19 junho, 2009

Yeda, Villela, Fogaça

Querido Diário:Dizia um professor da Faculdade de Economia da UFRGS, ao ouvir opiniões estarrecedoras de alunos desafetos: "Então, está tudo esclarecido". Ao ler o artigo do economista e ex-prefeito de Porto Alegre, Econ. Guilherme Socias Villela, sobre a Gov. Econ. Yeda Rorato Crusius, na p.21 da ZH de 18/jun/2009, pensei c'amigo: "Então, está tudo esclarecido!" Ele, Guilherme, acompanhado no clichê acima do Pref. José Fogaça, começou seu artigo intitulado "Yeda-crônica para um governo", com os dois segintes parágrafos:
.a. "Dizem que o governo de Yeda Crusius é um governo de crises políticas."
.b. "E é."

E depois, novo parágrafo: "Dizem que [n] o governo Yeda quer impor projetos tais como o da meritocracia nas carreiras públicas e as PPPs para as penitenciárias." Novo parágrafo: "Pois, nisso, aqui, com seriedade, há que se exigir uma análise menos linear. Mais profunda."

Neste caso, já contamos com dois elementos importantes para a avaliação do conteúdo econômico da crônica. Primeiro, o parágrafo "E é!" encontra-se entre os menores já escritos pela humanidade. Eu mesmo já andei escrevendo um menor: "É." Mas vírgula, vírgula o paragráfo da seriedade é mais virgulado do que a média dos virguladores, desde Euclides da Cunha, se bem lembro. Na planilha Excel que uso rotineiramente, depois de contar 15 palavras e quatro vírgulas, arredondei para 0,25 o número de vírgulas por palavra. Um menino de rua do tempo de Villela prefeito que tornou-se juiz de direito disse-me: "Ainda bem que Sua Sumidade não escreveu a segunda sentença do parágrafo como rezaria algum atrevido: '+ pro Y".", dando a entender estar escrevendo uma carta enigmática em que a letra "y" do novo alfabeto da língua portuguesa desempenharia o papel de "funda".

Por exemplo, a função y = tan x não é linear e profundíssima, como quer o colega, pois varia profundamente por todo o conjunto dos números reais. Mas sua gabolice, da função tangente, iguala-se à da linha reta y = x, que também é profunda, ainda que linear. Não vejo a razão da gabolice da tangente em ser tangente, desprezando a profundidade alcançável pela (análise) linear.

Chegamos ao mundo encantado da economia política. Reconstituo-lhe a seguinte frase, a comentar: "[...] o [... segmento] executivo [do governo do Rio Grande do Sul] pôs a correr projetos de grande multiplicação de empregos e de negócios [...]." Aí, heu pensei: será que o colega Villela sabe o que é matriz de contabilidade social, coisa que vim a aprender ao longo de anos de sofrimento e abnegação ao estudo? Nem, ainda que mais árido, tenha lido a postagem que fiz aqui há tempos provando matematicamente que emprego pouco ou nada tem a ver com distribuição do valor adicionado. E que o valor adicionado resulta da produção. E que a produção resulta do emprego. E que cada vez produz-se mais com o mesmo volume de emprego e até também mais com menos emprego. Mas principalmente que suponho que ele ganhe renda sem trabalhar (nada falo sobre o passado, mas sobre sua presumível condição de cidadão sênior, id est, aposentado). Nem tangentes nem senoidais indicariam que esta análise em que ele incidiu é "linear", not to speak of deepness, atributos das tangentes, alheio -em boa medida- da função seno, ainda que senóides, acopladas a funções profundas, como a tangente e a reta, possam -et pour cause- aprofundarem-se.

Esse troço de mandar a Ford embora é uma das questões mais interessantes para uma monografia de graduação em história econômica. E as razões que levaram o Lic. Olívio Dutra a presidir um governo municipal que fechou os brizolões daria, claro, uma tese de doutorado. Não no sentido de explicar-lhe a miopia e obstinação, mas de provar que quem fecha brizolão também aparelha a administração pública com detentores de cargos em comissão e ajeita o mundo para a burocracia agatunada tomar conta do partido que ele hoje, por puro acaso, preside.

