09 março, 2009

Embraer, Brossard & o Futuro

Querido Blog:
Estava há dias pensando em postar algo que endereçasse comentários às demissões de mais de 4 mil trabalhadores da Embraer. Todos sabemos quea Embraer é uma empresa tão brasileira quanto a Nestlé ou a Volkswagen? Diferentemente destas duas últimas, porém, a Embraer nasceu brasileira, como a Memphis (sabonetes), que teve o controle do capital cedido a americanos.

E que tal viajar num aviaozinho dos acima, num azul de bridadeiro dos acima? E que tal viajar num aviaozinho como os abaixo, meter um vinhozinho como o do copo do passageiro invisível ao lado da cadeira da almofada? Quatro almofadas valem uma casa, na tradução de Reginaldo Sant'Ana d'O Capital, da Editora Civilização Brasileira, não é isto?
E que tal trabalhar numa empresa como esta que produz ambientes suntuosos como o da foto do opíparo almoço (havia luzes de dia? ou era jantar, num maravilhoso evening a 10 mil metros de altutude? E que tal comprar um 190?
Pois consta que o Tribunal de Justiça requereu que a Embraer recontrate os trabalhadores demitidos. O Tribunal não concorda que a demanda por aviões da empresa estrangeira caia, nem aqui nem no estrangeiro. Esses ministros têm cada uma... Por falar em ministros, o Mister Paulo Brossard (p.15 de Zero Herra de hoje) em "A crise exige seriedade" critica esta postura, digamos, arrojada de seus ex-colegas de Tribunal, pois o articulista aposentou-se, sabe-se lá qual deles...

Brossard argumenta que, ao descrever a crise mundial como "marolinha" para o Brasil, Lula condenou-se a si próprio e a todos os demais, exceto a Paulo Brossard, a não entenderem a seriedade da atual conjuntura. Cito-o:

"A crescente dispensa de trabalhadores é notória; demissões afetam um terço dos lares em São Paulo; leio em um dos nossos jornais, é um dado que fala por si. Mas o da Embraer talvez seja o mais importante para a compreensão ou incompreensão do problema. Empresa de bom conceito interno e externo demitiu 20% dos seus servidores, porque o seu mercado predominante é o externo e este foi duramente golpeado. O presidente da República lamentou o fato, mas parece ter reconhecido que a situação era irremediável. Ele, que tanto gosta de falar, nada disse e, não falando, disse tudo. Agora, há quem pretenda escamotear a realidade com aspirina em caso de pneumonia.

"Tenho dito, de longa data, que rica é a pessoa que tem um bom emprego, feliz quem tem emprego, mas lastimável mesmo é quem não o tem e vê passarem os dias, semanas, meses... desempregado. Sempre vi no emprego o sonho de qualquer pessoa. Contudo, é preciso não esquecer que não há emprego sem empresa. Esta a dramática situação criada aqui, a despeito da candura da 'marolinha'.”

Não posso negar ter gostado da manobra retórica do "ele [...] nada disse e [com isto] disse tudo". Ao mesmo tempo, considero que -infelizmente- muita gente também tem dito, com ele, "[...] que rica é a pessoa que tem um bom emprego, feliz de quem tem emprego." Na condição de ministro do ínfimo tribunal municipal, discordo em dois pontos:
.a. "feliz de quem tem emprego": comento: infeliz de quem tem emprego - o bom mesmo é o lazer e não o trabalho; lazer que gera despesas é apanágio de quem tem dinheiro, é rico;
.b. "rica é a pessoa que tem um bom emprego": esta visãozinha paupérrima do processo econômico, moralista e proselitista deixa de ver que rico mesmo ou ganha pro labore ou não trabalha at all. Quem tem um empreguinho que lhe permite vez-que-outra viajar num daqueles copos de cristal portadores de vinho na saleta de um avião da Embraer é, claro, mais rico do que aqueles detentores do emprego precário que contribuem para meu marcador "Lixo Urbano".

