12 agosto, 2009

A OAB e o Crack

Querido Diário:A festa na imprensa sobre a tragédia que vive o RGS é interessante. Na verdade torna-se necessário definir a tragédia, pois há milhares:
.a. compra do jogador Renato Casé o.s.l.t., contestada até em foros internacionais
.b. compra de crack por crianças como a da foto, o que suscitou o artigo do presidente da OAB estampado na p.19 de Zero Hora de hoje
.c. compra de honra de políticos (no capitalismo, tudo vira mercadoria...), inclusive acusações oportunísticas contra a Profa. Yeda Rorato Crusius
.d. compra de sonhos por parte de todos, todos os políticos brasileiros, tudo ladrão!
.e. líderes religiosos acusados de afanar dinheiro divino
.f. o show comemorativo aos 50 anos de carreira de Roberto Carlos.

Diz o crack, digo, diz o Presidente da OAB/RS, Mr. Claudio Lamachia:

Triste e inegavelmente bem organizado em suas ramificações, o narcotráfico, um dos mais rentáveis negócios do planeta, não dá sinais de recuo e coloca em xeque as ações empreendidas para enfrentá-lo. [...] O crack elevou ao patamar de catástrofe social o potencial de violência e criminalidade que acompanha o mundo das drogas, lícitas ou não. Nesta mesma órbita estão dramas pessoais e familiares que causam extrema dor. Seres humanos, tanto em tenra idade quanto adultos e mesmo famílias inteiras – especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social –, vêm sendo literalmente destruídas pelo simples contato com a pedra da desgraça. É preciso que as políticas públicas neste campo recebam investimentos e considerem os vários aspectos que envolvem a narcodependência, como a realidade socioeconômica do país, a conscientização da população e, em especial, das famílias, o drama pessoal vivido pelos usuários e aqueles que os cercam, as dificuldades de bem vigiar todas as fronteiras por onde passam as drogas e/ou seus componentes, as carências das entidades assistenciais e de saúde, a necessidade de recursos para os aparatos policiais, a urgência das melhorias nos sistemas prisionais e a agilização da Justiça, dentre outros fatores igualmente importantes.

E conclama-nos, toda a sociedade, a nos engajarmos no enfrentamento de frente ao problema, "sem meias medidas". Pois bem, depois de ter lido todo o artigo e, especialmente, glosado as partes aqui citadas, pensei: "em que sentido o Sr. Lamachia fala nesta ausência de meias medidas. Talvez tenhamos lido apenas declarações pobres de espírito, declarações de horizontes de informação e imaginação estreitos, declarações que não conseguem conceber que uma das medidas que completam as meias é a descriminalização das drogas recreativas. Tais declarações reconhecem haver drogas "lícitas, ou não". Não conseguem imaginar a categoria "recreativas x aditivas", ou o que seja. Preciso citar mais:

De largo espectro, a luta contra as drogas – e o crack – é, por isso, de toda a sociedade e deve objetivar o fim ou a minimização dos dramas pessoais e familiares, o banditismo, a violência e a criminalidade umbilicalmente associados ao comércio e ao uso ilegal de narcóticos.

Primeiro, meu chapa, a luta contra as drogas não é de toda a sociedade. Em particular, eu defendo o uso do café (uns cafezais destroem as terras roxas) e do desodorante (uns pozinhos destroem a camada de ozônio). Ah!, não era "drogas" a que o Dr. Lamachia se referia. Eu até me atreveria a aventar como hipótese de mente mais aberta que o maior "potencial de violência e criminalidade" acompanha a doença mental e não a droga recreativa. Talvez o consumo de drogas recreativas, como o chimarrão e a coca-cola, seja até redutor da violência e da criminalidade. Nunca ouvi dizer que um esportista escorreito, mesmo que tomando sua cervejinha após o jogo, use a violência como forma de expressão atlética.

O problema do Dr. Lamachia é que ele pensa exclusivamente na repressão como forma de acabar com o uso indevido de drogas. Se ele ouvisse falar em salas de consumo de crack e seu poder de destruir instantaneamente o tráfico, ele doutor ficaria boquiaberto. Mais ainda ele ficaria se viesse a entender que o maior combatente à droga perversa é a educação: educação é libertação, ao passo que droga perversa é escravidão. Se a educação auxilia o indivíduo a encontrar seus objetivos na vida e lhe dá forças para lutar por eles, apenas crianças (como as da ilustração de hoje), criminosos (como os políticos) e loucos (como um número expressivo de criaturas), então segue-se logicamente que a liberdade será apenas consequencia de uma leitura descomprometida de Aristóteles, Voltaire e milhares de outros!

Em outras palavras, em minha maneira de ver, um dos maiores vilões na corrupção da juventude pelo tráfico de drogas perversas é precisamente o moralismo legalista de certos advogados e policiais, uma dupla de fazer corar o par médico-economista. E há economistas que acham que o problema das drogas é econômico, que a estrutura de incentivos criada por policiais e políticos é tão alta que vale a pena correr enormes riscos para empalmar os lucros extraordinários. Tanto é que o Dr. Lamachia reconhece ser 'o narcotráfico um dos mais rentáveis negócios do planeta'. Que fazer? Proibir o Sol de girar? Abandonar a carapaça moralista?
DdAB

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