27 dezembro, 2008

Infinitos, com e sem caos

My sweet Blog:
Verás que andei pensando e falando sobre teoria do caos determinístico. Mas esta imagem é editada de sei lá que equação, mas já a conhecia, se não à equação, pelo menos a uma figura assemelhada: um padrão que se repete infinitamente para o grande e para o pequeno. Seja como for, decidi postar o que segue, Borgeanas, claro.

Como sabemos, estou lendo o volume I das obras completas de JLB. Como sabemos, JLB é Jorge Luiz Borges, o escritor argentino (ensaísta e ficcionista). Como sabemos, claro que sabemos tudo isto. Dentro do volume I, há vários voluminhos, como é fácil de depreender, pois as obras completas recoletam obras incompletas, quer dizer, obras completadas em tempos diferentes, de extensões diversas e reunidas para a completude da obra, um troço destes.

Há dias, ficou provado que fiquei muito emocionado com o conto 'Hombre de la Esquina Rosada", que é do livro "História Universal da Infâmia". Agora, estou lendo coisas de "História da Eternidade". Do "Hombre de la Esquina Rosada" fica minha homenagem para SVB, que decifrou a expressão "litoraneo" do livro de histórias de tangos (que terá inspirado, como a posteridade conjeturará, o próprio nome de nosso show). Ou seja, o Litorâneo que disse: “Mui bien, Rosendo” e que ouviu “Se lo dedico, señor”, ao que a Sra. Maria Abispada teria dito: “Lo vas a llamar de ‘Entrerriano’”, homegeando seu cliente e enquadrando Rosendo-Compositor como seu serviçal, o.s.l.t..

Do Rosendo da Esquina Rosada ainda não tenho conformação para a hipótese de que "esquina rosada" quereria dizer apenas "cara/face envergonhada". Agora que já sei onde estão os dicionários de espanhol, lunfardo etc., preciso investigar que diabos é "esquina". Meu dicionarinho não vai além do convencional: "espacio del universo donde se cruçam 2 ruas". Ok, o portunhol não me deixou ir muito longe... Mas o melhor amigo do homem é que não está para brincadeiras.

E hoje? A bola da vez foi o texto "La doctrina de los ciclos", que é o quarto ensaio do livro de 1936, do volume 1 das Obras Completas. Borges estava embebido (melhor o significado em inglês) com idéias quânticas e mesmo da nova Matemática que emergia por aquela época e umas décadas anteriores. Borges cita George Cantor, a física einsteniana e Bertrand Russell. Como sabemos, o grande pacifista britânico foi um dos defensores do bombardeamento preventivo da União Soviética, antes que essa entrasse na era nuclear e uma guerra destruísse o planeta e, principalmente, o carrefour da Russell Square, sei lá. Talvez ele nada haja dito e a Russel Square com seu afamado museu nem o preocupasse...

Li em outra fonte (creio que Roger Penrose) que Cantor é um dos pais da matemática-lógica de hoje em dia. E que ele entendeu algo extraordinário sobre números e, como disse a também matemática (acumula quilos) Sra. Mercedes Sosa, sobre el cerebro humano.

Exemplifico com o que se leria em Borges:
al 1 corresponde el 2
al 3 corresponde el 4
al 5 corresponde el 6, etcétera.
E, pulando um passo:
al 1 corresponde el 3018 (ou seja, um número escolhido a seu/borgeano bel prazer)
al 2 corresponde el 3018^2, el 9.108.324
al 3, etcétera.
E, menos literal: entre o 0 e o 1, há o 1/2,
mas entre o 1/2 e o 1, há o 51/100,
entre o 51/100 e o 1 há o 101/200, etcétera, de sorte que estamos cada vez mais perto de 1, mas cada vez fica mais claro que não o alcançaremos nunca.

