02 abril, 2010

a quanto viene?

querido blog:
o bigodão daquele desconhecido que aponta uma arma para o outro unknown poderia estar sinalizando para um tempo em que o petróleo e a gasolina subitamente se tornaram enormemente caros. tomei-os de empréstimo ao Google Images, como é meu hábito para ilustrar estas postagens. como quase sempre, esta foto foi-me oferecida ao procurar com "a quanto viene"?

terei dito que aprendi diversas palavras em italiano, "magari", "imparare", "venerdi" e outras. meu estoque já está maior do que o da língua alemã: "bier" e "mitvoch". não garanto pelas grafias de nada. seja como for, tudo isto, especialmente o "imparare", ou seja, "aprender" (que também tem o "aprendere") lembram-me lições de economia política. mas o que me fez postar esta despedida pescariana foi mesmo o "a quanto viene":
-a quanto viene?,
indagou uma senhora a um vendedor da livraria La Lunardelli, na Rua Umberto I. ele respondeu:
-viene a veintoto.
uns troços assim, tudo em italiano. seja como for, aquilo -para mim- foi uma profundíssima lição de economia política, como acabo de sugerir.

primeiro, porque estou lendo (cerca de 50 páginas) do verbete:Philosophy of Economics. Disponível em: http://plato.stanford.edu/entries/economics/. Acesso em 31/mar/2010.

e lá pelas folhas 15 deparei-me com uma questão interessante que me trouxe o genial economista Eduardo Grijó. haverá diferença entre "sistema econômico" e "ciência econômica"? colocada nestes termos, a questão é relativamente simplificada. seja como for, no texto da enciclopédia de filosofia de Stanford, diz-se que foram os mercantilistas, influenciados pelo desejo de promover políticas econômicas (comércio externo e tributação), que começaram a perceber que havia algo lá fora, do porte da religião, da arte ou das regras de boas maneiras à mesa, que exibia tantas regularidades que merecia ter suas próprias regras investigadas.

não há maiores dúvidas para mim que "mercantilista" não é um comerciante, mas um indivíduo que se insere numa escola particular de pensamento econômico chamada de "mercantilismo". da mesma forma, talvez o que terá feitos os pósteros classificá-los como mercantilistas e aproveitarem e também falarem em fisiocratas, foi que o objeto de sua investigação era a busca de regularidades que permitem que o "mundo econômico" funcione diuturnamente.

aqueles carinhas, inclusive Adam Smith, eram da pá virada, como o comprova o nome de Richard Cantillon, que -segundo entendo:
.a. talvez nem tenha existido
.b. mesmo sem existir, teve um poderoso insight sobre o fenômeno capturado pela matriz inversa de Leontief, sobre o preço da seda e o preço do vinho.

segundo: retorno ao "a quanto viene?". em sala de aula, há milhares de anos, eu insisti com os alunos que deviam pensar:
.a. em como suas próprias ações do cotidiano, entre escovar dentes e selecionar a porta mais conveniente do metrô como manifestações de princípios gerais que regem o comportamento deles próprios e de todos os demais humanos (exceto crianças, criminosos e, principalmente, loucos) que podemos enfeixar no fascio (epa!) "racionalidade".
.b. chamava-lhes a atenção ao fato de que nossas crianças já nascem doutrinadas para a vida econômica e, ao pedirem picolé (ou fichinhas para carrinhos do parque de diversões), não dizem:
-dá-me um picolé!
mas "me compra um picolé", com visível erro de colocação do pronome átono, mas -mais marcante ainda- com visível percepção do funcionamento do mundo econômico e a constatação de que picolés e muitas outras mercadorias são precisamente mercadorias, ou seja, não são bens livres ou dádivas. não nascem em árvores, mas são cultivadas pela mão humana.

segue-se logicamente que, quando uma senhora indaga ao vendedor de livros: "a quanto viene?", ela está certa de que não foi ele que fez o livro que a interessa. ou seja, ela sabe que a divisão do trabalho na sociedade criou os ramos industriais, como o comércio, a indústria editorial e gráfica e a indústria de alimentos (picolés), not to speak dos serviços como parques de diversões.
DdAB
p.s.: amanhã, começo o dia em Pescara, pulo a Roma, Paris, São Paulo e termino a noite em Porto Alegre. tudo a jato!

2 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Adorei a postagem do dia. Só tenho uma ressalva: Acho que Adam Smith existiu e se dependesse de mim o faria ressuscitar rs,rs,rs...
Boa viagem!
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, de mim também. e a expressão que dá título à postagem é boa para a fração de turismo de compras que todo viajante deve praticar...
DdAB