30 março, 2009

Maconha no Edifício

querido blog:
esta postagem é a reedição de coisas que enviei por e-mail a quem de direito.

primeiro: sobre minha maneira de pensar. ontem, num almoço social, conversava com minha esposa (epidemiologista) e uma colega dela (psiquiatra) sobre as questões éticas envolvidas no uso da ritalina (remédio crescentemente usado para aumentar o estado de alerta do usuário, pelo que entendi). emendei o assunto para falar sobre a legalização das drogas. já conheço a opinião de minha esposa a respeito, inclusive sua relutância a aceitar que eu fale em "legalização", preferindo outras expressões, como "descriminalização". para mim, esta questão de termos é irrelevante, pois -ao defini-los adequadamente- ficará claro o que quero dizer com "legalização", o que não seria muito diferente de "descriminalização". na verdade, o que me parece relevante para o tema é a liberdade de escolher dos "consenting adults". e o conceito associado de droga recreativa. com estas noções, resta pouco espaço para a proibição. mas há três agentes sociais cuja ampla liberdade de escolha é bloqueada pela sociedade: crianças, criminosos e loucos. no caso, se o indivíduo não é declaro nem criança, nem criminoso nem louco, não vejo razões para proibir o consumo de café, chimarrão, baseados, whisky, e por aí vai.

segundo: um ponto parece evidente sobre a confluência de opiniões. elas e eu queremos reduzir o consumo de drogas, sendo que apenas uma das duas posições é que fará a diferença. ou mantém a repressão e reduz o consumo ou, ao contrário, cria mecanismos legais que favoreçam a redução do consumo. em minha maneira de ver, em 20 anos, as multinacionais do tabaco poderiam adequar-se a políticas governamentais e -encarregadas de comercializar, por exemplo, cocaína- teriam um mercado disciplinado e cadente, como é o caso hoje com o tabaco. trata-se de um interessante caso de uma indústria que tem reduzido a quantidade ofertada de seu produto e, ao mesmo tempo, auferido lucros crescentes. claro que sonho que isto aconteceria com o consumo de cocaína, sem destruir o Brasil (como o fez) ou os Estados Unidos (mais difícil, pois a comunidade é mais robusta do que a nossa).

terceiro: que fazer com os traficantes? em particular os de crack? uma solução é deixar as multinacionais destruí-los. outra é, por outros meios, dar o controle da oferta para, por exemplo, o ministério da saúde (inclusive comprando a droga de empresas legalmente estabelecidas e licenciadas para produzi-las). na califórnia neste preciso momento, há um projeto do deputado Tom Ammiano (http://www.tomammiano.com) buscando criar o monopólio estatal do consumo de maconha. este ponto é interessante para o Brasil: que será de nossas políticas repressivas, se os USA liberalizarem o consumo de drogas (ainda que "leves", como o THC)? por que há gente envolvida no tráfico? a explicação econômica é que eles são atraídos pelos lucros extraordinários que ocorrem nesta indústria. e, se isto é verdade, a causa da possibilidade da realização de ganhos extraordinários é precisamente o risco em que incide quem nela se engaja, precisamente por causa da proibição legal. ou seja, muita gente de "maus bofes" abandonaria a indústria se os lucros fossem cadentes, ou menos bombásticos. e iria tentar "cantar em outra freguesia". sem as drogas, o sistema judiciário teria mais capacidade de lidar com o crime organizado. com elas, ele foi destruído e não há maiores chances de reversão. há dias vi alguém defendendo o fechamento do senado federal, coisa que faço há muito tempo. defendo também a extinção dos estados, unindo o Brasil e quem mais queira em uma federação de municípios e defendo ainda a extinção do poder judiciário, com transferência das atribuições de contribuir para a eficãcia do cumprimento dos arranjos institucionais para o poder executivo (ministério do interior, uma coisa destas).

quarto: e, enfim, chego ao assunto do ingresso controlado de estranhos em nossas residências. acho que não existe saída a curto prazo para as objeções associadas com a falta de interesse dos indivíduos envolvidos nos problemas de coordenação, por exemplo, de um condomínio ou de associação de moradores de um ou outro quarteirão do mesmo bairro.

