15 janeiro, 2009

DeLong e a Primeira Mudança de Consenso

Querido Mr. Blogger Man:
Quem não sabia o que é um banco central passou a conhecer os esteios da política monetária ao contemplar esta vara esbranquiçada em primeiro plano da foto que nos ilustra nesta noite. Segue-a uma árvore (ou diria melhor, um arbustão) e, imponente, o prédio de concreto-e-vidro do próprio responsável pela oferta monetária de uma economia. Ou seja, que é banco central? Um prédio em Brasília antecedido por árvores e um esteio branco.

Dias atrás, andei falando que, em minha visão contábil do funcionamento do mundo, a oferta monetária M multiplicada pela razão entre a velocidade de circulação do dinheiro e o índice que mede o nível geral de preços V/P é igual a Y, ou seja, o valor adicionado pelo esforço produtivo da ação societária. Quer dizer, pode ser que a luta de classes explique coisas, mas seu próprio nível estaria sendo determinado pelo nível da oferta monetária. Ou seja, pelo Banco Central.

Neste caso, chegamos a Bradford DeLong, seguindo a postagem que fiz aos 13/jan/2009:

Hoje em dia, a política econômica de curto prazo não pode somente ser deixada sozinha com o Banco Central. Entre outras coisas, seu balanço não é suficientemente grande. Pelo menos, os bancos centrais precisam agora a ajuda do poder estatal para impor impostos e empréstimos.

Ou seja, onde digo digo digo desdigo, não é isto? Primeiro, se hoje em dia a política econômica não pode ser deixada ao Banco Central, houve dia em que já pôde. Agora, cá entre nós, este troço de "seu balanço não é suficientemente grande" parece-me ser um erro de tradução, e não consigo atinar com o possível significado. Talvez "balance" por "equilíbrio", mas não há equilíbrio grande ou pequeno. O que há é que o Banco Central não precisa ter um pila ($$$) de sua propriedade e pode agarrar, via encaixes bancários, empréstimos compulsórios dos bancos comerciais, e tudo o mais para ser tão grande quanto lhe permita, digamos, a NAIRU (non-accelerating inflation rate of unemployment) ou, o que é a mesma coisa, o produto potencial. Se a economia tem recursos (basicamente capital) para crescer, digamos, 5%, tentar elevar a oferta monetária, baixando os juros, sei lá, para obter um PIB 10% maior levará, digamos, a uma inflação de 5% (mais o termo interativo 0,05 x 0,05 x 100).

Ademais, que quererá ele dizer com "impor impostos e empréstimos"? Claro que os impostos são, como sugere de maneira sutil o nome, não são voluntários... Mas não podem ser impostos pelo Banco Central. Numa sociedade civilizada, ou seja, não mais estamos falando no Brasil, quem impõe impostos é os deputado. No taxation without representation, teria dito o motorista de táxi da confluência das ruas Múcio e Botafogo. Claro, por outro lado, que a cedência de empréstimos por parte do Banco Central aos bancos comerciais, que criam o dinheiro M.

Em resumo, tá na cara que o Banco Central não pode ser controlado por ladrões, como o é o Brasil de alto a baixo. Um banco central independente não deve ser emasculado de sua capacidade de controlar o nível de M, a oferta monetária, e -como tal- o nível de Y, o valor adicionado, value measured in price terms. Agora, pensar que ele pode cobrar impostos, mesmo que seja o popular IOF brasileiro, já é exorbitar na faculdade de destilarmos pensamentos, como o fígado secreta a bile, parece que era isto o que o Anatomista da Alma Humana Mr. Marx ter-se-ia expressado.

O motorista de táxi achou um tanto confuso o trecho de DeLong, sugerindo que o meu também o é, o que me fez-me sentir genial, um verdadeiro professor da UC-Berkeley, o bispo idealista, como sabemos.

Beijos do
Prof. DdAB
(um monetarista a serviço do igualitarismo)

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