E que vai acontecer com a Embraer se o ministro não mudar de idéia e forçá-la a reter seus trabalhadores demissionários? Ele vai quebrar ela. Ou seja, o ministro e seus poderes quebrarão a empresa e seus acionistas. A idiotice nacional pensa que salário mínimo é indexador das aposentadorias dos ex-trabalhadores. Ela também pensa que o trabalho enriquece, quando o que faz com que quem quer que seja enriqueça é a elevação de seus ganhos de produtividade. E produtividade é inimiga do emprego, por definição. Quer ver? Se p = V/E, onde p é a produtividade, V é o valor adicionado pelo trabalhador e E é ele, o trabalhador, quanto menor o denominador (como é o caso de qualquer fração do mundo ocidental), maior é a fração. Claro que V poderia subir mais aceleradamente do que E, o que levaria a maior produtividade com maior volume de emprego. Mas isto é proibido de ocorrer quando a demanda é cadente.

Agora, esqueçamos este troço de demanda cadente e pensemos no que pode acontecer com a Embraer se ela retiver trabalhadores redundantes? O argumento inteiro requer mais espaço do que posso dedicar aqui, pelo menos à velocidade com que me movo na galáxia. Sua linha básica é:
.a. os spectacular awards schumpeterianos para o empresário inovador mudaram para a empresa inovadora (na linha de Michael Best)
.b. estes awards caberão aos trabalhadores que ficam na empresa, caso esta siga capturando certos montantes de MV (estoque de moeda vezes sua velocidade de circulação, ergo PIB)
.c. tentando subornar o povo, estes criarão "empresas pets", em que meninos de rua, alcoólatras, ladrões e outros entes serão reciclados, ou pelo menos darão empregos a profissionais da saúde, barbeiros etc..
.d. as "empresas pets" transformar-se-ão -in due time- em promotoras de países pets. Ou seja, vislumbro o dia glorioso em que os funcionários da Nestlé adotarão um país como Zâmbia, os da McDonalds adotarão a Bolívia, os paulistas adotarão os são-borjenses, e assim por diante.
.e. teremos paz, acabaremos com o terrorismo, com os desequilíbrios ambientais, com a imbecilidade, e assim por diante.

É ou não é?
DdAB

3 comentários:

Unknown disse...

Estimado professor Bêrni: frente às graves questões que o Sr. levanta, meu comentário irá parecer, no mínimo, frívolo - ou "alienado", como se costumava dizer nos anos 70. Mas não resisti à tentação de contar-lhe que, recentemente, voei num desse jatos da Embratel - não no luxuoso (luxuriante?)e exportável modelo 190, mas num 195, o qual, embora desprovido das suntuosidades do primeiro, oferece algumas vantagens que estavam em falta no cenario da aviação nacional: é confortável, seguro e econômico. Isso - claro! - segundo informações da própria companhia - no caso, Azul Linhas Aéreas- em cujo site se lê:
- o 195 opera com HUDs (Head Up Display) duplos, para ambos os pilotos, em 100% da frota; conta EFB – Electronic Flight Bag (dispositivos eletrônicos de controle dos documentos, papéis, relatórios de cálculos e demais funções da administração de vôo);
e tem poltronas dispostas em quatro assentos por fileira, posicionados dois-a-dois, maior distância entre as fileiras, etc. Pode ser coincidência, mas bastou o comandante dizer "tenhamos todos uma boa viagem" e ultrapassasse umas breves turbulências (inevitáveis, quando a gente quer elevar-se), para que o céu se apresentasse dividido entre um azul infinito (acima) e (abaixo)um colchão de nuvens, tão compacto e fofo que dava vontade de despencar sobre ele. Voei "em azul"!
Na descida, as mesmas turbulências, agora acompanhando a aproximação ao solo firme, ao chão sobre o qual transcorre a vidinha nossa de cada dia.
Fim de vôo.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Gente!
o sr. ellahe tem sempre um ângulo para observar minhas postagens que chego a pensar que o levo a pensar... esta imagem do enfrentamento de turbulências na busca de trajetórias ascendentes é magistral, razão que me levará, doravante, a dar-lhe o tratamento de professor, caro prof. ellahe. ou sej trata de uma gatinha?
DdAB

Unknown disse...

Prof. D.: por favor, trate-me pelo (pseudo)nome, simplesmente. Gosto dele e cai bem ao meu personagem.
Sr. ou Sra., Profe ou Profa, Gatão, Gatinha ou Gata Velha - qualquer identificação me dificultaria pensar os acomentários que seu blog me leva a pensar.