meu problema é que em meu condomínio foi proibida a entrada de motoboys, entregadores de pizzas, DVDs, remédios e o que mais se sabe, como -talvez- drogas ilegais, armas clandestinas, massagem, fitoterapia, reiki, sei-lá-que-mais. e, instada a pronunciar-se sobre o tema a polícia disse que este é mesmo o melhor procedimento. eu dei uma longa sugestão sobre como usar a comunidade para aperfeiçoar o controle das pizzarias, farmácias etc., por exemplo, requerendo que os motoboys não sejam criminosos evadidos das penitenciárias estaduais.

a entrada destes entregadores nas residências pode estar colocando em perigo os vizinhos. ainda assim, penso que eu mesmo coloco em perigo os vizinhos a cada instante, por exemplo, ao esquecer a frigideira no fogão aceso, ao sobrecarregar tomadas de luz e força com excesso de aparelhos (em meu edifício houve um incêndio associado com este problema). também ao ser sequestrado e ingressar, acompanhado do sr. assaltante, recusando-me a resistir e -assim- salvar a vizinhança de eventuais ameaças.

qual é a chave para não morrermos de tédio com a inação a que este tipo de argumentação (o quarto item) levaria? acho que precisamos definir em quem confiar (por exemplo, em mim) e estabelecer sanções para o caso de eu esquecer a frigideira, para o caso de ingressar no prédio mal-acompanhado, de facilitar a entrada de moto-boys que picham os elevadores, que roubam o jornal do vizinho ou que ingressam na casa dele/vizinho e o assalta. e, delegando a confiança, algum agente social do porte da administração do condomínio, dos vizinhos de casa/de/rua, e por aí vai, devem estabelecer sanções para os infratores (colaboracionistas), para não falar de cobrar das autoridades solução para o problema da impunidade geral com que se defronta hoje a sociedade brasileira.

quinto: que fazer com a pizzaria que não aceita colaborar com a identificação pública de seus trabalhadores? isto já é assunto para cooperação comunidade-estado, por exemplo, informando a Polícia que tal ou qual empresa recusa-se a dar o número da identidade de seus funcionários que ingressarão em ambientes privados. e que fazer com o vizinho que não pede o número da carteira do moto-boy: remeter ao item quatro acima.

sexto: e como organizar esta comunidade brasileira que se vê predada por todos os lados: os oportunistas (empresários destrutivos, os assaltantes) do crime e os oportunistas da política (empresários da política com "funções de preferências que privilegiam o interesse próprio e não o interesse comunitário)? eu gostaria de vê-los banidos, trancafiados em prisões decentes (sem carandirus etc.). e que fazer enquanto meu desejo não se torna realidade?acho que uma saída é a militância que vocês praticam, que -talvez- tenhas aprendido em teu tempo de residência na América. e penso que a justificativa para a militância (que gostaria de iniciar a fazer, estou tentando, com pilhas de limitações, reconheço) poderia ser encontrada em diversos escritos do americano Richard Rorty. teria dito ele que a pessoa que faz o discurso "do bem", mesmo que não acredite nele no momento de proferi-lo, estará criando condições em sua mente para mudar de comportamento. isto mais parece psicanálise do que filosofia, mas -talvez sem ser ignorante em Freud etc.- o que Rorty gostava de dizer é que ele era filósofo da educação.

mas há problemas, de qualquer jeito. por exemplo, todos os políticos elogiam a honestidade, o que não é suficiente, mas se houvesse mais cobrança comunitária, seria mais "lucrativo" para eles a busca de maior coerência entre sua fala e suas ações desonestas.

encerramento: vou tentar editar o material que remeti antes, tuas objeções e minha argumentação e encaminhar ao endereço que recebemos. claro que estarei ainda esperando uns dias para ver tua reação a este. ou seja, meu plano é seguir no plano..., mas o plano contemplava mais do que a ambição de mudar o problema das entregas de moto-boys, pois sem bem que "o inimigo mora ao lado", ou seja, o inimigo sou eu mesmo e os demais vizinhos (de diversas gerações) que não fazemos "vida comunitária".

o tchê, se tu não entendeu o que eu postei acima é porque tu não leu direito? ou porque eu é que não editei direito este e-mail de que falo.
DdAB
p.s.: busquei a ilustração acima com "maconha no edifício" e nada apareceu. mudei para "maconha no prédio" e vieram 21 imagens. selecionei a primeira, nem sei de que se trata, mas acho bem estranho que um país como o Brasil tenha tanta leniência com o crime. parece que o fim-do-mundo não era mesmo o jogo do bicho. outro absurdo esta questão da ilegalidade do jogo. claro: criança, criminoso e louco não poderia frequentar os cassinos. tudo novamente.

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