdAB
captura da imagem: pedi ao Mr. Images a expressão do título. não pesquei nada. fui apenas a "livrorum" e pintaram coisas que me levaram a selecionar o que acima vemos, pois foi a primeira imagem de "o livro Rum", aparentemente da capa da combativa revista Contigo... pode?
http://contigo.abril.com.br/imagem/entrevista/benicio-toro/ampliada/benicio-toro-3.jpg

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