09 outubro, 2009

Abaixo o Mercado

Querido Blog:
Queres controlar trabalhadores livres? Basta apontar-lhes o caminho do desemprego. Queres mercados funcionando prá-cima-e-prá-baixo? Basta autorizar o funcionamento de mercados de escravos, órgãos humanos, a honra, o que seja. Claro que haverá escravos mesmo em sociedades nas quais eles -slaves- serão "transacionados" fora do mercado. Mas, nas sociedades modernas, em que a comunidade gerou instituições de propriedade fortes o suficiente para permitirem a troca e esta -troca- generalizou-se, criando mercados de tudo, não se permitem mercados irrestritos, o que não contraria a visão de Arrow sobre mercados completos.

Ou seja, posso conceber que -para ser completo- a instituição mercado precisa de transações de compra e venda de honra, órgãos humanos e escravos. Mas não preciso ser tão radical, a fim de valorizar a visão do velho prêmio nobel, pois ele está pensando em transações normais, em horizontes de tempo diferentes e dilatados, o que o leva a pensar em seguros como a forma sofisticada que inventamos (eu, claro, e os neguinhos medievais, principalmente eles) de reduzir o risco que nos é trazido pelo simples passar do tempo.

Ou seja II, se não quisermos mercados de crianças para churrasco, precisaremos de regulamentar o que deve e o que não deve ser comercializado. Primeiro ponto: bom mercado é aquele que tem regulamentação forte, ou seja, permite-se ou não sua existência. O bom do mau mercado é que ele existe, mesmo que se tente impedi-lo de funcionar, como é o caso de escravos e drogas. Mas "a lei", ou seja, a comunidade, precisa reprimir isto, sob pena de deixar-se destruir por caroneiros. Segue o "ou seja II": ao mesmo tempo, também sabemos que, em determinados tipos de mercado, os ofertantes podem racionar a quantidade transacionada pelo simples fato de elevarem o preço do que ofertam acima de seu custo marginal (esta frase deve ser melhorada...).

Uma questão interessante é sabermos os limites da regulamentação, ou seja, no caso em que estou focado, se a discriminação de preços, ou seja, cobrar mais de quem o ofertante acha conveniente, deve ser permitida. Por que não deveria? Claro que vender acima do custo marginal significa a presença de ineficiência alocativa. E daí? Não seria o caso de avalizar a ineficiência do jeito que a sociedade a formulou e, se fosse o caso, deixar os agentes dos Blocos B11, B13, B21 e B32 agirem como bem entendem e descarregar a fúria distributiva (ou como quer que queiramos chamá-la) para o Bloco B33? Em outras palavras, por que preocuparmo-nos em tributar produtores e fatores, se podemos tributar exclusivamente as instituições?

Com isto, somos forçados a pensar no Deputado Giovanni Cherini que tomou, se é que meus informantes não me mentiram, três medidas muito maneiras:
.a. proibiu cinema de cobrar seu preço pela regra do mark-up (sem discriminação entre velhos, estudantes ou o que seja)
.b. proibiu bares de cobrarem o preço pelo custo marginal + fundo de pagamento dos custos fixos (consumação) para seus clientes. Ou seja, o Dr. Cherini (que deve ter lá seu diploma de alguma coisa reconhecida pelo MEC, afinal, para que existiria o MEC?) acharia que a cobrança de consumação nos bares da cidade deve ser severamente reprimida, como o tráfico de crianças ou fraudar mesas de jogo...
.c. proibiu os produtores de bergamota de colocarem o produto por seu verdadeiro preço. Uma alínea dizia que, assim que o vendedor estabelecer um preço de venda, deve descontar R$ 1,00 dessa cifra, beneficiando os trabalhadores e suas famílias. Um aceçor disse que esta idéia não iria funcionar, pois as liminares poderiam dizer que o preço da berga não era, digamos R$ 4,00 mas apenas R$ 3,00. Mas o produtor que oferecesse bergas por R$ 3,00 seria obrigado pela lei estadual ou suas liminares municipais a cobrar R$ 2,00. E assim chegaríamos ao preço de R$ 1,00, que a lei mandaria reduzir para R$ 0,00, ou seja, por lei, decretaríamos "abaixo o mercado" e todos os bens passariam a ser o que o dicionário de economia chama de bens livres. Aí, um menino de rua disse ao nobre deputado que ele -meninoo- queria ofertar aulas de piano, mas pelo preço de R$ 0,00, não se sentia apto, ainda que totalmente disposto. E indagou-me: "tá certo isso aí, diretoria?" Anuí.
DdAB

2 comentários:

Unknown disse...

Dear Professor: creio que nossas leituras não têm nos conduzido a uma convergência de pontos de vista ... as minhas, para bem ou para mal, têm me levado a acreditar que triste mesmo é falar sozinho e transar com a parede. Exclua este cometário, se assim lhe parecer.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Caro Prof. Ellahe:
pois não é que foi só eu falar em prêmio nobel de economia para Kenneth Arrow que a Academia Sueca já deu o prêmio da paz deste ano para Barack Obama. quem ganhará o de economia? sabemos que Jorge Luis Borges muito ambicionou o de literatura e desta vida levou apenas o que deu?
DdAB