Passo à conclusão intermediária. Se, entre 1 e 100, há 100 números naturais, entre 1 e 2 haverá também 100 números decimais da forma 1,01, 1,02, ..., 1,99 e 2,00. Mas haverá uma quantidade maior de números, caso desejemos preencher o espaço entre 1 e 2 com cifras do porte de 1,001, 1,002, 1,003, ... 1,01, ... 1,1, 1,2 etc.. Isto estará significando que, se é que era Penrose mesmo, se é que era eu mesmo, se é que entendi Penrose corretamente, se é que Cantor disse isto mesmo etc.. haverá infinitos tamanhos de infinito. A distância entre dois números naturais é zero, mas haverá mais números reais do que, por exemplo, naturais ou racionais. Claro, pois -entre 1 e 2 há dois naturais, mas 10 racionais decimalizados (os 1,1, 1,2 etc.), bilhões de números como 1,0000000009, e assim por diante.

Este último contexto, ele -Borges- já usara para falar -creio que já falei- de Aquiles e da Tartaruga. Se bem lembro agora, aprendi apenas há dias com ele -Borges- que o sofisma (Achyles não alcançar a tartaruga que ganhou 10 metros de vantagem na partida) localiza-se na indução a que somos levados pelo contexto de confundir a expansão infinita de um número, sem alcançar jamais um maior do que ele, com a divisão do espaço territorial. Naturalmente, isto implica que devemos apoiar o Projeto Pontal, também objeto de postagem antiga, não é isto?

Volto ao Borges da "História da Eternidade". Dizia, ou pensava dizer, que o primeiro ensaio realmente interessante é "La Doctrina de los Ciclos". Mais importante, ela evoca o que andei falando sobre "fases", expressão que expressa a passagem do tempo sobre qualquer fenômeno contingente, como a duração de uma dentadura ou mesmo de um sorriso. Neste caso, podemos concluir que o show que ora organizo com SVB terá passado por algumas fases bem distintas, todas indistinguíveis do todo-show propriamente.

Entendo que Borges está discutindo o conceito de "eterno retorno" nietzschieano. Diz que Nietzsche não teria dado créditos a milhares de outros que o teriam precedido nesta sacada (parece que B. também jogava squash com seu colega A., Berni+Adalmir? Bah!). Entre os milhares, cita Platão e o "ano platônico". Depois, Lucilio Vanini em 1616, Thomas Browne, em 1643, Le Bon (parece ser um físico, de quem guardo apagada memória, mas não vou checar), e (Louis) Blanqui (o socialista francês, 'el comunista', como diz o direitista argentino). Faz Blanqui rimar com Demócrito, avança para David Hume, vai a Bertrand Russell. Já me cansei de olhar novamente, mas tenho sublinhados em Braham, Hesíodo,Heráclito, Crisipo, Virgili, Shelley, Fransis Bacon e Uspenski, Gerlad Heard, Spengler, e Poe, e Marco Aurelio. Isto até a p.394, onde parei e faltam-me a 395 e quatro linhas na 396 para encerrar a leitura. E eu já vou citando Milan Kundera, de quem gosto, especialmente de um livro de ensaios que comprei numa livraria de alguma cidade de algum planeta, talvez a Terra, talvez Porto Alegre, mas não me sensibilizo nem -menos ainda- responsabilizo.

Ou seja, estes dois ensaios são espantosamente coerentes com a época e a fase do desenvolvimento intelectual de Borges. Já falei que defendi minha tese doutoral com 47 anos, a idade que o século tinha quando eu nasci. E agora vejo que comecei a ler um autor que escreveu quando o século tinha a idade que eu tinha quando comecei a preocupar-me com este tipo de coisa. AAMN e OMFL (como já referi num papelzinho que deixei escondido numa carteira da Sala 413 do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, quando prestei concurso para fiscal de adesão do município à sociedade justa) tiveram papel fundamental, mas outros também (RM e BRZdA, por exemplo). Trata-se dos anos 1983-85, algo assim. Minhas leituras foram, creio, Umberto Eco (Viagem na Irrealidade Cotidiana), Ernest Jones (Freud, uma hagiografia...) e outros milhares cujo nome foge-me comme le mêmme desmame (que o inferno não me inflame, pois esta foi infame...).

A conclusão final e inarredável é que é bom parar por aqui.
DdAB

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