Bem, sigamos com Villela's letter: "[...] Yeda está tentando mudar o Estado [...]" E agora vem bucha: "Ora, todas as mudanças são sempre acompanhadas de reações. (É algo hegeliano ou marxista, como quiserem.) [sic]." Pensei: "mudança sempre provoca reação? qual foi mesmo a reação do estudante que Rodrigo Cardoso da Silva, 27 anos, assassinou? e, por sinal, assassinou mesmo ou é apenas, como diz a p.49 da mesma Zero Herra do artigo de Villela, "[s]uspeito do assassinato, ele foi preso na tarde de terça-feira." Afinal, pensei: a Ford foi-se por causa do stalinismo ou vice-versa? Os ladrões encastelaram-se nos cargos públicos desde que o Marechal Humberto de Alencar Castello Branco assumiu a presidência da república, ou antes dele? E segui com indagações lineares (com o coeficiente angular diferente de zero), mas rasas, sob o ponto de vista da metáfora. Por fim, lembrei-me da Profa. Beatriz de Nonoai, ou foi o Prof. Hélio Riograndense?, que ensinou-nos as "leis de Newton". Uma delas é chamada popularmente, entre os meninos de rua que entrevistei especialmente para esta postagem, de "lei da ação e reação", o que não seria diretamente, pelo menos, nem hegueliano nem marquicista. Ou seja, o articulista deu-me o direito de querer Hegel ou Marx. Não apenas prefiro ambos, ou -diria a governadora- sou indiferente entre eles (Castello, Costa, Célio Marques Fernandes, Telmo Thompson Flores, Guilherme Socias Villella e todos os demais prefeitos nomeados dos agora 5.000 municípios brasileiros). Mais que isto, coloquei na mesma curva de indiferença (não-linear) o Mr. Itzaak Nilton. E colocaria mais gente, caso sobrassem sempre preconceitos toscos costurados dos dois lados.

Adelante, como teria dito Brancaleone: "[...] Brito tentou modernizar a economia e a administração pública." Pensei, claro e imediatamente, em Eliseo Padilha, acusado -conforme notícia de antanho de ZH- de afanar merendas escolares em Sapiranga (ou outro ponta-direita) e, também ouvi, pode ser fofoca, dono das empresas de pedágio (conservação de estradas), estas que têm o maior lucro por unidade de faturamento. Concessões de Brito? Méritos do empresário dos dois mundos (mundo business e mundo politics)?

Passo a concluir. Ontem, falara da privatização das prisões. Dizia que a sociedade se articula por meio de três organizações: comunidade, mercado e estado (que prefiro, diferentemente de Hegel e aquela história de encarnação do espírito puro, grafar sem capitals). O que eu não disse, por tê-lo feito em outras postagens, é que cada uma destas insntâncias organizativas pode funcionar bem ou mal par elle même, e -bem ou mal- associar-se a uma ou outra das demais para privilegiar privilégios, como o imposto de renda de 27,5% que a igualdade legal impõe a Yeda Pereira, Bobby Nelson (o menino de rua da 'lei de Newton'), Casagrande Padilha, Lúcia Camini, e por aí vai. Por exemplo, o tráfico de drogas permitiu uma desagradabilíssima aliança entre o assassino presumido acima, seus fornecedores de crack, sua vítima estudantil, o grau de eficiência com que o sistema judiciário Brazilian está operando: ou seja, mercado e estado. E há exemplos de alianças espúrias entre as demais combinações, o mesmo podendo-se dizer de alianças virtuosas.

Ou melhor: a conclusão vem agora. Não é porque Tarso não quer ou que Villela quer que devemos tornar os presídios, a exemplo da saúde e da educação, mais acolherados com iniciativs comunitárias. Claro que agentes econômicos do porte de um Eliseo Padilha, Inocêncio de Oliveira, Supermercados Paraguay, Automóveis Belíndia, e por aí vai, deveriam ser distanciados de iniciativas que viabilizam excesso de intimidade entre, digamos o mercado e o estado. Let's not forget: não endeusemos absolutamente (tangencial e profundamente) as comunidades, que -sabemos desde ontem- também praticam falhas estruturais, como o linchamento.
DdAB

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