04 abril, 2010

Aécio na 'Veja' e o voto nulo

querido blog:
ao chegar a São Paulo, tomei café e comprei a Veja. o café me fez bem e a Veja fez mal, como poderíamos esperar... li a entrevista de Aécio Neves, governador de Minas Gerais, sobrinho do pimeiro ministro do primeiro governo parlamentarista do Brasil, o finado Tancredo Neves. será que Aécio teve mais chances na vida e na política do que o Sr. José da Silva precisamente em virtude de sua relação de parentesco? para mim, nada é mais óbvio do que isto.

pelo que andei lendo na imprensa, tempos atrás, ele também é boêmio, noctívago, conquistador, essas coisas de gente comum, diversas -portanto- das vilegiaturas e liturgias cabíveis de serem esperadas da parte de um político sério. em resumo, o Aecinho nunca me agradou. e agora, que o vejo identificado com a chapa Serra-Dilma só posso rir de quem pensa que sairá algo de útil deste processo eleitoral que começa a pegar fogo. é tudo ladrão! tem que começar tudo de novo: um partido com alguns vereadores, depois prefeitos e deputados, depois governadores e presidentes. tem que ter uma reforma política decente, em que o presidente seja o chefe do estado e o primeiro ministro chefie o governo, aquela viagem inglesa. e tem que fazer muito mais coisa.

que diz Aecinho sobre a ladroagem?

Quase todo mundo percebe quando a política está sendo exercida como uma atividade nobre, sem mesquinharias, com transparência e produzindo resultados práticos positivos. A política, em si, é a mais digna das atividades que um cidadão possa exercer. Os gregos diziam que a política é a amizade entre vizinhos. Quando traduzimos para hoje, estamos falando de estados, municípios e da capacidade de construir, a partir de alianças, o bem comum. Vou lutar por reformas que possam tornar a política de novo atraente para as pessoas de bem, que façam dessa atividade, hoje vista com suspeita, um trabalho empenhado na elevação dos padrões materiais, sociais e culturais da maioria. É assim que vamos empurrar os piores para fora do espaço político. Não existe vácuo em política. Se os bons não ocuparem espaço, os ruins o farão.

já falei em reformas fundamentais, mas não falei de uma que ele tampouco falará: o voto voluntário, ainda que ele tenha acenado com o argumento da lei de Gresham (o mau político expulsa o bom do mercado político). voltarei a este ponto.

agora, ele mesmo se contradiz com a visão de que tudo começou com Fernando Henrque ou Itamar e não com Lula. a verdade é que o Brasil começou muito antes de 1994, mesmo muito antes de seu tio Tancredo ter sido primeiro-ministro de João Belchior de Marques Goulart:

Se um extraterrestre pousasse sua nave no Brasil e ficasse por aqui durante uma semana sem conversar com ninguém, só vendo televisão, ele acharia que o Brasil foi descoberto em 2003 e que tudo o que existe de bom foi feito pelas pessoas que estão no governo atual. Os brasileiros sabem que isso é um discurso vazio. Não teria havido o governo do presidente Lula se não tivesse havido, antes, os governos do presidente Fernando Henrique e do presidente Itamar Franco. Sem o alicerce do Plano Real, nada poderia ter sido construído.

olha a reforma política delatada por ele. primeiro, isto é ser mineiro: desde 1989, prefere mandatos de cinco anos, tanto é que já se elegeu e reelegeu em mandatos de quatro, ao segundo dos quais acaba de renunciar. quando diz que tentar mudar este status quo é irreal, talvez esteja sendo de cima do muro, pois significa que não quer mandatos de cinco anos. eu sou defensor ardoroso de permissão de reeleição para todos os tipos de mandatos. ou seja, sou de opinião que ninguém deveria ter três mandatos consecutivos, nem vereador, nem presidente, nem os vitalícios do poder judiciário. aí vem ele:

Eu prefiro mandatos de cinco anos, sem reeleição. Defendo isso desde 1989. Mas, hoje, pensar nisso é irreal. A reeleição incrustou-se na realidade política brasileira de maneira muito forte. A prioridade deveria ser uma reforma política que incluísse o voto distrital misto. Isso aproximaria os eleitores dos deputados e ajudaria a depurar o Parlamento.
sobre o messianismo do Presidente Lula, ele rebate com seu próprio culto, ou melhor, com o culto a sua pessoa:

Eu tenho muita vontade de participar da construção de um projeto novo para o Brasil, em que a nossa referência não seja mais o passado, e sim o futuro. Sem essa dicotomia que coloca em um extremo o PT e no outro o PSDB, e quem ganha é obrigado a fazer todo tipo de aliança para conseguir governar. Assim, paga-se um preço cada vez maior para chegar a sabe-se lá onde. O PT deixou de apresentar um projeto de país e hoje sua agenda se resume apenas a um projeto de poder. Eu gostaria de uma convergência entre os homens de bem, para construir um projeto nacional ousado, que permita queimar etapas e integrar o Brasil em uma velocidade muito maior à comunidade dos países desenvolvidos, de modo que todos os brasileiros se beneficiem desse processo.

estas siglas carimbadíssimas pelos mesmos homens de sempre agora digladiam-se como PT e PSDB, c'est tout la mêmme chose. por isto defendo que a chapa Serra-Dilma é palha! e começo a recuperar o mote que usei há dois e quatro anos:

política no Brasil? não vote.
ou, se tiver que votar, anule o voto.

DdAB

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