03 julho, 2009

Highgate e os Termos de Intercâmbio

Querido Diário:
tu sabias que para visitar a tumba de Karl Henrich Marx no Cemitério de Highgate, deves passar pela estação de Highgate e descer na de Aldwich? e que aquelas cruzes que vemos na imagem acima não são dele, mas de seus vizinhos? e que a tumba já mudou de lugar três ou quatro vezes lá dentro do próprio cemitério? e que até Herbert Spencer já andou vizinhando com Karl? e tudo o mais? e que uma hipótese tão controversa quanto a da queda dos termos de troca é a queda da taxa de lucro?

sigo no tema da queda dos termos de troca, na desindustrialização mundial e na volta do Brasil, se removerem as barreiras protecionistas, ao domínio do agronegócio. ou seja, o Brasil tem tudo para deixar emergir uma economia cujo motor setorial seja o agribusiness. não há razão para imaginarmos que o agronegócio seria incapaz de dinamizar, digamos, a modernização da rede nacional de transportes ou a pesquisa pura na área de cinescópios (ou o que seja).

o assunto começou com a postagem que transcrevi em parte ontem (blog de LeoMon). em resumo, entendo que parece haver mais razão em negar a lei da queda da "relação de termos de troca" do que em aceitá-la. tivemos industrialização e desindustrialização no planeta. comentando Anaximandros e a mim, Léo lembra-nos da maravilhosa história de Baumol ("você não pode elevar a produtividade de um quinteto de cordas, a não ser transformando-o num quarteto"), mas ele mesmo reconhece que um MP3 eleva a produtividade (direta e indireta...) do quinteto. eu acho que o futuro do mundo é mesmo serviços (transportes interplanetários, educação de asnos e transplantes de idade...) e que a produtividade neles pode elevar-se infinitamente.

ainda assim, acho que o cerne da "capital accumulation" ruma para o "cassino financeiro". entendi isto desde que vim a entender que o que Marx chamou de "forma preço do valor", o ápice da transformação do valor dado pela quantidade de trabalho da mercadoria em dinheiro, é simplesmente a oferta monetária avalizada pela sociedade, para cada nível de capacidade instalada vigente. parece óbvio que é a produção de bens (aparelhos de MP3, ou frangos vivos) e serviços (cirurgia conserto de 10 anos de idade, ou concerto de 10 cordas) que gera bem-estar (digo isto, pois um menino de rua meu vizinho ainda confunde produção com produto, uma das três óticas de cálculo de mensurar o valor adicionado).

ou seja, penso que no futuro, um velhote de meu porte poderá comprar décadas de vida, o que o deixará muito feliz consigo mesmo e com a produção de mercadorias embalada na divisão do trabalho, aquelas coisas. mas minha visão (ou isto é apenas Conceição Tavares e sua "ciranda financeira", tema que não domino?) é inisistir numa analogia. refiro-me, por um lado, à evasão das economias modernas da produção de bens (agricultura e indústria) e direcionamento aos serviços. E, por outro lado, ao Efeito Excel.

por efeito Excel, Bill Gates e eu entendemos o fenômeno que fez o PIB agrícola de Porto Alegre cair a 0% do total, ou seja, poderia ser algo tipo 0,031416, mas com uma casinha apenas depois da vírgula dá 0,0%. ou seja, um dia, a agricultura, a indústria e os serviços* representarão 0% do PIB. Que é que podemos entender por serviços*? os serviços financeiros, incluindo os cassinos cujo elogio vimos na crise de setembro do ano passado. "elogio?", indagaria algum mecanicista. resposta: claro que sim, pois é precisamente o poder desta ciranda financeira em influenciar negativamente o setor real que lhe dá o atestado de poder. e não adianta fazermos seguros contra crises, pois o valor dado por M x V (estoque de moeda vezes velocidade de circulação) é a forma preço do valor pactuada pela sociedade. não é?
DdAB

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