04 novembro, 2008

Aritmética de Perseu


Querido Blog:
Temos um dia lindo no Porto dos Alegres. Nas últimas 24h, envelheci precisamente 24h, como mais ou menos ocorria com o Sr. Funes, de boa memória. Percebo, atônito, que isto sempre acontece comigo, a saber, sempre que vou contar les derniers evenéments de la journée, despendo -para fazê-lo, dizê-lo, escrevê-lo, um novelo- precisamente 24h. Um dia, exagerei nos detalhes das cores e sons e gastei 45min a mais, precisamente todo o segundo tempo do jogo do Grêmio.
Acordei evocativo, não sem bem de quê (ou melhor, bem-o-sei), o fato é que decidi associar Perseu com aritmética política. Como sabe o leitor invocado, "Political aritmeticks" é o título do impagável livro de William Petty. Depois falarei sobre a aritmética, pois preciso explicar a equação
I + S = H,
onde I é o indivíduo, S é a sociedade que o abriga e H é a história.
Ameaçado de cadeia que fui, declarei ao delegado não saber que amor é crime, que filosofia política é pecado. Ou melhor, nada é bem assim, por isto gasto tanto tempo para qualificar tudo o que me acontece a cada 24 horas. A única proposição passível de prova dos nove é que começo a intuir o que é história. Isto levou-me a colocar no (enorme) armário de leituras da semana o livro de E. J. Carr, um penguinzinho mirradinho como quê.
Pois bem, tentando incentivar o congraçamento cultural Brasil-Alemanha, vou tomar a liberdade de citar o Prof. Karl Marx traduzido para o inglês pelo Mr. Penguin (p.91 do V.1 do simpático bichinho que ainda veio a criar o maior sistema de software livre desde a impressão da palavra "comunismo" em livros de arte): "Perseus wore a magic cap so that the monsters he hunted down might not see him." O Sr. Adalberto de Avila, ou melhor, uma dupla carimbadíssima de praticantes da ciência econômica, tomou (ou devia eu dizer "tomaram"?) a liberdade de traduzir como: "Perseu usava um gorro mágico de modo que os monstros que caçava não pudessem vê-lo."
Muito pensei sobre "cap" e "gorro" e vou neste preciso instante ver o que diz o Sr. Leonel Vallandro (Globo, 1954) a respeito de sua primeira acepção: "Touca de mulher ou de criança; boné; gorro; barrete; chapéu cardinalício; borla (barrete acadêmico) [...]." Meu Webster de R$ 3,00 diz: "a close-fitting covering for the head, usu. of soft, supple material and having no brim but sometimes having a visor." Em outras palavras, soubesse eu alemão (coisa que nosso 'Alemão da Mata' bem sabe, como também lá o sabia 'O Mouro'), traduziria este troço por "elmo", ou fosse eu o velho Reginaldo Sant'Anna, hipótese -como sabemos- descartada por minha certidão de nascimento.
Desta tradução decorreu, naturalmente, a necessidade categórica de buscar a ilustração que, como não poderia deixar de ser, ilustra a postagem que agora vemos. Sua fonte é:
http://www.jasonink.net/blog/?p=22.
Dissera eu "pois bem" acima? Pois bem, agora passemos ao segundo assunto desta radiosa manhã novembrina, de catamarãs róseos e naves amarelas, ou melhor, ipês e jacarandás. Se eu disser que C = J e N = I, chamando C de catamarã, J de jacarandá, N de naves espaciais e I de ipê, crio uma confusão dos diabos nos ternos anais da matemática, da botânica, da astronáutica e do espectro do Sr. Isaac Newton...
Melhor dedicar-me à equação
I + S = H,
onde -repito- I é o indivíduo, S é a sociedade que o abriga e H é a história. Ou seja, como diriam William Petty, Karl Marx, Richard Rorty, Jürgen Habermas e qualquer um que quisesse dizer isto em inglês, num "just like that", o I de indivíduo transmutara-se em I de ipê, mas volta, em outro "just like that", a ser I, de indivíduo, mesmo.
Disto decorre, necessariamente, a seguinte drágea de filosofia. O fato é que também pensei que alguns gramas de filosofia política não seriam despidos de proveito num bloco "like this", como diriam atônitos os rapazes a que me estou referindo, inclusive Perseu, que aparentemente não era rapaz mas apenas um individual killer. Nossa equação descreve a trajetória de imersão do indivíduo na sociedade. O indivíduo vê o mundo a partir de um véu, como Perseus, diria Adalberto. A sociedade, como Perseu, não é persebida pelo indivíduo, que é -por definição- auto-centrado. Todavia, ao aculturar-se e, com isto, desvendar a presença dos indivíduos B, C, D, ..., etc., o indivíduo A passa a exercer -conjuntamente com eles- controles sociais, o que já faz com que os indivíduos da nova geração tornem-se mais sociais.
Obviamente, não tenho a menor noção do que isto significa, mas intuo que haverá algo apontando para a importância do igualitarismo. Prolonguei-me?
bjus
d.

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