21 setembro, 2009

Dilma, Glyn e o Internacionalismo Proletário

Querido Blog:
Tempinhos atrás, referi -por aqui- que, interessado em coisinhas de economia monetária, comecei a olhar "O Capital" de um lado e de outro. Interessava-me dar um passo além no entendimento do problema da transformação de valores em preços. Aprendi que a transformação ocorre no preciso instante em que surge a forma preço do valor. Isto levou-me a ficar pulando entre o primeiro volume e o terceiro. Edição Penguin, com belas introduções de Ernest Mandel e esmerada tradução (alemão-inglês) de Ben Fowkes (primeiro) David Fernbach (terceiro).

Que estará fazendo nesta postagem um fragmento da capa de meu amado orientador Andrew Glyn, falecido no final de 2008? Ele escreveu e deu-me de presente (autografado) o livro "Capitalismo sem Peias", se é que os surfistas trduziriam "unleashed" por esta palavra um tanto arcaica. Ele estava muito feliz, quando o vi pela última vez, com seu "small book". E eu também fiquei, ao vê-lo, ao vê-los, ao lê-lo. Um dia ainda falo mais sobre ambos, o livro e o autor.

Ocorre que eu decidira fazer uma postagem dizendo que -entre os obituários que li- um deles referia, en passant, que ele -Andrew- brincava que era citado por Marx. Não era bem isto, mas -ainda assim- ele nunca me falou nisto e eu tampouco notei, ainda que tenha jurado que li o terceiro volume inteirinho no primeiro ano de minha estada em Oxford. Pois agora, ao olhar essas coisas monetárias, encontrei a referência à p.1047. Está no Suplemento e Adendo escritos por Engels, uma seção curtinha intitulada "2. The Stock Exchange", o que -talvez- explique que eu não chegara a ela, passagem, naqueles tempos:

The same [concentração, como nos demais ramos industriais citados desde a página anterior] for banks and other credit institutions, even in England. Immense number of new institutions, all limited liability. Even old banks such as Glyns, etc. transformed into limited companies with seven private shareholders.

Dito isto, chego a Dilma Rousseff, nossa candidata à presidência da república (nossa, mas não minha, meu chapa, pois eu estou em desobediência civil e não voto em ninguém). Segundo a p.18 de Zero Hora de hoje, ela diz:

Acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins.

Isto dá uma postagem on its own. Mas não vou fazê-lo. Deixo registrado o recurso retórico. De minha parte, acho que ela acha que "quem defendia que o mercado solucionava tudo" não era interlocutor sério. Como tenho dito relativamente a, especificamente, alguns empresários e -talvez- outros de seus acólitos. Então vejamos:
.a. tá na cara que o mercado não soluciona tudo: externalidades, bens públicos, poder de monopólio etc.
.b. tá na cara que o mercado provê, inclusive crack a uns rapazes que andei ouvindo dizer terem matado a mãe, o pai, o vizinho, o filho dos ricos. Acrescento, no caso, que nem tudo que é provido pelo mercado será socialmente desejável, como penso serem os bingos, a cachaça etc.. Ocorre que, além de prover, o mercado tem a função de racionar. E um mercado bem regulamentado pode contribuir para desprover os criminosos que viciaram aquela velhinha em crack (ou era apenas seu filho 'inútil'?) de uma condição de "monopolistas" absolutamente anti-social.
.c. tou com ela, no sentido de que o mercado não é capaz de legislar, mas
.d. já discordo de que o mercado não garante. Ele garante a estrutura de incentivos mais compatíveis com as previsões que hoje fazemos sobre comportamentos humanos: recompensas materiais
.e. agora, a tese do estado mínimo, precisamos examinar com cuidado. tem gente que acha que o absurdo não é o estado prover educação, mas produzir gasolina.
.f. precisamos saber exatamente que tese faliu sobre a desejabilidade de existir um estado mínimo, inclusive definindo o que quer dizer "mínimo"; estado, já sabemos, é o instrumento de opressão de uma classe sobre outra, o que nos leva a querer substituir o governo dos homens pela administração das coisas. Quando um político do porte do Doutor Prisco Vianna preside a Petrobrás, está tudo perdido.
.g. por fim, não creio que, entre os tupiniquins -antes de serem exterminados-, houvesse "estado mínimo".
DdAB

p.s.: decidi fazer este peésse para registrar a seguinte frase:

fortalecer a luta por uma sociedade socialista e redicalmente democrática, cuja construção requer a derrota do imperialismo, por meio da unidade internacional dos trabalhadores, visando à independência nacional dos povos oprimidos e à expropriação do capital pelos trabalhadores.

ela refere-se a um dos 400 objetivos da Andes (não lembro o que quer dizer, mas é um troço que virou sindicato que me representou/representa (?) como professor associado aposentado da APUFSC). seja como for, pago a APUFSC mensalmente e esta era filiada à Andes. não conheço bem os meandros do descontentamento crescente das associações de docentes com os fortalecedores da luta pela sociedade socialista. o fato é que a UFSC desfiliou-se da Andes e já chegou tarde, pois há milhares de universidades federais que já procederam ao rompimento. a única salvação da Andes é que isto foi citado enviesadamente pelos autores do artigo de onde tirei a cita: Almir Quites e Paulo C. Philippi, intitulados (o artigo, não ele, claro, o "s" é que sobrou) "Por que um sindicado e não uma seção sindical?", no Boletim da Apufsc n.691, do dia 14 pretérito. eu acho mesmo que apenas um datilógrafo bêbado poderia transformar de tal maneira as notas do secretário da assembléia em que os 400 (ou eram apenas 4 ou 4 x 10^64?) objetivos foram alinhados. ou vice-versa, isto é, o datilógrafo pediu demissão, pois o secretário pediu-lhe para digitar aquele troço mesmo. o que mais me doi é que os dirigentes do clube de apoio ao socialismo que me federou (eu, membro da APUFSC; ela, federada pela Andes) é nacionalista, como o foi o Sr. José Stálin. unidade internacional buscando a independência nacional? pensavam na África dos anos 1950? são loucos? e o internacionalismo proletário não seria o que disse o Sr. John Lennon? digo o que ele disse: "imagine there's no countries, ..., [imagine] a brotherhood of men, ..., imagine all the people living life in peace." refeito, só posso dizer que amei esta da independência nacional, um projeto da burguesia que construiu o estado-nação. no outro dia, eu falei que vou criar uma federação do pessoal que luta para o erguimento da Organização dos Povos Unidos!

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