22 janeiro, 2010

50 Anos Atrás

querido blog:
tudo isto deixa-me um tanto emocionado. o sucesso de minha festa de aniversário dos 62,5 foi algo que me fez pensar nos destinos da humanidade, além de meu próprio. mas tanto pensa em destino (output) que decidi pensar um pouco nas origens (inputs). o primeiro curso realmente sério que recebi sobre o tema foi na University of Sussex, Profa. Julia Hebden (que veio, anos após, a dar-me uma das decisivas cartas que viabilizou meu aceite em Oxford e, como tal, conhecer "o maior intelectual de esquerda" de minha vida. claro que há outros, como Samuel Bowles, mas este eu conheço apenas superficialmente. o Andrew J. Glyn é outra coisa: jamais o esquecerei.

"50 anos atrás" é o título de um livro espírita que li há mais de 50 anos. teria eu uns 12-13, em média (meiota), 12,5. jaguari. tinha Siomara. tinha um neguinho (diria a Ministra Dilma...) que suicidou-se bathing, ou seja, foi para a banheira, encheu-a (um escravo é que o teria feito?), cortou os pulsos, e ficou a olhar a água a colorir-se, colorar-se. no outro dia, evoquei que a primeira vez que ouvi falar em suicídio fora com o casal Leon-Natália. pois não fora. foi no romance. claro que, neste último, todo mundo reencarna, in due time, mas o bom mesmo é não dar cobro à vida. quem o faz pode ser declarado criança, criminoso ou louco.

por falar em "bathing" e "loo", que foi o que procurei no Google-Images, veio-me a figura acima, uma camiseta um tanto sargentepeperizada. mas não era a ela que eu estava buscando e sim a esta coisa de 50 anos. quanto dá 2010-1977? 43, quase 50, ou até 33. ou seja, há meio século, ocorreu-me algo muito curioso.
tipo dia 5 de agosto de 1977, parti de Porto Alegre, embalei-me por uns momentos no Rio de Janeiro e cruzei o Equador pela primeira vez em minha pacata vida. não tomei pileques, como -dizque- faziam os antigos navegantes portugueses. em sucessivas travessias, vi que eles deixaram milhares de descendentes, pois observei uma amostra muito expressiva de muito gambá.
como sabemos, Gatwick é o “segundo aeroporto de Londres”, sendo o primeiro chamado de Heathrow, perto de Reading, para onde eu fui, depois de dois dias de London-London. Caetano e Beatles. de Gatwick, como manda o figurino, fui à Victoria Station. lá, para minha estupefação, vi o primeiro sinal do que considerei sendo um arcaísmo do tempo em que não havia tempo: um aviso para que os usuários da estação cuidassem das carteiras, pois havia ladrões nas cercanias. pensei; “se não gostam de ladrões, por que não os prendem?”
seja como for, no próprio avião da British Caledonian, havia uma boa meia-dúzia de brasileiros e brasileiras. comemos pizza já em Londres, visitamos lojas de artigos “eróticos” na Chaucery Lane (?), Soho. antes do prândio, lembro de ter ido ao “hotel” (depois vim a saber que se tratava de halls universitários) de colegas para “gather together”, como eu aprenderia quase 50 anos depois...
tendo lá chegado, eu queria ir ao banheiro. Indaguei: “can I go to the bathrrrrroom?” achando-me petulante com o caprichadíssimo “r” americano, o Porter (que não era, presumo, o Michael) olhou-me de cima a baixo e fez sua história. não entendi patavina, odiei, mas agora mudei de opinião. ele estava dificultando minha comunicação consigo. dificultar a comunicação, no caso nada mais era do que uma manifestação do humor inglês.
milhares de anos anos depois, quando fui para Oxford (chegando por Heathrow, very practical), vim a entender que “loo” era o que eu deveria ter dito. agora que tudo passou, posso dizer que “loo” é nosso “banheiro”, o “gare de l’eau” dos franceses, que chegou aos ingleses como tal. são os tais. e eu estou na estrada, como sabemos, há mais de 62,5 anos. já cruzei o Equador mais de 20 vezes (entre idas e vindas; são tantas que perdi as contas...)
DdAB